Entre Dobraduras de Papel

Série Origami Moderno:

Apresentamos abaixo, uma transcrição livre do documentário Between the Folds sobre Origamistas modernos e o futuro das dobraduras de papel.

BETWEEN THE FOLDS (ENTRE DOBRADURAS DE PAPEL), 2008

Between the Folds, estreou no Independent Lens da PBS em dezembro de 2009, e foi retransmitido na temporada seguinte. Recebeu um Prêmio Peabody em 2010. “Entre as Dobras” foi traduzido para mais de dez idiomas e transmitido em dezenas de países, em redes incluindo NHK, CBC, ABC, EBS, NRK, SF, SVT, Al Jazeera e Al Hurra. Foi exibido em mais de 45 festivais internacionais de cinema e foi reconhecido com inúmeros prêmios de público e júri.

Between the Folds narra as histórias de dez incríveis artistas e intrépidos cientistas teóricos que abandonaram carreiras e desafiaram diplomas de pós-graduação “suados” — tudo para forjar vidas não convencionais como dobradores de papel modernos.

NARRADOR: Aqui estão algumas histórias que você não vai acreditar, a menos que você as veja por si mesmo. Vê-las se desdobrarem. Esta é uma daquelas histórias que se dobra e se desdobra. Veja o que quero dizer, a seguir, em (I)ndependent lens.

Este programa é possível graças à Corporação de Radiodifusão Pública e pelas contribuições à sua estação PBS de telespectadores como você. Obrigado.

NARRADOR: Bem-vindo ao (I)ndependent Lens. Sou sua apresentadora Maggie Gyllenhaal. O que é preciso para transformar um pequeno pedaço de papel, nisso? Mesmo que você nunca tenha dominado a criação de aviões de papel, é possível triunfar nesta forma de arte. Quadrados de papel dobráveis transformarão você e o mundo ao seu redor.

Porquinho “Wilbur”, Michael G. Lafosse.

MICHAEL G. LAFOSSE: Sem corte, sem cola, sem fita adesiva, Origami é uma forma de arte metamórfica. No Origami, você tem esse pedaço de papel. E você não adiciona nada a ele, você não tira nada dele, você o transforma.

Borboletas, Michael G. Lafosse.

NARRADOR: Depois de abandonar seu antigo trabalho de produtora independente, Vanessa Gould sentiu uma profunda ressonância com aqueles que haviam forjado carreiras improváveis como dobradores de papel modernos – os origamistas. Um matemático teórico. Um cientista intrépido. E oito outros artistas que transformam duas dimensões em três. Em nosso mundo moderno, cheio de tecnologias chamativas, e sempre em rápido movimento, qual é o fascínio interminável de um pedaço quadrado de papel. Between The Folds (Entre Dobraduras), a seguir, em (I)ndependent Lens.

ABERTURA

GRANDE PARTE DA BELEZA QUE SURGE NA ARTE VEM DA LUTA QUE UM ARTISTA TRAVA COM SEU MEIO LIMITADO. – Henri Matisse.

Paul Jackson.

PAUL JACKSON: Se você olhar em volta de um quarto ou para fora da janela, e listar quantas coisas dobram… Então, as coisas óbvias são esse suéter, a minha camisa, a gola dobrada, a pele, aqui está meu olho (pálpebra). Se eu falar com você ou com a câmera, então o ar está “dobrando” (vibrando), a vibração está indo até seu ouvido. Até a Galáxia é uma espécie de redemoinho e, você sabe, dobrando-se sobre as eras conforme ela gira ao redor (de seu centro). Isso parece montanhas e vales pela razão que montanhas e vales passam pelo mesmo processo. Até o DNA está “dobrado”, você e eu nascemos da dobradura.

NARRADOR: O que você vê, quando você olha para um pedaço de papel? Para a maioria de nós, vemos números, fotos, palavras, talvez uma boa história, se tivermos sorte. Diz-se que quando Michelangelo estava diante de um bloco de mármore, ele já podia ver sua estátua “esperando” dentro da pedra. Alguns podem até dizer que estava lá o tempo todo. De certa forma, a mesma ideia pode descrever os Origamistas, dobradores de papel. Pessoas que olham para o papel e veem a criação de quase tudo o que podem sonhar de apenas um único quadrado. São escultores e cientistas trabalhando nas sombras, entre arte e matemática, como alquimistas trazendo beleza ao mundano.

Robert J. Lang.

ROBERT J. LANG: Eu acho que, no fundo do coração, uma das coisas que nos torna humanos – o que é nossa força e nossa fraqueza – é a necessidade de mudar as coisas. Isto também está no âmago do apelo do Origami explorando aquela surpreendente magia do quanto você pode modificar esse quadrado, apenas dobrando.

NARRADOR: As regras são simples e intensificam o desafio de transformar o quadrado, dobrando: sem tesoura, sem fita adesiva, sem cola.

GREEN FUSE FILMS apresenta BETWEEN THE FOLDS.

Um documentário de Vanessa Gould. Produção Executiva: Sally Rosenthal. Roteiro Original: Gil Talmi.

O ARTESÃO

… Então, derramo o preto na água… (cena de produção artesanal de papel). [fundo]

NARRADOR: Este é Michael G. Lafosse,  há mais de 30 anos ele vem criando e produzindo papel para alguns dos melhores Origamistas do mundo.

… fibras de preto… [fundo]

NARRADOR: Como químicos, Lafosse e seu colega Richard L. Alexander batem abacá (Musa textilis) e algodão para fabricar a polpa, juntamente com pigmentos de cores brilhantes. Quando Michaels não está fazendo papel, ele está na outra metade de seu estúdio, dobrando-o, criando seus próprios animais selvagens e pássaros.

MICHAEL G. LAFOSSE: O primeiro lote de papel que eu fiz, eu estava um pouco impaciente para começar a usá-lo, então eu tirei-o da secadoras muito cedo, e ainda estava um pouco úmido. Mas eu não podia esperar, e eu comecei a dobrá-lo, e então, eu descobri que era capaz de fazer essas belas formas “macias”.

NARRADOR: Michael é um dos poucos artistas do Origami no mundo que também faz o próprio material (papel).

MICHAEL LAFOSSE: Estamos fazendo papel de cor preta de um lado e amarela do outro, porque estamos fazendo um tucano de papel. O papel vai ser responsável de eu ser capaz de colocar a expressão certa lá, ou não. Então, por exemplo, se vai ser um animal bastante complexo com muitas camadas e pernas muito finas, eu vou fazer um papel muito fino e forte e se é algo como Wilbur (porco), eu quero um papel mais macio.

Sem corte, sem cola, sem fita adesiva. Origami é uma forma de arte metamórfica… escultura e pintura.

Quando você está adicionando tinta à tela ou adicionando argila e soldando coisas juntos, isso é um processo aditivo. Quando você está cortando madeira e pedra ou cortando papel, isso é  subtrativo. Em Origami, você tem aquele pedaço de papel e você não adiciona nada a ele, você não tira nada dele, você o modifica, o transforma…

(…) Oh, isso está ótimo. Isso fará lindas flores e borboletas. [fundo]

Ah, rapaz, estou ansioso para dobrar isso… [tirando uma folha de papel da secadora]

Tucano, Michael G. Lafosse.

NARRADOR: Há milhares de quilômetros, do outro lado do Atlântico, em uma pequena fazenda nos arredores de Paris, o bom amigo de Michael, ERIC JOISEL, dobra papéis em sua mesa de cozinha. Eric gosta de ir devagar, parar muitas vezes, tomar um café e deixar suas ideias “ferverem” em sua mente.

ERIC JOISEL: – Eu estou vendo isso?; – Sim, é isso mesmo!

O ARTISTA

ERIC JOISEL: Oh, agora, eu quero produzir um rosto humano, onde isso e isto poderiam ser os dois olhos, no início do nariz. Então, vamos continuar com algumas várias tentativas, só para ver. Oh, aí está! Eu preciso gerar o fundo do nariz, essas duas para dentro, uma dobra reversa. Para quem pratica dobraduras de papel, isso é muito fácil… E, então, você consegue, sim?!

O mais importante é dar vida, fazer o papel respirar.

O Origami era tão extraordinário. Então, tão mágico que parei completamente qualquer tipo de escultura que já fiz antes. Eu joguei fora tudo que eu achava antes e sem ter nada em mente, eu comecei de novo. É realmente muito louco e eu costumo refletir, quando é possível que eu, com meu pequeno cérebro, possa refletir, por que eu escolhi o Origami. Eu sou definitivamente uma grande bagunça a ser resolvida ou um homem louco. Mas, claro, sou francês.

Eric Joisel.

NARRADOR: Nos últimos anos, Eric tem passado cada vez mais tempo dobrando pessoas, seus rostos e formas em um estilo quase caricatural.

ERIC JOISEL: Aqui, você tem um violinista  e os dois cantos aqui devem se tornar dois sapatos ou dois pés. E aqui, porque eu quero cinco dedos, eu preciso de oito pregas como essas e porque eu quero um chapéu longo, eu preciso desta forma com detalhes do rosto. Então, este é o “ID” básico e, depois disso, você dobra e obtém algo assim. Então, agora, eu tenho a base – a verdadeira parte do trabalho Origami está completamente encerrada agora. Depois disso, você pode obter, supondo, este modelo que é exatamente o mesmo, apenas modelando. E bem, isso é desafiador por diferentes razões, porque como você pode ver no padrão de vincos no centro do quadrado, tornou-se o rosto, de modo que, é claro, isso não é realmente fácil, especialmente se você trabalhar no tridimensional. Isto está totalmente fechado, então, é muito difícil, mesmo para mim. É difícil ser capaz de produzir uma cópia.

NARRATOR: Eric nunca cria a mesma peça duas vezes, improvisando de uma forma que ele compara ao jazz.

ERIC JOISEL: Modelar é isso – e levei 30 anos – e ensinar isso a outra pessoa, é ensinar 30 anos da minha vida.

NARRADOR: Mas a maioria dos Origamis é menos jazz e mais como uma sonata ou uma fuga, repetitiva e compartilhada com outros através de diagramas que, em seguida, podem trazê-lo à vida mais uma vez. E, em todo o mundo, as pessoas fazem exatamente isso. Reúnem-se para ensinar e aprender novos modelos e ver o que designers como Robert Lang  estão fazendo. Robert é um mestre dos detalhes, detalhes surpreendentes.

… estamos no colapso… Você consegue ver isso?… (fundo)

… meio molhado… (fundo)

NARRADOR: Por décadas, Lang tem criado Origamis tão técnicos que mesmo com instruções detalhadas, só os dedos mais ágeis conseguem realmente dobrá-los.

… um lado é mais alto que o outro… [fundo]

O ENGENHEIRO

ROBERT LANG: Origami foi uma paixão ao longo dos anos como físico, mas a ideia de que você poderia ter uma carreira de sucesso, uma formação na Universidade Caltech, dois diplomas Caltech, e jogá-los fora, e para quê? Para dobrar papel, para manipular, você sabe, pequenos pedaços de papel. Parecia que você saberia o que a maioria das pessoas no mundo ouvindo que eu iria fazer isso, apenas diriam “Você está ficando louco!”.

Mas eu estou vivendo a maior diversão de minha vida.

[Clipe com trecho da Música The Compromise, Banda “The Format”. Nettwerk Records.]

  • You, You think it’s cool to be crazy
  • I say you’re born rich.
  • Stay rich.
  • There’s no point in taking chances
  • And me? …

ROBERT LANG: A maioria das reações é: “Isso é incrível!” “Isso é tão incrível!” “Não fazia ideia de que isso era possível!”

Eu tento ser bastante realista. Normalmente, isso significa que se for um inseto com pernas longas e magras, quero que tenha pernas longas e magras. Se for um pássaro, quero que tenha as proporções e a forma. Agora, para alcançar esse realismo, isso não vem por acaso. Você não acha isso por tentativa e erro. Você tem que trabalhar muito duro para obter esses detalhes e, então, eu uso ideias matemáticas e geométricas para alcançar este objetivo de uma bela forma de “lua cheia”.

NARRADOR: Robert leva a analogia à música ainda mais longe para ajudar a falar sobre seu trabalho. Até nomes das peças como números opus.

ROBERT LANG: O que você pode realizar é fortemente regido por leis matemáticas, como a música, as relações harmônicas entre as notas e ritmos, e em Origami – as leis do papel.

NARRADOR: Um quadrado. Três origamistas (dobradores de papel) diferentes. Cada um olhou para trás, para o lugar de onde veio algumas de suas primeiras inspirações.

  • Michael Lafosse: – Yoshizawa!
  • Eric Joisel: – Yoshizawa!
  • Robert Lang: – Yoshizawa sensei!
Sensei Akira Yoshizawa.

O PAI

NARRADOR: O papel se tornou escultura pela primeira vez nas mãos de um único homem no Japão. Um homem autodidata, à frente do seu tempo. Akira Yoshizawa abandonou um trabalho de fábrica para dedicar sua vida a interpretar o mundo em papel. As crianças fizeram Origami durante séculos, fazendo animais simples e brinquedos de formas básicas. Mas, Yoshizawa encontrou uma maneira de fazer o papel ganhar vida. Às vezes, o trabalho dele até parece que está prestes a respirar.

Cisne Yoshizawa.

AKIRA YOSHIZAWA (1911 – 2005). (Filme de arquivo).

Todos os Origamis começam com uma superfície plana. À medida que essa superfície se transforma em três dimensões, o Origami tem dentro dele todas as possibilidades, o que nós associamos à arte criativa. Akira Yoshizawa.

NARRADOR: Yoshizawa foi o primeiro a manter seu papel úmido, enquanto trabalhava – uma maneira de esculpir papel, chamada hoje de dobradura úmida. E ele inventou o sistema de diagramação, usando apenas imagens, vistas em livros de Origami desde então. Ao longo de sua vida, Yoshizawa criou mais de 50.000 modelos e, no entanto, ele nunca vendeu uma única peça. Em vez disso, ele pagava suas despesas com trabalhos estranhos e até vendendo sopa de porta em porta. Mais do que qualquer outra coisa, ele simplesmente queria ver o Origami reconhecido como Arte e compartilhar seu amor pela dobradura de papel com os outros.

Modelos de Akira Yoshizawa.
Modelos de Akira Yoshizawa.

ROBERT LANG: E voltando aos anos 50 e 60, poucas pessoas sabiam alguma dobradura, além de um simples pássaro. Com Yoshizawa, as suas sementes caíram em solo fértil. Uma medida muito grosseira da complexidade de um Origami é quantos passos temos que realizar para sua diagramação. Nos anos 60, 30 passos eram a norma. Nos anos 80, você via diagramas que chegaram a 70, 80, 90 passos. Agora, há peças que tomam 200 ou 300 passos. E assim, não me surpreenderia, se em 10 anos, houver um design origami que tenha mil passos para ser todo dobrado, do início ao fim.

Insetos e Artrópodes, Robert Lang.

A GUERRA DOS INSETOS (ARTRÓPODES)

ROBERT LANG: Durante os anos 90, houve uma competição informal mundial que tem sido chamada de Guerra dos Insetos (BUG’S WARS). Uma pessoa dobrava um besouro muito preciso e o levava a uma convenção.

  • “Então, aqui está meu besouro!
  • E as pessoas diziam: “Humm, o que temos aqui. Como posso superar isso?”
  • E assim, no ano seguinte você voltava.
  • “Bem, aqui está minha aranha. Seu besouro tinha seis pernas, mas minha aranha tem oito pernas”.
  • Bem, então, no próximo ano.
  • “Aqui está meu escorpião. Tem oito pernas, mas também tem garras”.

E isso continuou, a cada ano as pessoas tentando superar o origami anterior, ser o próximo “mestre”.

Eu vejo adolescentes que estão projetando seu próprio Origami e eles só estão dobrando há três ou quatro anos. Mas eles ampliaram três décadas da Evolução do Origami. O que essas crianças vão fazer em cinco ou dez anos são coisas que nenhum de nós imagina agora ou mesmo, acha ser possível.

BRIAN CHAN: Este é o selo do MIT. “Mens and manus”. De um lado, este é um “Buck Smith” com seu martelo e bigorna, uma espécie de lado prático da engenharia e, do outro lado, você tem o estudioso com o livro, o lado mais teórico dos engenheiros.

SATOSHI KAMIYA:

Este dragão que eu fiz de uma peça quadrada, sem cortes.

  • “Até onde podemos avançar? Quais são os limites? Quais os limites físicos desta forma de arte?”
  • “Você pode fazer o que quiser”.
  • “As pessoas estão começando a usar terminologia matemática para descrever a dobradura de papel… Algoritmo de computador. Algoritmos… tudo mais complexo”.

ERIC JOISEL: Eu acho que estou com um pouco de medo. Para mim, é um problema como a geração mais jovem vai decidir se esse é nível certo, onde você precisa dizer “Pare!” ao desafio da técnica e do cada vez mais e mais complexo? Isso cria um problema. Então, como exemplo, eu tive a “estúpida” ideia recentemente de ter bolsos aqui e eu me certifico de que não seja para sempre, talvez… Desculpe, sim…  Eu tinha bolsos, é tão fácil ter bolsos com uma torção, mas isso é tão chato e trabalhoso, você sabe. E tinha tantas camadas dentro disso, isso é estúpido. “Você precisa parar”.

Quando parar ou avançar um desafio técnico e complexo?

MICHAEL LAFOSSE: Precisamos de técnica para criar arte e quanto mais tecnicamente você dominar a arte, mais eloquente você poderá ser. Isso é verdade com a escrita, o canto, qualquer coisa, mas isso [as técnicas] são apenas os fundamentos.

ERIC JOISEL: Se a técnica evoluir e ficar cada vez melhor, teremos tais modelos. O problema é que cada vez mais… O ser humano tem o potencial da energia. Se você faz parte dessa energia, e a usa para a técnica pura, você se afasta das coisas emocionais.

ROBERT LANG: Bem, isso pode acontecer, mas essa é uma fase que você só tem que passar. Você pode ter que passar pela fase de “nenhuma emoção” para chegar ao próximo nível que está além. E se eu pudesse oferecer uma analogia, usaria a composição musical. Pessoas ao longo da música criaram estudos que eram apenas exercícios técnicos para exercitar o dedilhar ou para exibir certos padrões musicais. Chopin escreveu uma série de estudos, claro, a palavra francesa para estudo é “melodia” e os Estudos de Chopin são agora consideradas belas obras artísticas e as técnicas que ele demonstrou em seus estudos foram agora incorporadas ao arsenal de compositores musicais e inspiraram algo como um concerto de piano de Rachmaninoff que é fantasticamente técnico e uma música dolorosamente linda. E embora eu não veja os Origamistas ainda como sendo “Rachmaninoffs”, isso é algo que podemos aspirar e podemos seguir esse caminho de explorar uma técnica, desenvolvendo-a em seguida e usando-a como uma ferramenta para criar arte. E, finalmente, arte com incrível conteúdo emocional.

NARRADOR: E parece que esse impulso e puxão de ideias sobre arte ao longo dos séculos, estão todos acontecendo ao mesmo tempo nesta jovem forma de arte, bem diante de nossos olhos.

BERNIE PEYTON (Biólogo de Ursos, Ecologista e Dobrador de Papel):

Peixe, Bernie Peyton.

À medida que fico mais e mais velho, acho que a grande tarefa é colocar mais “terrenos brancos” no meu trabalho, não tocar muitas notas na música, começar a dizer o que eu não quero colocar nesta figura e tentar reduzi-la a apenas algumas linhas e à essência do que aquilo é. E isso é um desafio muito mais difícil para mim do que tentar fazer algo muito mais representacional.

Um dos vários ursos de Bernie Peyton.

MICHAEL LAFOSSE: Eu acho que eu dobro mais simplesmente agora, mais expressivamente do que nunca, mais abstratamente, e eu acho também que muito mais da minha voz emocional aparece no meu trabalho atual, se você comparar ao meu trabalho mais jovem.

ERIC JOISEL: Sim, eu acho que conforme ficar mais e mais velho, eu vou tirar mais a técnica e manter apenas as coisas emocionais com o papel.

O PÓS-MODERNISTA

PAUL JACKSON: O estudo “One Crease” (Um Vinco) começou há mais de 20 anos quando um dos meus estudantes na faculdade onde eu estava lecionando me disse: “Estamos fazendo um monte de dobras, mas o que você pode fazer com apenas uma dobra?” Então, eu disse “bem nada, você só fez uma dobra, mas você precisa fazer outras. Você sabe, continuar a sequência para fazer algo que valha a pena ter”. Mas, então, eu pensei sobre isso e comecei a experimentar um pouco e perceber que realmente você pode fazer muito com uma dobra. Sim, então, normalmente quando você está fazendo Origami, você simplesmente ignora isso e passa para outras coisas. Mas, se você “quebrar” a dobra ao meio, apenas dar um toque e, em seguida, trazer os dois lados juntos e, em seguida, mantê-los assim, você obterá uma forma que é muito complicada, mas que eu acho muito interessante. E usamos apenas uma dobra.

Experiências com apenas um vinco. Paul Jackson.

NARRADOR: Você pode brincar muito com isso para obter todos os tipos de formas interessantes.

PAUL JACKSON: E esta é a lição que eu aprendi com apenas um vinco: de que você não precisa ter um conhecimento muito forte da técnica Origami para ser capaz de fazer algo belo, que você sinta que, de alguma forma, é significativo e interessante.

NARRADOR: Talvez uma segunda lição seja o quão libertador e criativo, ir além dos limites pode ser. Como Picasso que, às vezes, só pintava com uma cor.

Violão Azul, Pablo Picasso.

PAUL JACKSON: Os Origamistas podem realmente não gostar dessas coisas porque novamente você as compara com muitas pessoas que falam sobre a “realidade” de um elefante “sadio” em Origami, você sabe. Parece real? Parece um elefante? Mas é um pedaço de papel e, claro, não pode parecer um elefante, mas  as pessoas medem os detalhes, medem as proporções, ao elefante real para ver se a dobradura é boa ou ruim. E se ele tem pernas muito longas e espinhosas não pode ser um bom elefante. Se ele tem orelhas enormes ou apenas três pernas ou algo assim, não pode ser um “bom” elefante. Os elefantes com quatro pernas são melhores do que os elefantes com três pernas. Isso não é apenas um problema em Origami, também é um problema na pintura, por exemplo, você vê uma pintura de um Mondrian ou algo com “apenas” quadrados coloridos e linhas pretas e isso seria “melhor” do que digamos uma pintura de flores? Para muitas pessoas, não é. E o mesmo ocorre em Origami quando se prefere ver um “bom” Origami elefante.

Um desafio ou ilusão visual: Como fazer isto com uma folha? Paul Jackson.

PAUL JACKSON: Acho que o papel tem um problema. Acho que ele é muito passivo. Eu acho que um monte de Origami parece trivial porque eu acho que um monte de papel parece trivial. Então, o agradável emerge de uma espécie de descoberta de que eu poderia fazer essas dobras plissadas. Eu comecei a brincar (dobrar) um dia, e de alguma forma, isso começou a emergir. Mas o problema com isso, era que pareciam um pouco “fracos” quando ainda eram apenas papel comum. O processo de fazer é o ponto chave disso. O objeto parece “bom”, se o processo for vivenciado como bom. Isso precisa ser uma espécie de balé. E é isso que eu tento fazer com o meu trabalho, para levá-lo a um estágio de “alguma coisa”, porque é sempre onde as coisas interessantes acontecem.

NARRADOR: E como Paul mais origamistas estão trabalhando no limite, indo além do “ISMO” representacional em reinos de padrões de Abstração e do Orgânico. Em uma rua tranquila perto de Chinatown, Chicago, o artista material Chris K. Palmer trabalha longos dias e noites. Com sua cama jogada ao canto e as horas marcadas pelas visitas dos esquilos locais. Anos atrás, Chris visitou Castelos de Granada e se apaixonou pelos intrincados padrões geométricos do Complexo de Alhambra, enquanto eles se deslocavam à sua frente. E, desde então, Chris tem feito padrões em papel que se modificam e transformam com movimento e luz.

O COREÓGRAFO

CHRIS K. PALMER: Uma composição simples é como um tipo de estrela, tão simples como uma melodia simples. Um pouco de estrutura, muita coisa acontecendo, pode ser muito elegante e agradável, mas simples. Então, como no mundo dos padrões, uma malha hexagonal ou uma malha triangular. É como aquelas melodias simples. Há algo sobre o plano e que haja apenas algumas maneiras de você empurrá-lo e puxá-lo ao redor do espaço, e que essa restrição é bastante diferente de outros meios. Não é uma escultura em madeira ou em pedra ou nós em um tapete que vão parecer como qualquer coisa próxima do que os plissados (vincos) fazem quando expressam uma linha.

Existe uma espécie de caminho que leva você do nada a alguma coisa.

Agora, eu vou virar e fazer de novo. Então, eu tenho que desmontar isso e, então, eu tenho que reorganizar tudo. E isto realmente se parece com “Eu não vou conseguir fazer isso!” de modo que na maioria das vezes até chegar ao fim, eu vou fazendo isso. Só estou pegando e pronto para fazer isso. O engraçado é que sempre parece estranho, como se não fosse funcionar.

Estou dobrando algo sobre algo que já está dobrado e, então, eu estou reorganizando e colocando de volta em uma posição diferente, onde algumas coisas são liberadas para ficarem “presas” dentro. Este é um daqueles momentos quando as pessoas sempre hesitam. Só fica “bom” no final desse processo. Veja o meio deste assento. Você viu toda tensão lá dentro.

Era como “Ahh!” e, depois como “Ok!”.

Você tem que passar por isso e não pode parar no meio disso, porque senão é realmente frustrante.

Essa parte do meio. Não vou desenhar isso tão cedo.

Sim, você tenta se esforçar para que a coisa final fique boa, mas você também está muito ciente de como todo o processo é bonito. As pessoas que visitam uma galeria ou o público, elas estão perdendo dois terços do que é especial sobre esse objeto, e como ele foi feito.

Bom trabalho lá. Está muito bom!

CHRIS K. PALMER: Há muitas formas que eu rejeitei e deixei de lado. Essa não tem uma forma boa o suficiente, e então elas meio que vão para esta pilha. Tenho caixas e caixas de coisas “rejeitadas”.

Há a torre, a flor e as caudas de uma flor que não ficaram perfeitas. Eles são bem regulares por aí. Todos eles têm basicamente a mesma forma, mas o tipo de elemento orgânico que caminha para os modelos. Falando disso, o que é interessante, é que todos esses planos caminham para um plano. Se não houvesse nenhuma dimensão para o papel. Era um plano euclidiano ideal. Isso tudo seria plano e cada um deles, tudo isso. Estes pequenos polígonos amontoados uns nos outros e conectados no plano seriam apenas um plano, mas então ele pode se erguer. Embora não seja bom fazer isso muitas e muitas vezes.

Ele faz separar esses buracos… Sim, tudo bem deixe sua luz brilhar…

O ANARQUISTA

  • – Você não tem poder pulmonar suficiente, tem?
  • – É estranho, não é?
  • – Sim, eu sei. Parece sobrenatural.
  • – Isso está muito bom.
  • – Oh, lá, lá.
  • – Acabou muito bom, não é?

NARRADOR: Este é VINCENT FLODERER. Ele faz parte de um grupo de artistas de vanguarda na França, que abandonou a imposição da ordem. Eles se autodenominam “O CRIMP“. Em vez de dobrar em certas linhas, eles amassam e desamassam o papel livremente.

Do caos, nasce seu trabalho.

Instalando sua arte ao sol, ao vento e à chuva, parece que eles estão nos convidando a considerar a arte, a natureza e a evolução das coisas, talvez, até mesmo o ciclo de vida do próprio papel.

Vicent Floderer, soprando uma forma origami.

NARRADOR: Há alguns anos, um pequeno grupo de cerca de 200 acadêmicos se reúne para discutir Origami. Origamistas de um tipo diferente, seu interesse primário não é fazer algo para olhar, mas dar vida a esta Arte. Eles são físicos, cientistas da computação, biólogos e matemáticos e eles desenvolveram um pequeno grupo internacional de pensadores livres que focam seu trabalho em Origami.

A EDUCADORA E PACIFISTA

NARRADOR: MirI Golan (Israeli Origami Center) desenvolveu um Origami Math Program (Programa de Origami e Matemática) alcançando crianças em todo o país de Israel.

MIRI GOLAN: O Origami  é o trabalho da minha vida. Toda semana, 10.000 crianças estudam e vêm para a área de Geometria e Origami na escola. E temos cerca de 40 professores, árabes e israelenses, que ensinam isso em israel. É muito difícil explicar Geometria, porque é um pouco abstrata para as crianças e o Origami torna a geometria muito mais visual.

As crianças olham e entendem, e são boas em matemática, não precisam de mim, para chegar nela. Mas sempre há, em todas as turmas, crianças para quem é muito difícil para elas entenderem a terceira dimensão e a lógica, e elas falham. E elas são crianças, e isso me mata. E a “Origametria” ajuda as crianças e compreendê-la.

As crianças gostam disso. Elas não pensam sobre a dificuldade ou se a geometria é “chata” em tudo isso. Elas estão apenas dobrando, brincando e sorrindo. E o que isto está fazendo? Está criando felicidade.

FORMAS FUNCIONAIS

TOM HULL: Origami é uma ótima maneira de “colocar as mãos na massa” com Matemática. Você sabe, isto se torna seu laboratório para fazer matemática.

Tom Hull, Merrimack College, Andover, MA, Mathematics Department.

… mas aqui você está obtendo uma curvatura negativa… [fundo]

NARRADOR: Tom Hull é o tipo de professor que todos desejamos ter. Ele faz da matemática algo belo de se ver.

… você só precisa de três cores neste modelo com 81 pequenos pedaços de papel. [fundo]

TOM HULL: Fazer um modelo de Origami é, no fundo, um problema de engenharia, tipo como eu dobro o papel para fazer isso? E assim, as pessoas que estão interessadas em aprender como as coisas funcionam? como o universo funciona? como a natureza funciona? Também estariam interessadas em ver como um pedaço de papel funciona quando você o dobra?

Este é um dos modelos origami mais simples, mas surpreendente. Este é um grande pedaço de papel quadrado e, quando eu estico isso, você pode ver, isso não é nada além de quadrados concêntricos. Este é apenas um grande pedaço de papel e tudo o que eu fiz foi dobrar muitos quadrados concêntricos nele. O incrível é quando você torce ou aperta todos eles. Eles querem formar toda essa superfície geométrica que acreditamos estar representando algo chamado paraboloide hiperbólico, que é algo que você estuda em Cálculo III (superfícies e volumes). Este é um modelo legal. É dobrado de um pedaço de papel, mas parece que de alguma forma, eu peguei o papel e acrescentei mais dele lá. Você sabe que ele pode girar ao redor assim, mas o que é legal é que ele ainda é um modelo plano. Ainda é algo que você pode dobrar e deixar plano, completamente.

Ainda há muitas pessoas, muitos matemáticos, que quando ouvem falar de Matemática Origami, acham que é só matemática recreativa, e que isso não é uma matemática ”séria”.

…Isso é algo chamado espelhar… [fundo]

Lembro-me claramente de ter 10 anos e ter feito Origami por alguns anos e, em algum momento, pegar um modelo de pássaro ou algo que tinha dobrado e desdobrar tudo e olhar para o padrão de vincos no papel e pensar:

– “Uau!” olhe para estas linhas lá. Há algo acontecendo aqui. Há algum padrão. Existem algumas regras. Não sei o que são, mas há algo acontecendo aqui.

E eu sempre pensei “Oh, tem que ser Geometria, mas à medida que você aprende mais matemática você aprende que a Matemática não é apenas este assunto. E que tudo está ligado, e o Origami realmente mostra que você pode fazer de tudo matematicamente, desde Geometria – o que faz sentido – mas, também Teoria de Números e Álgebra abstrata e Álgebra Linear com suas matrizes e geometrias bizarras e estranhas, como a geometria da esfera e coisas assim. Isso, eu acho, os surpreendeu porque não é o que você esperaria.

…e, então, você poderia desejar que, através da quarta dimensão, Ok? [fundo]

Isso não é apenas matemática compartimentalizada; isso é tudo da Matemática que pode ser emaranhado em alguns aspectos estranhos.

NARRADOR: No MIT, em Cambridge, o Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial, fica no campus, como um monumento à forma e função. E aqui, você encontrará Erik Demaine, o maior teórico origamista do mundo e quando ele não está soprando vidro, construindo móveis de livros usados ou desconstruindo o jogo de cartas Uno, ele está encontrando maneiras criativas de usar dobraduras de papel para resolver problemas.

ERIK DEMAINE: Bem, quando comecei meu Doutorado, eu estava trabalhando em uma área chamada Geometria Computacional, que tenta resolver modelos geométricos por computador e eu precisava de alguns problemas para tentar resolver. Ouvi uma conversa sobre os trabalhos de Robert Lang em projetar Origamis com um computador. Eu pensei: “Ah, isso parece muito legal, talvez haja algumas outras construções geométricas a sair do papel, por meio da dobradura”.

NARRADOR: Eric não acha relevante ter começado a faculdade quando tinha apenas 12 anos e conseguido seu PhD aos 20. Ele foi então contratado como o professor mais jovem de todos os tempos no MIT. Dois anos depois, ele ganhou o prêmio MacArthur Genius (2003) por sua pesquisa em Teoria de Computação e Dobraduras.

ERIK DEMAINE: Levei um tempo para perceber como isso é mágico. Eu gosto de chamar isso de Origami auto dobrado  porque você não faz essencialmente nada, você só coloca alguns vincos e então o papel só quer dobrar-se. Quando você coloca um vinco em um pedaço de papel, você está essencialmente mudando a memória nessa peça, tentando desdobrá-la. Ele vai voltar ao ângulo de vinco que eu defini. Eu estou essencialmente mudando a memória do papel, então ao longo daqui o papel está tentando ficar reto e ao longo das dobras, ele está tentando ficar dobrado no ângulo em que eu o vinquei e esta é a física da “mão direita”. Encontre isso você mesmo e faça essas formas muito legais.

NARRADOR: Eric sempre trabalhou em estreita colaboração com seu pai Marty, um escultor, cientista da computação, autodidata e um ávido criador de quebra-cabeças. Marty estudou em casa com Eric porque era pai solteiro, então eles têm feito e refeito quebra-cabeças desde que Eric podia falar. Alguns anos atrás, eles encontraram a solução para um famoso quebra-cabeça da dobradura que intrigou matemáticos e mágicos por décadas. E que também iludiu Marty, quando ele tentou resolvê-lo sozinho.

MARTIN DEMAINE: Eu tinha trabalhado em um problema anos atrás. Era um problema de dobradura e corte, mas eu falhei. Dediquei um monte de horas a este problema, dobrando o papel, cortando-o e abrindo, e chegando a: “Uau, isso é legal, mas sem saber o que significava”.

ERIK DEMAINE: Então, o problema é que você pega um pedaço de papel e o dobra. No entanto, você quer que isso acabe plano, e então você pega sua tesoura e faz um corte reto completo e, em seguida, desdobra os pedaços e a pergunta é: Que formas você pode obter com esse processo? Então, aqui está o exemplo simples aberto desta vez.

Você tem um retângulo de papel. Você pode dobrá-lo; como quiser. Então, dobrado, pegue sua tesoura e faça um corte reto.

E pretendo trabalhar em qualquer coisa que me interesse, que eu ache divertido e interessante, não necessariamente útil ou aplicado. Quero dizer, algumas coisas acabam sendo úteis, mas é uma espécie de acidente ou coincidência, não porque eu estou querendo ser útil. Sou guiado pela matemática, não pelas aplicações.

…veja quais não são… [fundo]

ERIK DEMAINE: No início, não sabíamos o que seria possível, mas então tentamos ultrapassar os limites e finalmente descobrimos que tudo poderia ser feito. Você pode fazer qualquer forma que quiser, você sabe, com os lados retos apenas dobrando e um corte reto. A solução para o problema do bichinho de estimação foi que há realmente um longo processo. Quando você resolve um problema, é incrível, é uma epifania – essa grande excitação – “Uau, nós finalmente resolvemos isso!” Mas, normalmente você está errado, normalmente você não resolveu, mas você sabe que encontrou algo, ok? Imediatamente, você se questiona, certo? Tão esquisito, você por esses breves momentos, “Ah! Acho que conseguimos!” E você sabe que isso é tão bonito.

MARTIN DEMAINE: Qualquer problema que você resolva, uma pesquisa inteligente, qualquer escultura que você construa, você terá essa epifania – este momento que você se sente como um Super-Homem em algum sentido – e você quer dar palavras a esses momentos.

ERIK DEMAINE: Como um matemático, assim que você resolve um problema, você vai para o próximo. Como podemos generalizar isso? Que problema maior podemos resolver, e então, assim continua …

NARRADOR: E à medida que problemas maiores continuaram surgindo, o trabalho de Eric e Marty, junto com outros, como Tom Hall e Robert Lang, chegou a alguns resultados inesperados.

ERIK DEMAINE: Acontece que esse problema de corte do Boltzmann aparece nas pesquisas de Robert Lang. Quero dizer, como as muitas conexões do origami, as dobraduras reais têm conexões com os airbags dobráveis. Ali, você tem algum airbag tridimensional que você dobrar e deixar plano. De modo, que todas as bordas da superfície do airbag colapsem para um plano comum. Este é um problema de fluido dimensional onde você quer tomar todas essas bordas.

ROBERT LANG: Sempre que há uma necessidade na indústria de pegar uma folha plana e, de alguma forma, torná-la menor, há um potencial para o Origami ter uma aplicação. Nos airbags, os designers querem fazer o máximo de design que puderem em simulação de computador, pois a única maneira de testar um airbag de verdade é bater um carro, mas como simular esse processo em um computador? Acontece que há um algoritmo para “achatar” que eles usam, e esse algoritmo veio do design do Origami artístico. Eu não tinha ideia de que haveria uma aplicação prática, mas isso muitas vezes acontece na Ciência. Coisas que foram desenvolvidas por razões matemáticas ou estéticas, então viram-se e ganham uma aplicação real.

NARRADOR: O interesse em Origami também surgiu em Medicina e Biologia, Ciências Naturais e Nanotecnologia e até mesmo no Espaço. Aqui está Robert na frente de uma versão em escala de uma lente de satélite dobrável, que ele projetou para caber em um foguete e, em seguida, se desdobrar ou desenrolar uma vez que esteja em órbita. E Eric recentemente ganhou as manchetes de jornais com seu trabalho sobre a ideia de “dobrar” proteínas humanas para combater certas doenças.

ERIC DEMAINE: Você parece realmente muito próximo de qualquer coisa viva. Você sabe que lá no fundo, há algumas pequenas proteínas correndo por aí e fazendo a vida acontecer. E cada proteína se dobra praticamente em uma forma específica. Normalmente, quando suas proteínas se dobram do modo errado, formando algo que não deveriam se dobrar, você terá alguma doença, como Alzheimer ou Doença da Vaca Louca, ou algo assim. Não sabemos muito sobre esse processo. Nós particularmente não podemos ver isso acontecer. Acontece rápido e acontece num mundo muito pequeno e se você visse acontecer, seria como alguém ir direto à física. Se você assistir isso acontecer, não acontecerá da maneira certa. Então, a esperança é que, desenvolvendo um modelo matemático como este, de como as proteínas podem se dobrar, podemos projetar sinteticamente uma proteína que seja útil, digamos, no mundo dos medicamentos. Talvez essa forma de proteína seja realmente boa porque se ligará e atacará o vírus da AIDS, mas não se ligará ao ser humano. Então, não vai matar o hospedeiro. E assim, se pudermos resolver a dobradura de proteínas, podemos projetar drogas personalizadas que irão combater vírus específicos.

MARTIN DEMAINE: Na ciência, isso é o mais criativo que você pode ser. Somos artistas, quer façamos ciência ou construindo esculturas. Acho que ambos são iguais.

NARRADOR: O que te mantém interessado? O que te faz continuar?

ERIK DEMAINE: É a diversão. Continuo fazendo isso porque é divertido. Acho que não haveria outra razão. Bem, há outras razões, mas eu não faria isso a menos que fosse divertido, a menos que continuasse divertido. E essa é praticamente a minha filosofia de vida. Sim, eu sopro vidro porque é divertido. Eu faço comédia improvisada porque é divertido. Eu dobro papel porque é divertido. Inicialmente, eu fazia isso porque era matemática, e matemática era divertido. Agora, quando eu tenho tempo, dobro papel porque dobrar papel é divertido. Essa é a força motriz. Talvez seja um pouco pessoal, mas acho que todos deveriam fazer algo que achem divertido.

Eric D. Demaine, OrigaMit.

NARRADOR:

No final, parece que artistas e cientistas não são tão diferentes quanto pensamos.

Ambos, criam interpretações do mesmo mundo ao nosso redor.

O mundo que todos compartilhamos.

E, para a maioria, a verdadeira beleza do Origami reside em sua simplicidade, permitindo que todos criem sua interpretação do mundo em papel.

CRÉDITOS

  • Escrito, dirigido e produzido por VANESSA GOULD.
  • Editado por KRISTI BARLOW.
  • Produtor associado ARIEL FRIEDMAN.
  • Cinematografia MELISSA DONOVAN.
  • Cinematografia adicional em Israel PHILIPPE BELLAICHE.
  • Gráficos +SCALE, New York, NY.
  • Fotografia LYNTON GARDINER.
  • Colorista ALEXIS VAN HURKMAN.

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