Mitologias Astronômicas: A Lua

Os mitos, lendas e cosmologias permitem conhecer as diferentes nomenclaturas para os astros celestes, como a Lua.

Conhecer mitos e lendas da Lua nos ajuda a compreender quais foram as explicações mitológicas e mágicas sobre as propriedades, características e fenômenos lunares observados desde nossa origem. E nos permite contar histórias assombrosas, surpreendentes e encantadoras para divulgar o que foi observado em diferentes culturas.

Mas é preciso estar atento a algumas questões durante a leitura e interpretação das histórias.

  • Qual a origem das lendas e mitos? Que observações geraram essas explicações mágicas?
  • Qual a função das lendas e mitos? Que conhecimentos são compartilhados com essas incríveis histórias?

Apresentaremos aqui, três coletâneas de mitos, de origem: grega, romana e tupi-guarani. Não é uma lista completa, mas uma amostra das diferentes explicações e observações naturais realizadas por povos antigos. Esperamos que sejam suficientes para inspirar a pesquisa de outros mitos e lendas em outras culturas.

MITOS DO IMPÉRIO GREGO

O Império Grego reuniu diferentes culturas e possui uma rica diversidade de mitos sobre a Lua.

A Lua (SELENE) é a deusa grega que representa todas as fases da Lua.

  • Selene, vem de selas, significando luz e claridade.
  • É filha dos titãs Hiperion e Téia (deusa da luminosidade), ambos filhos de Urano (deus Céu).
  • Irmã de Hélio (Sol) e de Eos (Aurora).

Mito 1:

Os demais Titãs, movidos pela fúria da inveja, lançaram o belo e feliz Hélio (deus Sol) às água do Rio Erídano. A bela Selene (Lua), ao tomar conhecimento do trágico destino do irmão, suicidou-se. Diante de tanto sofrimento, Téia não acreditava que o filho estivesse morto e pôs-se a procurá-lo, noites e dias seguidos, nas águas negras do Rio Erídano, até que adormeceu fatigada e, em sonho, o Sol apareceu-lhe e pediu-lhe que não chorasse mais, pois agora ele vivia no Olimpo, ao lado de Lua, junto dos imortais.

Ao acordar, ela olhou para o alto e viu seus filhos lá, iluminando tanto o sofrimento como a alegria dos mortais. Assim, todo dia, o Sol acompanha o dia, a Lua acompanha a noite, e sua irmã Eos, a Aurora, vem antes do Sol, anuncia-lo.

Mito 2:

Selene (Lua) viaja através do céu em uma carruagem puxada por bois ou cavalos.

Giovanni Dall’Orto Museu Arqueológico de Milão, 2003.

Teve duas filhas gêmeas com Zeus, Pandeia (deusa do brilho da Lua) e Ersa, ambas representando as faces da Lua.

Segundo o poeta Giovanni Dall’Orto , ela teve quatro filhas com seu irmão Hélio (deus Sol), as Horas, que representam as quatro estações do ano. Eiar (Primavera), Theros (Verão), Phthinoporon (Outono) e Kheimon (Inverno). Mas a quantidade de Horas varia em várias versões de poetas e historiadores.

Mito 3:

Na Arcádia, Selene uniu-se a Pã, que a seduziu, disfarçando-se com uma pele de ovelha e depois a presenteou com um rebanho de bois inteiramente brancos que ela usou para puxar seu carro noturno.

Pan e Selene, Kulturstiftung Dessau-Wörlitz / Heinz Fräßdorf

Com Pã, teve quatro filhos:

  • Victor, a lua crescente,
  • Romera, uma formosa jovem, a lua cheia,
  • Aluzia, a lua minguante.
  • Krinus, a lua nova.

Mito 4:

Com Antifemo ou Eumolpo, Selene teve o filho Museu, um adivinho renomado e grande músico, capaz de curar doentes com sua arte, que foi amigo inseparável, discípulo ou mestre de Orfeu.

Mito 5:

Selene se envolveu com um simples mortal, o jovem, belo e formoso pastor ou caçador ou mesmo um rei (segundo Pausânias), Endimion, com quem teve cinquenta filhos. Segundo Apolônio, a deusa Selene se apaixonou por este mortal, mas como ele era humano, era também suscetível ao envelhecimento e à morte. Para solucionar este problema pediu a Zeus que o tornasse imortal e eternamente jovem, e ele o fez, mas sob a condição de dormir eternamente. Desta maneira, ele viveria sempre, dormindo com a mesma aparente idade e todas as noites ela o visitava para se unir com ele. Maravilhosamente belo, permanecia adormecido na encosta de uma montanha no Peloponeso, ou no monte Latmos, na Cária, perto de Mileto. Noite após noite, Selene descia atrás do monte para visitá-lo e cobri-lo de beijos.

Selene e Endimião.

Selene não permanecia no Olimpo como os demais deuses e, sim, no céu onde fazia sua jornada, mas antes de começar sua jornada noturna, ela se banhava no mar. Nas crendices populares, ela desempenha um papel considerável em relação ao nascimento e falecimento, crescimento e fertilidade, rivalizando com a deusa Artemis

Hino Homérico 32 – para Selene

E, em seguida, as Musas de vozes doces,
filhas de Zeus, bem habilidosas em canção,
contam da Mene(Lua) de longas asas.
De sua cabeça imortal um resplendor
se mostra dos céus e abraça a terra;
e grande é a beleza que se ergue
de sua luz brilhante.
O ar, antes apagado,
incandesce com a luz
de sua coroa dourada,
e seus raios irradiam claramente,
sempre que a brilhante Selene
banha seu amável corpo nas águas do Oceano,
e veste seus trajes de belas centelhas,
e une sua brilhante equipe de pescoços fortes
e dirige seus cavalos de longas crinas
a velocidade máxima, ao anoitecer no meio do mês:
então sua grande órbita é cheia
e então seus raios brilham mais forte
enquanto ela cresce.
Então ela é um verdadeiro símbolo e um sinal aos homens mortais.
Uma vez o Cronida se juntou a ela no amor;
e ela concebeu e carregou uma filha,
Pandéia, de excedente amabilidade
entre os deuses imortais.
Salve, deusa dos braços brancos,
brilhante Selene, terna, rainha de longos cabelos brilhantes!
E agora eu lhe deixo e canto a glória dos homens
semi-divinos, cujas ações os menestreis,
os servos das Musas,
celebram com lábios amáveis.(tradução da Alexandra)

Hino Homérico XXXII à Lua

Mene amplivolante cantai em seguida,
Musas de voz doce filhas de Zeus
Cronida sabedoras da canção.
A partir dela resplendor visível do céu envolve a terra,
a partir de sua imortal cabeça, amplo adorno é visto com
lúcido resplendor e cintila o ar sem luz;
a partir da áurea coroa refletem-se os raios;
sempre depois de no Oceano banhar o belo corpo,
de os trajes vestir longiluzentes a Deusa Lua
e de jungir os potros resplendentes de arqueada cerviz
impetuosamente avançando toca os corcéis de linda melena
pelo anoitecer que divide o mês. Preenche-se a vasta órbita
e então seus raios crescentes iluminam e ao máximo brilham
no céu. Marca aos mortais e um sinal ela é.
Com ela uma vez Cronida uniu-se em amor e deitou-se
e engravidando-a donzela Pandeia gerou
tendo notável formosura entre as Deusas imortais.
Salve soberana bracinívea Deusa Lua
benévola de belas tranças, por ti começando glórias
de mortais semideuses cantarei cujas obras celebram aedos
acólitos das Musas com seus deleitosos lábios.
tradução de Rafael Brunhara)

Hino Órfico VIII a Selene, com incenso de ervas aromáticas.

Ouve-me, divina rainha lucífera,
deusa Selene,tauricorne † Mene,
notívaga, errante aérea,
da noite, dadófora, donzela, astro bom, Mene,
crescente e minguante, feminina e masculina,
luzente que ama cavalos, mãe do tempo [Khronos], frutífera,
ambarina, de coração pesado, reluzente † na noite,
onividente que ama a vigília, florescente de belas estrelas,
que se agrada no repouso e na riqueza da noite.
a brilhadora caridosa, perfectiva, joia da noite,
princesa das estrelas, de longo véu, circunvaga, a donzela em tudo sábia.
Vem, venturosa, benévola, astro bom, com tríplice fulgor
brilhante salva teus novos suplicantes, donzela.
(Tradução: Rafael Brunhara)

MITOS E LENDAS DO IMPÉRIO ROMANO

Na mitologia romana, a Lua é associada à deusa Diana, deusa romana da Lua e da caça, conhecida como deusa pura.

  • Diana é filha de Júpiter e de Latona (deusa do anoitecer, da maternidade, protetora de crianças).
  • E neta, por parte de mãe Latona, de Céos e Febe (deusa associada Luas Cheias).
  • E irmã gêmea de Apolo (deus Sol).
Latona e seus filhos. Apolo e Diana. William Henry Rinehart, 1874.

Em versões mais antigas, era adorada como uma vaca com os Chifres da Consagração, em forma de lua crescente. Também era conhecida como tendo grande importância na magia, muito associada à Hécate, sendo também conhecida pelo nome de Luna e tradicionalmente celebrada no dia 7 de fevereiro. Era muito ciosa de sua virgindade.

Mito 1:

Na mais famosa de suas aventuras, transformou em um cervo o caçador Acteão que a vira nua durante o banho.

Morte de Acteão, perseguido por seus próprios cães. Japiot, 2007.

Indiferente ao amor e caçadora infatigável, Diana era cultuada em templos rústicos nas florestas, onde os caçadores lhe ofereciam sacrifícios. Na mitologia romana, era deusa dos animais selvagens e da caça, bem como dos animais domésticos.

Diana e um veado (provavelmente Acteão transformado.

Obteve do pai permissão para não se casar e se manter sempre casta. Júpiter forneceu-lhe um séquito de sessenta oceânidas e vinte ninfas que, como ela, renunciaram ao casamento.

Diana foi cedo identificada com a deusa grega Ártemis e depois absorveu a identificação de Artemis com Selene (Lua) e Hécate (ou Trívia), de que derivou a caracterização triformis dea (“deusa de três formas”), usada às vezes na literatura latina. O mais famoso de seus santuários ficava no bosque junto ao lago Nemi, perto de Arícia.

Os romanos a festejavam nos idos (dia 13) de agosto. Na arte romana, era em geral representada como caçadora, com arco e aljava, acompanhada de um cão ou cervo.

MITOS E LENDAS DA CULTURA GUARANI

ABAANGUI, A ORIGEM DA LUA

Abaangui é o deus da Lua na mitologia Guarani. De acordo com uma versão da lenda, Abaangui tinha um nariz enorme. Este, foi arrancado pelo próprio deus, lançando-o até o céu, criando dessa forma a Lua.

Em outra versão da lenda, Abaangui era irmão de Zaguaguayu e tinha dois filhos. Cada um destes filhos atirou uma flecha até o céu, onde ficou fixada. Em seguida, cada um atirou uma flecha que entrou na primeira e assim procederam até formar duas correntes que iam do céu até a terra. Por estas correntes, subiram os dois filhos de Abaangui até chegarem ao céu onde ficaram, transformando-se no Sol e na Lua.

MANDUKA, EXPLICANDO AS MANCHAS LUNARES

Outra lenda indígena conta sobre a origem da lua. Manduka namorava sua irmã. Todas as noites ia deitar com ela, mas não mostrava o rosto e nem falava, para não ser identificado. A irmã, tentando descobrir quem era, passou tinta de jenipapo no rosto de Manduka.

Manduka lavou o rosto porém a marca da tinta não saiu. Então ela descobriu quem era. Ficou com vergonha, muito brava e chorou muito. Manduka também ficou com vergonha pois todos passaram a saber o que ele havia feito.

Então Manduka subiu numa árvore que ia até o céu. Depois desceu e foi dizer aos Jurunas que ia voltar pra árvore e não desceria nunca mais.

Levou uma cotia pra não se sentir muito só. Aí virou Lua. E é por isso que a lua tem manchas escuras, por causa do jenipapo que a irmã passou em Manduka. No meio da lua costuma aparecer uma cotia comendo coco. É a outra mancha que a Lua tem.

ORIGEM DA LUA E DAS ESTRELAS, UMA ÍNDIA CURIOSA E CORAJOSA

Naquele tempo não existiam estrelas nem Lua. E a noite era tão escura que todos se encolhiam dentro de casa com medo dela. Na tribo, só uma índia não tinha medo. Ela era uma índia clara e muito bonita, mas era diferente das outras. E por ser diferente, nenhum índio queria namorar com ela, e as índias não conversavam com ela. Sentindo-se só, começou a andar pelas noites. Todos ficavam surpresos com aquilo, e quando ela voltava, dizia a todos que não havia perigo.

Mas havia outra índia, feia e escura, que ficou com inveja da índia clara. E por isso, tentou sair uma noite também. Mas não conseguiu enxergar na escuridão e tropeçou nas pedras, cortou os pés nos gravetos e se assustou com os morcegos. Cheia de raiva, foi conversar com a cascavel.

– Cascavel, quero que morda o calcanhar da índia branca para que ela fique escura, feia e velha, e que ninguém mais goste dela.

Na mesma hora, a cascavel se pôs a esperar a índia clara. Quando ela passou, deu o bote. Mas a índia tinha os pés calçados com duas conchas e os dentes da cobra se quebraram. A cobra começou a amaldiçoá-la e a índia perguntou porque ia fazer aquilo com ela. A cascavel respondeu: – Porque a índia escura mandou. Ela não gosta de você e quer que você fique escura, feia e velha.

A índia branca ficou muito triste com tudo aquilo. Não poderia viver com pessoas que não gostassem dela. E não aguentava mais ser diferente dos outros índios, tão branca e sem medo do escuro.

Então, fez uma linda escada de cipós e pediu para que sua amiga coruja a amarasse no céu. Subiu tanto, que ao chegar ao céu estava exausta. Então dormiu numa nuvem e se transformou num belíssimo astro redondo e iluminado. Era a lua.

A índia escura olhou para ela e ficou cega. Foi se esconder com a cascavel em um buraco. E os índios adoraram a lua, que iluminava suas noites, e sonharam em construir outra escada para poder ir ao céu encontrar a bela índia.

Avaliando a compreensão

Após ler as lendas e mitos relacionados às noites e à Lua, pode-se identificar e discutir que relações foram estabelecidas entre o astro lunar e fenômenos, propriedades ou valores éticos, estéticos e morais nas diferentes culturas e sociedades.

2 Comments on “Mitologias Astronômicas: A Lua”

  1. Neste artigo, apresentamos alguns mitos relacionados ao satélite natural da Terra. Tem interesse em mitos sobre algum outro objeto celeste? Vamos retomar em breve com os mitos do Sol e dos planetas.

Deixe um comentário