Aerogamis: a invenção do papel chinês

Capa: Casa de Marimbondo. Crédito Paulo Henrique Colonese. Acervo Espaço Ciência Viva.

Solte sua imaginação, crie asas de papel, e voe por este mundo mágico até o infinito.

Diva Elena Buss.

Os aerogamis ou aviões de papel são, obviamente, dependentes de um recurso natural e obra de arte da Natureza: as fibras vegetais mais conhecidas como “papel”.

Vamos conhecer um pouco da história lendária de como as “vespas ensinaram os chineses a produzir o papel moderno”.

Os chineses já haviam observado um inseto – o bicho da seda – a lagarta de uma mariposa que vive e se alimenta de amoreiras brancas. O seu casulo é formado por um fio de seda de 300 a 900 metros. E com esse fio, os chineses produziram um tipo muito especial de tecido macio e flexível.

E não demorou muito, observando outros insetos, até perceberam algo curioso com as vespas.

A invenção do papel moderno em poesia

Six Entries On The Invention of Paper
The Paper Wasp, Teresa Cader
1
It begins with a wasp on a terrace in ancient China:
a man invents paper after watching the wasp
spin its white nest from mulberry bark.
2
Perhaps he has found bamboo too uneven
for letters in black wax.
Perhaps he is weary of verticality.
Perhaps he is ashamed of his private longings.
3
When his neighbor calls to him, “Ts’ai Lun,
what are you boiling in that large pot?”
He does not show him linen rags found in a basket,
old fishnets hauled off the docks,
mulberry bark stripped from the neighbor’s tree.

Seis Versos Sobre a Invenção do Papel
em O Papel da Vespa, Teresa Cader.
1
Tudo começou com uma vespa em um terraço na China Antiga:
Um homem inventou o papel após observar a vespa
formar seu ninho branco com cascas de amoreiras.
2
Talvez ele achasse o bambu muito irregular
para cartas escritas em cera preta.
Talvez ele estivesse cansado da verticalidade.
Talvez ele tivesse vergonha de suas memórias pessoais.
3
Quando seu vizinho lhe chamou, “Ts’ai Lun,
o que você está fervendo naquela grande panela?”
Ele não lhe mostrou os trapos de linho achados em uma cesta,
velhas redes de pesca arrancadas das docas,
cascas de amoreira descascados da árvore do vizinho.

His neighbor sees thin sheets of pulp strewn
across the terrace, drying in the sun.
He does not perceive them as treasures.
He is annoyed with the clutter.
His children are forbidden to set foot on the terrace.
He whispers about Ts’ai Lun in the tea shop.
5
One evening after an inquisition at court.
The inventor has been implicated in palace unrest.
T’sai Lun comes home, drinks poison, and goes to bed.
6
On a table lie stacks of the white sheets.
The mulberry tree looks seamless in the moonlight.
The wasp is poised to devour some workers at dawn.

4
Seu vizinho viu apenas finas folhas de polpa espalhadas pelo
terraço, secando ao Sol.
Ele não as considerou tesouros.
Ele ficou aborrecido com a bagunça.
Suas crianças foram proibidas de colocar os pés no terraço.
Ele fofocou sobre Ts’ai Lun na loja de chá.
5
Uma noite após um inquérito no tribunal.
O inventor foi acusado de criar desordens no palácio.
T’sai Lun voltou para casa, bebeu veneno e foi para a cama.
6
Em uma mesa estavam pilhas de folhas brancas.
O amoreira parecia sem contornos ao luar.
As vespas estavam penduradas prontas a devorar alguns
trabalhadores ao amanhecer.

A Cachopa das Vespas e Marimbondos


As abelhas produzem uma cera com suas glândulas ceríferas para criar os casulos em sua colmeia.

Os marimbondos usam diferentes materiais para fazer a sua cachopa (casa). O material exato depende de cada espécie. Entretanto, o material mais usado são fibras raspadas de troncos e galhos de madeira morta.


“É muito difícil estabelecer um padrão de construção para todos, pois só no Brasil existem cerca de 500 espécies de vespas. Algumas delas, por exemplo, incorporam aos seus ninhos materiais como barro e pelugens vegetais”, afirma o biólogo Osmar Malaspina, da Universidade Estadual paulista (Unesp) de Rio Claro (SP).

A maioria dos marimbondos constrói ninhos fechados (como é o caso do paulistinha) ou abertos (como o marimbondo-cavalo), mas algumas espécies, como as vespas-solitárias, fazem seus ninhos no chão, como se fosse uma toca. Independentemente do formato, no entanto, os marimbondos procuram lugares
abrigados e onde estejam protegidos de predadores principalmente formigas e pássaros para fazer suas casas.

Vespas ou Marimbondos?

Marimbondo é o nome popular dado às vespas. O nome vem do quimbundo mari’mbondo, língua africana da família banta, falada principalmente em Angola. O nome é formado do prefixo de plural ma- + rimbondo, “vespa”.

As vespas são insetos voadores parentes das abelhas e das formigas – os três insetos fazem parte da ordem dos heminópteros. O nome da ordem desses insetos é composto de dois termos antigos

  • hymen = membrana;
  • ptera = asas, como em helicoptero.

As espécies deste grupo apresentam dois pares de asas membranosas, sendo que as asas anteriores são maiores do que as posteriores. Alguns grupos, como as formigas operárias e as vespas da família Mutilidae, perderam secundariamente as asas.

Horntail,  Uroceraus gigas. 1886. Fotografia de Chiswick Chap. In Wikipedia. Licença CC-BY-SA-4.0.

Entre os marimbondos, uma das espécies mais conhecidas é a Polybia paulista, também chamada de paulistinha. Ela tem o tórax listrado de preto e amarelo e se parece com uma abelha. Conheça outras espécies de marimbondos identificados no Portal Inaturalist.

Construção da Cachopa

A primeira etapa da construção de uma casa é a aquisição da matéria-prima. Para isso, os marimbondos raspam com sua mandíbula a fibra de madeiras mortas, como galhos de árvores e troncos caídos.
Em seguida, ele mastiga essa fibra e a mistura com água e a própria saliva.


A fibra amolecida é regurgitada pelo marimbondo no local onde ele pretende construir a casa.
A modelagem dos favos e do invólucro do ninho é feita com as patas dianteiras e com as mandíbulas. Normalmente, a construção leva apenas alguns dias para ficar pronta.


A geometria das casas de marimbondos são semelhantes às das abelhas. Elas são divididas em favos, que servem como depósito de uma substância feita a partir de larvas de pequenos insetos. Esse “mel” é produzido para consumo interno dos marimbondos.

A rainha do grupo vive no centro da construção.

O Papel Moderno Flexível

O papel moderno foi inventado por T’sai Lun (Cai Lun) em 105 d.C., sendo considerado uma das quatro grandes invenções dos chineses.
T’sai Lun não apenas aperfeiçoou a técnica de fazer papel, mas também tornou possível usar uma variedade de materiais, tais como cascas de árvores, casca de cebolas, cânhamo, bambu, trapos, etc.

Uma réplica de Cai Lun, criador do moderno processo de fabricação de papel. 
Seu túmulo, localizado em Hanzhong, província de Shaanxi, também é um museu. 
Fotografia. 6 abril 2015. [Foto: CRIENGLISH.com/William Wang]

O papel mais antigo descoberto no estado de Fufeng, Shaanxi, foi feito de cânhamo durante o período Han Ocidental (206 a.C. – 24 d.C).

Fibra de caule de cânhamo. Crédito NATRIJ / RYJ. In Wikimedia Commons. Licença Dedicação ao Domínio Público.

O papel de bambu foi produzido na Dinastia Tang (608 – 907).

Na parte anterior do Museu da Cultura do Papel Cai Lun de Hanzhong, há uma colina gramada onde Cai Lun foi enterrado. 
Cai Lun é reconhecido como criador do moderno processo de fabricação de papel. 
Foto tirada em 6 de abril de 2015. [Foto: CRIENGLISH.com/William Wang]

O papel de Xuan feito no distrito de Jing, na província de Anhui, provavelmente é o papel melhor conhecido, usado principalmente na pintura e caligrafia chinesas.

O papel de Xuan era macio, liso, branco, absorvente e muito durável.


A fabricação de papel foi introduzida na Coreia e Vietnã durante o século III e no Ocidente por volta do século VIII.
A primeira fábrica de papel na Europa foi construída em 1.009 d.C.

Florestas inteiras são transformadas em polpa. Transforme em um novo papel aqueles que pretendia jogar fora. Estará assim se expressando através das mãos. Coloque uma flor de algum jardim, escreva nele uma mensagem e envie à um amigo. Uma pequena parte de uma árvore será prolongada por muito tempo, e a flor se eternizará nesse gesto de amor.

Diva Elena Buss.

Como o papel chegou ao Japão para se transformar em arte?

Essa é uma próxima história. Até lá!

Para saber mais

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