Alfred Russel Wallace no Brasil

O naturalista Alfred Russel Wallace visitou a região amazônica brasileira, em especial, o estado do Pará entre 1848 e 1852, observando, comparando e estudando a exuberante fauna e flora amazônica.

Ele publicou suas descobertas como um diário em VIAGENS PELO AMAZONAS E RIO NEGRO. Veja abaixo alguns pequenos trechos de sua viagem. Se quiser ler a obra completa, ela foi traduzida e disponibilizada pelo Senado Brasileiro para download aqui.

O acervo de suas publicações originais pode ser encontrado em Wallace OnLine.

Alfred Russel Wallace 1862 – Project Gutenberg eText

Por que vim ao Brasil

“O ardente desejo de visitar uma região tropical, para contemplar a exuberância de vida, tanto animal como vegetal, que dizem existir ali, e ver, com os meus próprios olhos, todas as maravilhas que tanto me deliciavam, quando eu lia as descrições feitas pelos viajantes que as contemplaram, foram os motivos que me induziram a romper a trama de meus negócios, os vínculos que me prendiam ao lar, e partir para “alguma terra bem distante, onde reina um sertão constante”.
Minha atenção voltou-se desde logo para o Pará e o Amazonas, por eu haver lido um livro de Wiliam Henry Edwards, intitulado A voyage up the Amazon (1847) e para lá decidi partir, não só em razão da facilidade de seu acesso, mas também pelo pouco que era conhecida aquela região, em confronto com outras da América do Sul.
Propus-me fazer a viagem a minha própria custa, para o fim exclusivo de reunir coleções de história natural.”

Os lagartos, crocodilos, as formigas e as borboletas

“Voltando a nossa atenção para o mundo animal, o que logo nos atrai a curiosidade são os SÁURIOS (Lagartos, Crocodilos). Eles são encontrados por toda parte. Na cidade, vemo-los correr ao longo dos muros e sebes, ou aquecendo-se ao sol nos esteios das cercas, ou então subindo pelas goteiras das casas mais baixas.
Em todos os jardins, quintais, estradas e lugares de solo arenoso, eles correm, quando passamos.
Ora eles se rojam ao redor dos troncos das árvores, aguardando a nossa passagem e ocultando-se cautelosamente das nossas vistas, como fazem os nossos esquilos em idênticas circunstâncias, ora sobem por uma cerca ou muro tão serena e tão seguramente, como se estivessem pisando terreno plano.
Alguns são de cor de cobre, escura, outros têm o dorso dos mais brilhantes e sedosos, azul e verde, e outros assinalados com manchas e listras amarelas e pardas. Neste solo arenoso sob os ardentes raios solares, eles parecem gozar todos os momentos de sua existência, aquecendo-se ao sol na mais indolente satisfação, e, daí, desabalam numa carreira, como se a emanação solar lhes houvesse despertado vivacidade e vigor às suas friorentas constituições.
Bem diferentes do homem, os pequenos SÁURIOS. Não podendo elevar o corpo acima do solo e arrastando os seus longos apêndices como um estorvo, estes curiosos seres, como que estrangeiros de um clima mais propício, transportam as suas caudas erguidas para o ar, e galopam com as suas quatro pernas, com muito mais liberdade e força muscular do que qualquer outro quadrúpede de sangue quente.
Pegar estes espertos seres, não é lá tarefa muito fácil, e todas as nossas tentativas para isso ficaram malogradas. Uns negrinhos e uns indiozinhos, com os seus arcos e flechas, caçaram alguns deles, e, assim, conseguimos alguns espécimens.
Em seguida aos sáurios, as FORMIGAS não podem deixar de ser referidas.
Elas vos assaltam com a aparição de quaisquer fragmentos de papel, folhas secas ou penas.
São dotadas de poderosos membros de locomoção, e, em procissões, entregam-se a difíceis operações de engenharia estendendo-se em longas filas pelas estradas. As flores, que colheis, o os frutos, que apanhais, estão quase sempre cobertos por elas, e em seguida espalham-se pelas vossas mãos em enxames, que vos obrigam a deixar a vossa presa precipitadamente.
À hora das refeições, trepam e caminham sobre a toalha da mesa, sobre os pratos e açucareiros, porém em menor número, não sendo tão sério obstáculo para perturbar-vos durante a vossa refeição.
Nesta situação e em muitas outras, vós as encontrareis, e em cada ocasião é uma espécie distinta.
Muitas árvores há que têm formigas que lhes são peculiares.
Os seus ninhos ou casas são encontrados nos galhos das árvores, formando enormes massas escuras.
Nas estradas, nos bosques, nos jardins, encontram-se, às vezes, as de uma espécie gigante, que costumam vagar isoladamente ou aos pares, medindo cerca de uma polegada e meia de comprimento,
enquanto algumas espécies domésticas são de tamanho tão diminuto, que é preciso ter caixas com tampas respectivas muito bem adaptadas para se poder preservá-las dos seus ataques.
Elas são grandes inimigas de qualquer substância animal em decomposição, principalmente insetos e pequenos pássaros. Para secar os espécimens de insetos, que colhemos, verificamos ser necessário colocar as caixas presas ao teto da varanda; mas, mesmo assim, algumas desceram pelo cordel e nelas penetraram, e já haviam destruído em poucas horas lindos insetos de nossa colheita, quando as pilhamos nesse trabalho de destruição.
Daí por diante, como nos informassem que o óleo de andiroba, que é muito amargo, as afugentava, embebemos os cordéis no referido óleo e assim ficamos livres das incursões delas.
Tendo a princípio empregado o meu tempo principalmente na coleta de insetos, posso agora dizer alguma coisa a respeito de outras famílias desta numerosa classe.
Nenhuma das ordens de insetos era tão numerosa como eu esperava, com exceção da diurna Lepidoptera, ou borboletas. Mesmo estas, se bem que o número de espécies fosse muito grande, não eram tão abundantes em indivíduos, como eu supunha. Em cerca de três semanas, eu e o Sr. Henry Walter BATES capturamos para cima de 150 espécies.

Os Peixes do Rio Negro

Ilustração de Wallace de jacundá Crenicichla monicae coletado no rio Negro há mais de 160 anos (imagem: Alfred Russell Wallace)

Como é de esperar, há no maior rio do globo uma correspondente abundância e variedade de peixes. Constituem eles a principal alimentação animal dos índios, e em todo e qualquer tempo são sempre abundantes e mais fáceis de obter do que os pássaros ou a caça da floresta.
Durante minha residência no rio Negro, cuidadosamente desenhei e escrevi todas as espécies que se me depararam ali.
E na ocasião em que eu regressava dali, ainda estavam aparecendo outras espécies, quase que diariamente. Os peixes de barbatanas moles são muito mais numerosos e compreendem algumas das melhores espécies de alimento.

  • Dos Sciluridas, eu obtive 51 espécies;
  • dos Serrasalmus (piranhas), 24;
  • dos Chalceus, 25;
  • dos Gymnotus (carapó, peixe-espada, peixe elétrico), 10;
  • e dos peixes de espinhas e de barbatanas (Acanthopterygia), 42.

De todas as espécies de peixes que encontrei, 205 são exclusivamente do rio Negro, e estas, disso estou certo, são uma pequena porção das que existem ali. Sendo ele um rio de águas escuras, a maior parte dos seus peixes são diferentes dos que se encontram no Amazonas.
De fato, em todos os riachos e em diferentes partes do mesmo rio, encontram-se espécies distintas.
A maior parte das que habitam o alto rio Negro não são encontradas perto da sua barra, havendo muitas outras espécies, igualmente desconhecidas, nas águas mais claras, mais escuras e provavelmente mais frias, dos seus mais altos e mais remotos tributários.
Pelo número de espécies novas, constantemente encontradas em todas as localidades e em todo cesto de pescador, podemos estimar que, no mínimo, 500 espécies existam no rio Negro e nos seus tributários. É impossível calcular, com qualquer aproximação de rigor, o número de espécies de todo o vale do Amazonas.

Para saber mais de suas incríveis aventuras, leia o seu livro completo no link acima.