Arco-íris: uma bela índia, um casamento e sete arcos na mitologia Kaxinawá (Brasil).

Paulo Henrique Colonese, Mariana de Souza Lima, Espaço Ciência Viva.

Os caxinauás, também chamados de caxinauas e Kaxinawá, são uma etnia indígena sul-americana pertencente à família linguística pano. Habitam as regiões de floresta tropical no leste peruano (do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil) e o estado do Acre, abarcando a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari, sendo mais numerosos na região brasileira que na peruana. Conheça mais da cultura Caxinauá no livro “Huni kuin hiwepaunibuki: a história dos caxinauás por eles mesmos”.

Painel indígena. Coletivo Mahku. Etnia Huin kuin.

Os povos cujas línguas partem desse tronco, além de terem a terminação “nawa” no nome, também se autodenominam “huni kuin”, que significa “homens verdadeiros”.

A cultura dos Kaxinawá é recheada de cantos e rituais típicos, com o katkanawa, ritual da fertilidade, ou txirin, que é realizado na iniciação da criança no grupo. Eles também têm um estilo púnico de desenhos geométricos, chamados kene kuin. Abaixo a lenda da criação dos padrões geométricos kene kuin.

Os mitos do grupo geralmente estão relacionados aos animais. Os Kaxinawá acreditam que todo bem cultural foi ensinado aos homens por algum animal, que eles chamam de “huni kuin encantado”. O esquilo, por exemplo, teria ensinado o homem a plantar, o macaco a copular e a aranha a tecer.

Conheça suas histórias encantadas no livro Una Shubu Hiwea – Livro Escola Viva do Povo Huni Kuin do rio Jordão, disponível na Biblioteca Itaú Cultural.

O ser humano, segundo a crença dos Kaxinawá, é formado por

  • carne, conhecido por eles como “yuda”;
  • o espírito do corpo, denominado por eles “yuda baka yuxin”
  • e o espírito do olho, chamado “bedu yuxin”.

A morte, para a etnia, é a perda do aspecto “yuxin”. Outra crença do grupo é xamanismo. Os xamãs seriam capazes de curar e causar doenças usando o “muka”, uma substância ou qualidade xamânica que representa o poder dos mesmos. Eles são grandes responsáveis por acumular poder e conhecimento espiritual, além de terem grande afinidade com os animais, que permite que os xamãs dialoguem com os mesmos. Devido a essa proximidade, eles não conseguem comer carne ou caçar.

IAÇÃ E OS SETE ARCOS COLORIDOS

Versão de Suely Mendes Brazão. Em Cadernos PDE. Do original: BRAZÃO, Suely Mendes. Como surgiram os seres e as coisas. Co-edição Latinoamericana. São Paulo : Ática, 1997.

A bela índia Iaçá, do povo KAXINAWA (Caxinauás), apaixonou-se por Tupá, filho do deus supremo, Tupã. Com muita inveja de Tupá.

Mas, Anhangá resolveu tomar sua noiva. Para isso, propôs à mãe de Iaçá que impedisse o casamento da filha, dando-lhe em troca caça e pesca abundante para o resto da vida. Para garantir abundância e fartura de alimentos, a mãe de Iaçá proibiu-a de ver Tupá e marcou logo o casamento da filha com Anhangá.

Triste e desesperada, a jovem não tinha outra saída, e pediu a Anhangá que a deixasse ver Tupá pela última vez, nem que fosse de longe. Ela sabia que, depois de casada, teria de ir para o interior da terra, onde morava Anhangá, e nunca mais poderia chegar perto de Tupá, que vivia no céu, junto com seu pai, Tupã.

Anhangá resolveu atender ao pedido da moça, mas com uma condição: ela teria de fazer um corte em seu braço, para que o sangue pingado fosse formando um rastro em sua subida ao céu; desse modo, Anhangá poderia acompanhar sua caminhada.

No dia do casamento, pouco antes da cerimônia, Iaçá partiu para sua última visita a Tupá. E o sangue de seu braço foi formando um arco vermelho no céu.

Tupá, muito poderoso, mandou que o Sol, o Céu e o Mar fizessem companhia à jovem em sua viagem, descrevendo outros três rastros, ao lado do risco vermelho, para confundir Anhangá.

  • O Sol, Guaraci, traçou um arco amarelo.
  • O Céu Iuacá, um arco azul-claro.
  • E o Mar Pará, um arco azul-escuro.
  • Iaçá, porém, não conseguiu chegar ao céu, nem ver Tupá. Ela ficou muito enfraquecida, e caiu lentamente em direção à terra. Seu sangue misturou-se primeiro com o traçado amarelo de Guaraci, formando um rastro laranja,
  • E depois com o arco azul de Iacá, descrevendo outro rastro, de cor violeta.
  • Quando chegou à terra, Iaçá não foi para o fundo da terra, nem se casou com Anhangá. Morreu numa praia, banhada pelo mar e pelos raios de sol. De seu corpo, subiu ao céu um arco verde, formado pela mistura do azul de Pará com o amarelo de Guaraci. Era o sétimo arco, que acompanhava a trajetória dos seis anteriores.

É por isso que o arco-íris tem as sete cores e sempre aparece no céu em forma de arco.