Arco-íris, moradia da deusa das águas na mitologia Zulu (África Austral)

 “Nenhum sol se põe sem suas histórias” . Provérbio Zulu.

A mitologia Zulu contém numerosos deuses, comumente associados a animais e fenômenos naturais.

Unkulunkulu é o deus mais poderoso e criador da humanidade. Unkulunkulu (o maior de todos) foi criado em Uhlanga, um enorme pântano de juncos, antes de vir à Terra.

Unkulunkulu é por vezes confundido com o pai do céu, Umvelingangi (que significa “aquele que estava no início”), deus do trovão e dos terremotos. Ele era o Deus do Céus. Ele desceu do Céu e casou-se com Uthlanga. Em algumas versões da história da criação, ele é quem criou a semente da qual Unkulunkulu se originou. 

Unwaba era um camaleão mítico. Ele foi enviado por Unkulunkulu (ou em algumas histórias Umvelinqangi) para contar ao povo do mundo que eles teriam vida imortal. Infelizmente Unwaba demorou tanto para chegar à vila que o deus ficou impaciente e o povo não se tornou imortal. Atualmente, os camaleões mudam de verde para marrom porque eles ficam tristes de Unwaba ter sido tão lento.

 

Mamlambo é a deusa dos rios, descrita como uma grande criatura parecida com uma cobra.

Mbaba Mwana Waresa (ou Nomkhubulwane) deusa da fertilidade na região Zulu do sul da África, comanda o arco-íris, a agricultura, colheitas, chuvas e a cerveja e tem o poder sobre as substâncias elementares água e terra.

Mbaba ensinou seu povo como semear e colher e a arte de fazer cerveja. Este ato a transformou na deusa mais venerada do povo Zulu.

Mbaba Mwana Waresa vivia nas nuvens, em uma cabana cercada pelos arcos do arco-íris. Seu povo amava esta deusa das chuvas e sempre que eles ouviam o som anunciador de seu tambor trovão, eles sabiam que ela iria derramar as águas tão necessárias de sua casa celeste.

Tradicionalmente, na cultura Zulu, quando havia seca, virgens eram enviadas às montanas com oferendas à Princesa Nokhubulwane pedindo chuvas.

A seca, infestações na agricultura e doenças incuráveis representam uma desconexão com a mãe terra.

As mulheres seguiam em procissão às montanhas para falar com os ancestrais e fazer contato com a mãe Terra. Alimentos especiais eram levados como oferendas aos espíritos ancestrais e aos deuses.

A cerveja tradicional era feita com milho, pois Nokhubulwane é também mãe do milho, grãos de milho moído e espinafre nativo. E algumas vezes, cabras e galinhas completavam as oferendas. As mulheres carregavam madeira para fazer fogo. A intenção era chamar os ancestrais para pedir desculpas à mãe terra por tê-la provocado.

De acordo com o mito, Nokhubulwane não conseguiu encontrar um marido adequado nos céus, de modo que viajou pelas terras do sul da África em busca de um marido mortal e desafiou todos os outros deuses quando se apaixonou por um homem mortal.

Ele era um boiadeiro chamado Thandiwe. Para ter certeza de que ele a amava, ela o testou enviando uma bonita noiva em seu lugar enquanto ela se disfarçava em uma mulher velha e feia.

Thandiwe aguardava sua noiva celestial no altar. De repente, o “Pássaro dos Raios” anunciou uma terrível tempestade, mas Thandiwe não saiu do lugar. Então tão rápido quanto chegou, a tempestade passou e um arco-íris desceu dos céus.

Ao tocar o chão, duas mulheres surgiram frente a Thandiwe.

Olhando em seus olhos e apontando a bela Nomalanga, a deusa das chuvas disse, “está é a bela deusa que viu em seus sonhos, ela é sua noiva.” Thandiwe olhou a mulher esplendorosa em toda a sua visão e depois olhou para a mulher que havia falado – ela era feia e cinza com sua cabeça coberta de trapos. “esta mulher não é minha noiva,” disse Thandiwe. “Você pode estar vestida com peles de zebra rasgadas e coberta de cinzas, mas estas coisas não anulam teu esplendor.

Em teus olhos, eu vejo o brilho dos rios, lagos e mares. Em teus olhos, eu vejo o poder daquela que dá vida à terra e nutre as plantações. Este poder supera o charme da pele bem oleada e o tilintar dos braceletes e joias. Você é minha noiva. Você é Mbaba Mwana Waresa, a deusa das chuvas.”

Quando a deusa escutou estas palavras, ela soube que tinha escolhido sabiamente. “Que a cerimônia comece! ”. (…) foi somente quando o sol mergulhou por trás da colinas e as estrelas brilharam, que os festejos terminaram.

Enquanto todos dormiam, Mbaba Mwana Waresa e Thandiwe deixaram a terra, de mãos dadas, viajaram por um arco-íris até os céus da África, onde sempre viverão em sua cabana coberta pelo arco-íris. (Margaret Olivia Wolfson, inspirada em um fragmento de um mito Zulu da região de Natal).

O povo Zulu a clama quando eles precisam de orientação para tomar uma decisão importante.

Algumas considerações sobre o mito:

Neste mito Zulu, como no mito Iorubá, o arco-íris é um objeto associado a uma deusa que comanda as águas e fenômenos atmosféricos relacionados como as chuvas e tempestades, mas tem um papel mais estético de comunicação ou interação entre deuses e a humanidade. Deste modo, a narrativa não explora muito suas propriedades, talvez apenas sua conexão com as nuvens – moradia da deusa das águas e da terra – enfeitada pelo arco-íris