Astronomia sem Telescópio: Gnômon Polos

Capa: Gnômon Hemisférico Polos, China.

Série AST: Astronomia sem Telescópio. Relógios.

Existe um certo consenso de que este instrumento teve origem na região mesopotâmica. Presumivelmente foi desenvolvido primeiro pelos caldeus (povo semita ao sul da Mesopotâmia). Posteriormente, a região foi dominada e passou a fazer parte do Império Babilônico. Até finalmente, chegar ao Império Grego (Europa, África e Ásia mediterrâneas).

Alguns historiadores sugerem que os Polos é o instrumento que deu origem aos “anelados”, às esferas armilares e ao Relógio de Sol Equatorial, desenvolvidos posteriormente pelos astrônomos do Império Grego ou Hemisféricos, desenvolvidos pelos astrônomos indianos.

Deve ter dado origem ao Relógio de Sol Hemisférico. Acredita-se que baseado em conceitos que datam de 300 a.C, o astrônomo greco-babilônico Berosus fez um relógio de sol hemisférico.

O magnífico Observatório Indiano de Jai Singh possui dois relógios do Sol gêmeos, chamados de Jai Prakash que podem muito bem ser o instrumento mais elaborado e complexo do observarório de Jai Singh.

Os mostradores hemisféricos também aparecem na arquitetura de Igrejas Europeias durante a Idade Média e no Observatório em Nanking, China, no final do século XIII. O Jai Prakash, no entanto, é muito mais elaborado, complexo e versátil do que qualquer um de seus antecessores.

Como é construído?

Segundo registros antigos, no início era um dispositivo constituído por uma semiesfera oca de grande diâmetro e com a concavidade orientada para o céu. E uma esfera (ou disco) pequena era mantida suspensa por cima desta semiesfera, justo sobre seu centro; e a sombra dessa pequena esfera produzida pelo Sol era projetada sobre a superfície côncava do instrumento. É esse modelo usado na construção dos Relógios Hemisféricos Indianos.

Uma variação da estrutura original é que, no lugar da pequena esfera suspensa, se coloca uma haste vertical no fundo da semiesfera, de modo que ela chegue exatamente até o centro da mesma, ou seja, coincida com um dos raios da esfera.

Deste modo, o Polos se trata de um Gnômon modificado, em que a superfície plana é substituída por outra, semiesférica, na qual a haste fica exatamente no centro da superfície côncava. Dessa forma, no Polos a variável “comprimento da sombra” perde importância e a variável que permanece única e significativa será a posição da sombra da extremidade do indicador, visível na superfície interior da semiesfera.

Vendo o Céu Invertido

A semiesfera côncava do Polos pode ser considerada como uma representação invertida da esfera celeste. Desta maneira, com o Polos é possível materializar o arco diurno do Sol, de forma “contraposta”. Em qualquer data, sob iluminação solar, a sombra da extremidade de sua haste descreverá uma curva sobre a superfície interna da semiesfera, simétrica à que descreve o Sol no céu, desde seu nascimento (orto, amanhecer) até se por (ocaso, anoitecer).

Cada ponto pode ser assinalado mediante alguma marca a intervalos regulares de tempo.

O que observar? O Caminho Aparente do Sol

O movimento do Sol pode ser desenhado com considerável precisão sobre o fundo do Polos, o que torna possível identificar de modo muito sensível, as datas dos Equinócios e Solstícios, como também estimar o ângulo de inclinação da Eclíptica.

Em outras palavras, a possibilidade de gravar o caminho do Sol no Polos, data por data, pode ser aproveitada para visualizar os acontecimentos originados pelo movimento solar aparente, reflexo do movimento que a Terra realiza em sua rotação diária e translação anual.

Deve-se registrar a posição da sombra da extremidade da haste durante um dia e se repetir tal operação periodicamente, por exemplo com vários dias de intervalo. Com isso, você poderá descobrir e perceber que estas sombras traçam curvas diferentes sobre a superfície do Polos, que coincidem com arcos celestes paralelos, simétricos aos que o Sol percorre durante o tempo em que se realizou os registros.

Este instrumento torna evidente que o Sol, diferente das estrelas fixas que sempre percorrem o mesmo paralelo, possui outro movimento sobre a esfera celeste: se trata do movimento anual do Sol pela eclíptica, reflexo da trajetória real da Terra ao seu redor (translação).

No Solar de las Miradas, La Punta, o movimento solar na eclíptica é traçado com uma escultura que representa o Sol (chamada Sol Móvel). Ela fica sobre o Camino Eclíptico, na zona de domínio de cada um dos Bancos Zodiacais.

O que observar? As Estações do Ano Solar

Se a observação se prolongar durante um ano solar inteiro, a curva descrita pela sombra oscila entre uma altura máxima e uma altura mínima.

No hemisfério sul, a data em que o Sol está mais baixo sobre o horizonte, ocorre por volta de 21 de junho. E quando está mais alto, em cerca de 21 de dezembro. As datas e alturas se invertem no hemisfério norte da Terra.

Usando nosso calendário atual, tomando o dia 21 de dezembro como referência, se percebe que a sombra da extremidade da haste se desloca de tal forma que por volta de 21 de março, coincide com o Equador Celeste. Em seguida, continuará se deslocando na mesma direção até 21 de junho e, a partir deste momento, muda de direção, e volta a atravessar o Equador Celeste novamente em 21 de setembro. Até finalmente, chegar ao mesmo ponto inicial em 21 de dezembro, momento em que volta a repetir o ciclo – o ano solar.

Registro dos arcos percorridos pelo Sol em seu movimento aparente visto da Terra em várias datas ao longo do ano.

Deste modo, com um Polos é possível determinar, de modo aproximado, as datas em que o Sol (e seu arco) se encontra mais alto e mais baixo (os Solstícios de verão e de inverno, respectivamente) e as datas em que o Sol atravessa o Equador Celeste (Equinócios de Outono e de Primavera).

Com essa variação é possível observar também a variação na duração do dia claro, ou seja, do tempo que o Sol demora para percorrer seu arco diurno sobre o horizonte. Você pode observar isto, por exemplo, marcando o lugar da sombra a intervalos regulares (uma hora ou meia hora), que ficarão representados por arcos iguais devido ao movimento solar, reflexo da rotação da Terra ao redor de seu eixo.

A duração do dia aumentará desde o Solstício de Inverno até o Solstício de Verão. E nas datas dos Equinócios a duração do dia claro é igual à da noite. Analogamente, a duração do dia claro diminui do Solstício de Verão ao Solstício de Inverno.

O que observar? A Inclinação da Eclíptica.

Com este instrumento podemos também calcular a inclinação da Eclíptica, ou seja, o ângulo de inclinação do eixo de rotação da Terra. Isto pode ser determinado diretamente medindo o ângulo que da extremidade da haste subtendem o ponto mais baixo das curvas traçadas pelo Sol nos Solstícios (Ou seja a superfície do Polos, já que o indicador coincide com o raio do Polos), no momento em que estes pontos estiverem sobre o meridiano local. Sua medida dará aproximadamente 47°, com o qual se obtém um ângulo de 23° 30’ como valor dessa inclinação. É uma geometria simples para quem, realmente, construir um Polos e observar!

Com o Polos também podemos determinar a direção do meridiano e a latitude do lugar de observação.

O meridiano se situa aproximadamente na linha que une os pontos inferiores das curvas diárias traçadas pela sombra.

A latitude pode ser obtida medindo o ângulo que no Equinócio forma a sombra no meridiano com o pé do indicador, ou seja, medindo esse ângulo na data dos Solstícios e subtraindo (ou somando) os 23° 30’ da inclinação da Eclíptica.

Os erros na determinação de datas e direções feitas com o Polos dependem drasticamente do tamanho do instrumento e também no fato de que os Solstícios e Equinócios não ocorrem exatamente ao meio-dia.

Polos: Um Relógio Noturno?

Além disso, o Polos permite, ser usado como um relógio celeste durante a noite.

Para isso, devemos acoplar uma armação esférica que represente a zona do Zodíaco com suas 12 constelações e com a divisão em 360° semelhante aos aros de uma esfera armilar. Para usá-lo como relógio será preciso conhecer a Constelação (e a posição em graus sexagesimais) na qual o Sol havia se posto.

A qualquer hora da noite, se poderia adaptar essa esfera zodiacal de maneira que as constelações ocupassem nela a mesma posição em que estariam no céu noturno. Como deveria ser girado para assegurar esta adaptação, a posição ocupada pelo Sol no ocaso tinha que ser deslocada ao longo das linhas das horas marcadas no instrumento, do mesmo modo que a sombra da haste o fazia durante o dia. Assim, da mesma maneira em que se fazia de dia a partir do Sol, durante a noite de poderia ler a hora a partir das estrelas.

O Gnômon Polos montado no Solar de las Miradas consta de uma semiesfera de cimento de 1 metro de diâmetro com uma haste de ferro fina de aproximadamente 0,4 cm de diâmetro e 50 cm de altura, fixada em seu centro e coincidente com a vertical local (materializando um raio dessa semiesfera).

A semiesfera deste Polos é sustentada por um pé ornamental de ferro laminado, com o qual a borda circular do instrumento (“horizonte”) alcança 20 cm de altura sobre a base. Todos os materiais foram tratados especialmente para suportar a intempérie.