Decálogo do Divulgador da Ciência

Capa: Contador de Histórias Árabe. Crédito Haddon Sundblom, Acervo atual da Society of Illustrators. In Wikiart.  Fotografia. Licença CC-BY-NC.

“se queremos uma sociedade democrática, é preciso que todos entendam a ciência. Caso contrário, não alcançaremos a democracia cultural”. Hernando, 2005.

Este decálogo da divulgação científica foi lançado durante o I Congresso sobre Comunicação Social da Ciência, em Granada, Espanha no ano de 1999.

Seu criador, Manuel Calvo Hernando (1923-2012) foi um dos pesos pesados da Divulgação Científica na Espanha. Professor, autor de livros e jornalista científico, Hernando fundou a Associação Espanhola de Comunicação Científica, AECC.

Hernando esteve no Brasil em 2002, participando do 1º Congresso Internacional de Divulgação Científica, realizado na Universidade de São Paulo pelo Núcleo José Reis e pela Associação Brasileira de Divulgação Científica (Abradic), abordando questões relacionadas à ética na divulgação científica.

Mais que as guerras, o terrorismo e o mal em geral, a ciência é o que caracteriza o nosso tempo, tanto em sentido positivo, o que é vasto, quanto negativo, que também existe, especialmente sobre suas aplicações. Sem Ciência, não há Futuro, advertiu há mais de meio século o Prêmio Nobek Guatemalteco Miguel Ángel Asturias.

Agora, sabemos que sem Ciência, tão pouco há presente. Se prescindimos do conhecimento científico e tecnológico, de suas consequências e inclusive dos problemas que estabelece, o presente seria outro, e creio bastante pior.
A Ciência é literalmente uma noticia de Vida e Morte que se entrelaça em todos os aspectos da Cultura e da melhoria dos níveis de vida e os meios possuem um público muito mal (in)formado neste campo. Em uma época em que se suscitam debates dramáticos e perturbadores em relação à tantas descobertas e invenções científicas, a Sociedade está muito pouco instruída a respeito. (Manuel Carvo Hernando, La Divulgación Científica en el nuevo milenio, in Encuentros Multidisciplinares, nº 11, Mayo-Agosto, 2002).

Decálogo do Divulgador da Ciência

I – Acima de tudo, o divulgador da ciência deve ter CONSCIÊNCIA DE SUA MISSÃO máxima: colocar à disposição da maioria o patrimônio científico da minoria. Defenderá nos seus escritos, nas suas palavras ou nas suas imagens o direito de cada ser humano de participar na sabedoria e de se integrar na cultura e na civilização, o que os manterá unidos no conhecimento comum.

II – O divulgador da ciência terá todo o CUIDADO AO DIVULGAR seus achados e descobertas, enquadrando-as em seu próprio quadro, valorizando sua importância para a humanidade e estabelecendo um equilíbrio entre o que as descobertas são sensacionais e seu valor (coletivo) em decorrência uma tarefa permanente e coletiva.

III – Em relação à Ciência Pura, deve SUBLINHAR que sem ela não há progresso, nem ciência aplicada e expor a dignidade e a nobreza desse impulso do que há de mais sagrado no ser humano: a necessidade de conhecer e orientar. Sem nunca esquecer o duplo aspecto do visível e do invisível, do imanente e do transcendente, na relação do ser humano com o mundo que o rodeia, garantindo também que o seu trabalho se inspire na unidade harmoniosa da vida.

IV – O divulgador da ciência COMBATERÁ, com todos os meios ao seu dispor, a desconfiança do povo em relação à ciência e insistirá em dois fatos óbvios:

1º) Os cientistas são obrigados a ir sempre mais alto, mais longe e a mergulhar nos segredos da criação; é a própria sociedade humana que, depois, às vezes faz mau USO DAS DESCOBERTAS CIENTÍFICAS;

2.º) No balanço das CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA para o progresso da humanidade é mínimo o que, mesmo considerando a seção anterior, pode ser considerado negativo.

V – PROCURARÁ sensibilizar o público para a importância da investigação científica, da necessidade de todos nós participarmos nesta nova revolução universal, da rentabilidade da investigação científica e da urgência de uma cooperação mais eficaz por parte do Estado, dos setores produtivos e de serviços, setores empresarial e financeiro e, em suma, a sociedade como um todo.

VI – INSISTIRÁ, repetidamente, que a ciência é cada vez menos uma aventura pessoal e cada vez mais um vasto empreendimento coletivo que precisa de pessoas, meios e clima favorável.

VII – Procurará FAZER com que o público veja que, apesar do que possa parecer aos olhos do leigo, a investigação científica não é algo misterioso, secreto ou apavorante, mas sim um trabalho de sabedoria, razão, paciência, tenacidade e, acima de tudo, de ilusão.

VIII – DENUNCIARÁ a fraude das falsas ciências, que em muitas áreas da humanidade continuam a constituir gravíssimos obstáculos ao desenvolvimento. Os falsos curandeiros estão desacreditados, pelo menos em nossas sociedades ocidentais, mas devemos continuar a lutar contra seus equivalentes em outros ramos do conhecimento ou da atividade humana.

IX – Ele tratará a ciência com respeito, mas com familiaridade, enfatizando a simpatia e o aspecto humano do cientista. Diante de tanto medo e desconfiança, parece necessário HUMANIZAR A CIÊNCIA, apresentando-a ao público e colocando-a entre nós de forma afetuosa e cordial, sem diminuir sua seriedade e significado.

X – Tudo isso o divulgador apresentará da forma mais sugestiva possível, em sua dimensão SURPREENDENTE OU ARREPIANTE, para atingir o maior número de leitores, ouvintes ou telespectadores, e utilizando a palavra, o som e a imagem de forma jornalística; quer dizer atual, interessante, direta e simples.

Referências

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