Leeuwenhoek: Os primeiros anos
Original: Lens on Leeuwenhoek, Douglas Anderson.
- Leeuwenhoek: Cartas e Descobertas, 1673.
- Leeuwenhoek: Descobertas Inacreditáveis, 1674.
- Leeuwenhoek: um ano de muitas observações, 1675.
- Leeuwenhoek: Descobri Criaturas Vivas, 1676.
- Leeuwenhoek: Experimentos no Mundo Microscópico, maio, 1676.
- Leeuwenhoek: O Ano das Confirmações: As criaturas minúsculas existem? 1677.
- Leeuwenhoek: Hooke confirma os “pequenos animais”, 1677.
1673: Extremamente Curioso e Engenhoso
Em 1673, Leeuwenhoek escreveu três cartas sobre suas descobertas e observações microscópicas, todas para Henry Oldenburg da Royal Society em Londres. Uma carta está perdida.
ABRIL
“Cerca de dois anos atrás eu observei uma picada de uma abelha”, escreveu ele em sua primeira carta, datada de 28 de abril de 1673 (AB 1). No início de 1671, Leeuwenhoek tinha aprendido a moer lentes e trabalhar metal, tão bem como qualquer outro do ramo. Dois anos depois, Reinier de Graaf orientou Leeuwenhoek a escrever suas observações e enviá-las para Henry Oldenburg. Oldenburg publicava a revista Philosophical Transactions (Transações Filosóficas), o único periódico além do Journal des Scavans francês que consideraria publicar tal carta. Esta primeira carta replicava e expandia várias observações de Robert Hooke de partes de seu livro Micrographia (1665) tais como o mofo (fungo), o ferrão e o olho de uma abelha.
MAIO
Um mês depois que Leeuwenhoek enviou a carta, Oldenburg já havia traduzido e lido a carta para discussão em uma reunião da Sociedade Real.
Em 7 de maio de 1673, a Royal Society se reuniu em Londres. Birch escreveu as seguintes notas em sua História:
Oldenburg produziu um livro do Dr. de GRAAF dedicado à Sociedade, … juntamente com uma carta ao Sr. OLDENBURG, datada em Delft, na Holanda, em 28 de abril de 1673, comunicando algumas observações microscópicas de Mons. LEEUWENHOEK.
Oldenburg publicou esta carta em 19 de maio em Transações Filosóficas, número 94. Ele acrescentou uma frase antecipando mais observações e aparentemente enviou uma carta a Leeuwenhoek com a mesma perspectiva.
AGOSTO
Leeuwenhoek já terminara sua segunda carta (AB 2). Ela continha desenhos para acompanhar sua primeira carta, a pedido de Oldenburg. Ela continha novas observações e a descrição de um experimento. Leeuwenhoek definia seu estilo de trabalhar em várias questões em uma mesma carta. Subtítulos teriam ajudado. A segunda carta cobria os seguintes tópicos:
- Plantas – pinheiro, carvalho, faia, cana-de-açúcar; cinzas de raiz; fungos; tiloses (tilos).
- Animais – abelha, piolho, mosquito, picada de vespa; olho de piolho, boca, estômago, intestino; espiráculos (válvulas) de piolho.
- Processos – movimento fluido, fogo; digestão, desenho de sangue, força do pistão.
- Técnicas – gravidade específica do pinheiro e do carvalho.
- Outros temas – composição do ar; glóbulos; comentários pessoais sobre educação e linguagem.
Observa-se a referência de Leeuwenhoek ao “meu microscópio recém-inventado”. Em holandês é “mijn nieuw gevonden microscopix”. O gevonden em holandês é uma forma do verbo vinden, descobrir. No dicionário de Sewel de 1735, uitvinden significa descobrir, encontrar. Em outra direção, invenção é uytvinden, verzinnen, bedenken, e verdichten em holandês. Apesar do lugar de Leeuwenhoek no imaginário popular como “inventor” do microscópio, ele não foi e não reivindicou isso em nenhum momento. Ele estava escrevendo para a Sociedade Real, afinal, da qual Robert Hooke era um membro ativo. Tendo repetido e estendido as observações de Hooke de 1665, Leeuwenhoek não teria reivindicado qualquer primazia.
O mérito de Leeuwenhoek foi construir as menores lentes com qualidade suficiente para usar em um microscópio de uma única lente (diferente dos microscópios compostos já criados em sua época, mas que não tinham a mesma qualidade de imagem devido a efeitos de aberrações cromáticas). Desta forma, Leeuwenhoek será a primeira pessoa a observar imagens com resolução e qualidade suficientes do universo conhecido hoje de protozoários, bactérias e outros objetos realmente microscópicos.
Constantijn Huygens (Lorde de Zuilichem, pai de Christiaan Huygens), que não morava longe de Delft, visitou Leeuwenhoek e leu sua carta. Uma semana antes de Leeuwenhoek envia-la, Huygens enviou sua própria carta a Robert Hooke que serviu como uma carta de apresentação e de recomendação semelhante à carta de Graaf em abril.
Dois dias após a data da segunda carta de Leeuwenhoek, Reinier de Graaf morreu em 17 de agosto, aos 32 anos. Dois meses depois, Leeuwenhoek comemorou seu aniversário de 41 anos, e se apenas sua família próxima e seus cônjuges e filhos tiverem ido à festa, cerca de 3 dúzias de pessoas estiveram na festa. Nenhum deles tinha a menor ideia de que seu parente, um cara que tinha uma loja e agora estava trabalhando para o governo da cidade, estava prestes a se tornar a pessoa mais famosa em Delft.
O QUE ELE REALIZOU
Encorajado pela resposta à sua primeira carta, Leeuwenhoek sentiu a necessidade de explicar melhor suas observações. No longo trecho abaixo, ele parece inseguro, duvidoso, provisório, apologético. A primeira carta foi tão arriscada que ele culpava de Graaf pela ousadia e risco. Ele queria ter certeza de que os leitores da Academia entendessem que ele era um comerciante sem o tipo de educação que eles tinham.
Lembre-se que ele estava se dirigindo a famosos estudiosos em um país com o qual seu próprio país estava em guerra. E não apenas isso, a frota holandesa de Ruyter estava derrotando profundamente as marinhas inglesa e francesa juntas. Uma semana depois, os ingleses sofreriam sua derrota decisiva na costa holandesa.
Do ponto de vista de Leeuwenhoek, ele estava experimentando algo que estava tomando muito do seu tempo, que não tinha perspectivas de remuneração, e que ele poderia explicar a apenas alguns de seus companheiros “Delftenaares, cidadãos de Delft”, um dos quais morreria dois dias depois. E uma semana antes, seu mentor Constantijn Huygens tinha escrito à Sociedade Real para preparar o caminho para a carta de Leeuwenhoek:
Eu não poderia deixar, por esta ocasião, de dar-lhe este perfil do homem. Ele é uma pessoa sem formação tanto em ciências e línguas, mas pela sua própria natureza, ele é extremamente curioso e engenhoso, … este homem é muito diligente como pesquisador, embora sempre modestamente submetendo suas experiências e conceitos sobre elas à censura e correção dos sábios mestres.
Leeuwenhoek parecia disposto a expressar essa modéstia. Ele não queria parecer impertinente. Ele queria amenizar as expectativas. Sem preâmbulo, a segunda carta abre (texto de Alle de Brieven / Collected Letters, vol. 1, p. 43, com destaque do autor):
Várias vezes fui pressionado por vários cavalheiros para colocar no papel o que observei por meio de meu microscópio recentemente inventado. Eu sempre me recusei a fazê-lo, primeiro porque eu não tenho estilo ou caneta para expressar meus pensamentos corretamente, em segundo lugar porque eu não fui criado em línguas ou artes, mas no comércio, e em terceiro lugar porque eu não me sinto inclinado a ser acusado ou refutado por outros. Pressionado pelo Dr. Reg. de Graaf, eu pensei melhor sobre minhas intenções e lhe dei um memorial do que eu observei sobre os fungos, a picada e algumas articulações de abelha, e também a picada de piolho, o memorial que ele (Sr. de Graaf) encaminhou para você e me informou de sua resposta. Vejo, por isso, que minhas observações não foram indesejáveis à Sociedade Real e que estes senhores estavam ansiosos para ver as figuras da picada e articulações da abelha que eu afirmei ter visto. Como eu não sou um desenhista, eu mesmo os desenhei, mas as proporções não foram observadas com tanta precisão quanto eu teria desejado. Cada figura foi observada e desenhada por meio de uma determinada lupa; estou te enviando os desenhos envelopados. Peço a você e aos Senhores a cujos olhos isso chegue, tenham em mente que minhas observações e opiniões são apenas o resultado do meu próprio impulso e curiosidade e que não há nesta cidade nenhum amador que, como eu, se aprofunde nesta arte. Tomem minha caneta simples, minha ousadia e minhas opiniões pelo que elas são; elas seguem sem qualquer ordem particular.
Considerando o que aconteceu ao longo da metade do século seguinte, podemos pensar nestas cartas como a segunda das centenas de trechos de suas observações “… sem qualquer ordem em particular”. O homem precisava de um Blog!
Claro, a insegurança não durou, embora Leeuwenhoek nunca tenha perdido sua deferência formal para seus distintos correspondentes, uma forma cordial comum na época. Em pouco tempo, Leeuwenhoek se tornou a pessoa mais famosa de Delft, recebendo visitas da realeza. Seu estilo não o impediu de se tornar o autor mais publicado das Transações Filosóficas, uma distinção que ele ainda possui. As Cartas posteriores ainda cobriam vários tópicos, mas geralmente tinham um foco ou um fio comum.
Para o escritor moderno com uma avaliação mais negativa de Leeuwenhoek – Baas Becking em seu artigo Diletant Imortal de 1924 – parecia que Leeuwenhoek era apenas:
um par de olhos, um par de mãos, dirigido por outras mentes. Pois quando sua própria mente tentou dirigir, ele não conseguia produzir nada além de caos.
A visão mais positiva: dois dos poucos cientistas de classe mundial da República Holandesa, De Graaf e Huygens, estavam de olho em novos talentos. Eles encorajaram Leeuwenhoek desde o início. Leeuwenhoek deve ter retornado a visita a Hofwijk, casa de Huygens em Voorburg, porque na primavera seguinte ele escreveu: “Quando eu estava em sua casa algum tempo atrás.”
O recém-chegado e forasteiro de Delft estava ativamente envolvido com o principal movimento científico revolucionário da época. Ele estava em diálogo ativo com os principais cientistas, Oldenburg, Hooke, de Graaf, Huygens, que o levaram muito a sério!
Mais detalhes de sua época e descoberta no vídeo do Projeto LENS ON LEEUWENHOEK.
Fonte: Tradução livre e adaptação de 1673: Exceedingly curious and industrious. https://lensonleeuwenhoek.net/content/1673-exceedingly-curious-and-industrious