Maurice Bazin: Curriculum Vitae Narrativo

O artigo foi publicado originalmente no primeiro site do Espaço Ciência Viva em 12 de outubro de 2012.

O artigo original foi atualizado com alguns comentários para contextualizar algumas informações – destacadas em fundo colorido – e com a inclusão de imagens e links de algumas das produções de Maurice Jacques Bazin.

FORMAÇÃO INICIAL

Nasci em Paris, França, em 1934.

Minha formação acadêmica incluiu a Ecole Polytechnique onde tirei primeiro lugar no concurso de admissão.

Aprendi línguas estrangeiras em universidades de verão organizadas pela UNESCO na Inglaterra, Áustria e Alemanha.

CARREIRA ACADÊMICA COMO FÍSICO

Fiz meu doutorado (Ph.D.) em Física experimental de altas energias na Universidade de Stanford nos Estados Unidos no grupo do Professor Wolfgang Kurt Hermann “Pief” Panofsky (1919 – 2007), utilizando o acelerador linear de elétrons.

Ao mesmo tempo, escrevi com o matemático Menahem Max Schiffer (Berlim, 1911 — 1997) e o físico Ronald Adler o livro texto Introduction to General Relativity (Introdução à Relatividade Geral: 1a edição em 1965, 2a edição em 1975) que se tornou clássico na pós-graduação no mundo inteiro.

Em 1962-63, trabalhei no Laboratoire de l’Ecole Polytechnique em Paris e no Conseil Européen pour La Recherche Nucléaire (CERN, atual European Laboratory for Particle Physics – Laboratório Europeu para Física de Partículas), estudando partículas elementares com fotografias de câmaras de bolhas.

O decaimento de uma partícula lambda na câmara de bolhas de hidrogênio de 32 cm, 1960. CERN.

Fui contratado pela Universidade de Princeton em 1963 onde ensinei e dirigi várias teses de graduação e de doutorado até 1968 quando aceitei uma posição com “tenure (mandato)” na Universidade de Rutgers. La, criei vários minicursos especializados em física e astronomia.

Participei também da organização do Livingston College da universidade, que encorajava multidisciplinaridade e atendia um público plurirracial. Criei o cursoCiência e Terceiro Mundo” nesta Universidade.

Maurice Bazin joined the Department as Associate Professor in January 1968, having received his Ph.D. in elementary-particle physics from Stanford and served as an assistant professor at Princeton. He had experience in high-energy physics using the bubble chamber techniques and had an interest in the PEPR machine, which Richard Plano was setting up. (pág. 144).

(…) In high energy physics, the bubble chamber group (Plano, Bazin, Watts, and Yamin) made the first observation of a possible new resonance, the Σ(1285), and they were able to confirm the inapplicability of the one pion exchange model from a Regge pole fit to the ppπ+π- final state. (pág. 149)

(…) Other new courses were introduced in 1971. Professor Lindenfeld taught a course, Insights into Physics, designed for those students not intending to major in any science field. Professor Harrington taught a one semester course in astrophysics for seniors, expanding the Department’s offerings in astronomy, and Professor Bazin taught a course in Science and the Peoples of the Third World at Livingston College. (pág. 151)

Maurice Jacques Bazin é citado 3 vezes no capítulo 11 sobre o período de 1964 a 1972 Peter Weiss do livro History of Physics and Astronomy at Rutgers de Allen B. Robbins.

Criei e dirigi o Departamento de Física do Instituto Universitário de Évora em Portugal de 1976 a 1978. [O Instituto foi extinto em 1979 para dar lugar à atual Universidade de Évora].

Me radiquei no Rio de Janeiro e entrei no Departamento de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 1979 como Professor Associado. Lá dirigi várias teses de mestrado em Física experimental de Ótica de Fourier, Astrofísica e Relatividade Geral.

Participei de várias bancas de doutorado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e dei seminários e palestras em muitas universidades.

Junto com o Professor Jayme Tiomno (1920-2011) aproveitei as proclamações midiáticas do Professor Cesare Mansueto Giulio Lattes (César Lattes: 1924-2005) para oferecer apresentações experimento-teóricas sobre a Teoria de Einstein em várias instituições.

TRABALHOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES.
EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO.

Me interessei pelos problemas de formação de professores em contato com colegas de Princeton que participaram da elaboração do programa curricular de física para o ensino médio Physical Science Study Committee [PSSC, Comitê de Estudo de Ciências Físicas, 1956] nos Estados Unidos e propunham o seu uso nos países da América Latina [nas décadas de 1960 e 1970].

Os diferentes materiais produzidos pelo PSSC (livros didáticos, guias para o professor, filmes instrutivos e materiais para laboratório em sala) foram traduzidos e utilizados na educação básica ao redor do mundo durante os anos 1960 e 1970. O Projeto foi traduzido para o português por uma equipe de professores do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC) – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (IBECC-UNESCO), com apoio do Ministério da Educação e Cultura (MEC), entre os anos 1961 e 1964. Podem ser baixados no site da USP em https://fep.if.usp.br/~profis/projetos-ef.html.

Tinha conhecido os problemas sociais do subdesenvolvimento durante uma longa viagem que fiz pela América Latina após terminar meu doutorado nos Estados Unidos em 1962.

Introduzi o curso PSSC no Instituto Pedagógico de Caracas, Venezuela, durante o verão de 1967. Daí em frente, passei todos os verãos universitários formando professores em vários países, dando meus próprios cursos de extensão no Chile e na Argélia ou participando de cursos organizados pela UNESCO em Cuba e em Angola.

Servi, então, várias vezes, de consultor para o Programa de Ciência e Tecnologia das Nações Unidas nos países africanos de língua portuguesa. Minha última missão como consultor da UNESCO foi na Faculdade de Engenharia da Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique em dezembro de 1987.

Durante estes anos encontrei e trabalhei em várias situações com Paulo Freire, iniciando assim uma profunda amizade.

Durante os anos que passei em Portugal (1975-1978) fui convidado pelo Professor Rui dos Santos Gracio (1921-1991) da Fundação Gulbenkian e, então, Secretario de Estado para a Orientação Pedagógica, a integrar a equipe de educadores que preparou e executou o programa de formação /atualização de todos os professores do ensino secundário após a queda do regime fascista português.

Publiquei então, em coautoria com o matemático americano Sam Anderson o livro Ciência e (In)dependência, O Terceiro Mundo frente à Ciência e Tecnologia, 2 volumes, da Coleção Movimento, na casa editora Livros Horizonte, Lisboa (1976).

POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA.  JORNALISMO CIENTÍFICO
ORGANIZAÇÃO DE CENTROS DE CIÊNCIAS

Durante minha permanência em Portugal fui correspondente da Pacifica Radio da rede criada pela Pacific Foundation dos Estados Unidos.

Veja um dos relatos de rádio de Maurice Bazin sobre Ciência, Cultura e Imperialismo no Chile, “The Myth of Science and Cultural Imperialism: The Case of Chile” radio report em WBAI.

E correspondente da revista NATURE no fim dos anos ’70.

Chegando ao Brasil em 1979, continuei como correspondente da NATURE e escrevi sobre as situações tecnológicas novas que penetravam o pais, como o Programa do Álcool, Programa Nuclear, etc.

Veja um artigo sobre ecologia e poluição em “Brazillian ecology: Polluting by decree”, Nature 289, pages 342–343, 1981. E encontre outros artigos de Maurice Bazin na Nature entre 1979 e 1982 em https://www.nature.com/search?author=Maurice%20Bazin

Outra vertente deste meu trabalho educacional e de divulgação foi despertada pela minha primeira visita ao Exploratorium de San Francisco na Califórnia em 1982. Nesta altura, já radicado no Brasil desde 1979, e tendo participado ativamente da criação e da execução do “Seis e Meia da Ciência” da SBPC-RIO, reuni alguns colegas universitários para fundar o Espaço Ciência Viva, como mais uma contribuição para as atividades de divulgação científica da comunidade de cientistas brasileiros.

As atividades do Espaço Ciência Viva em lugares públicos do Rio de Janeiro trouxeram por primeira vez no Brasil uma Ciência praticável por todos ao ar livre.

Em conjunto com Associações de Moradores e DECs de muitos bairros da cidade e do Município, “Apagaram-se as Luzes da Praça Saenz Peña para ver o Céu mais de perto“, como anunciou certa vez o JORNAL DO BRASIL na primeira página.

Outras atividades de popularização da Ciência levaram a equipe do Espaço Ciência Viva ao Jardim Botânico onde se descobriu a presença de bactérias magnéticas nos riachos que alimentam a Lagoa Rodrigo de Freitas.

A atividade chamada “Noite do Céu” foi levada à Praça Santos Dumont em Nova Iguaçu e contou com a participação do MAST e do Professor Rogério Mourão com sua coleção pessoal de grandes lunetas.

Em muitas das atividades de astronomia e de biologia o grupo de teatro carioca “Tá na Rua” dirigido por Amir Haddad juntou-se aos cientistas do Espaço Ciência Viva criando assim eventos culturais ricos, científicos e participativos.

Na inauguração do Espaço Ciência Viva na sua sede definitiva na Tijuca foi mostrada a única exposição originada da Índia sobre a catástrofe de Bhopal [na época no Brasil].

A Tragédia de Bhopal foi uma explosão com liberação de gás tóxico ocorrida na empresa norte-americana Union Carbide, instalada no centro de uma cidade com grande população indiana com uma manutenção precária, ao final de 1984. Mais de 500.000 pessoas foram expostas ao gás isocianato de metila, com uma estimativa de mais de 2000 pessoas mortas logo após a exposição ao gás e estimativas de 8000 nos anos seguintes (não oficial).

A exposição produzida em papel reciclado foi trazida do I Encontro Internacional de Popularização da Ciência, diretamente da Índia, pela Profa. Tania Araújo Jorge].

Poster de criança que teve olhos queimados e foi morta pelo gás. Campanha internacional Justiça para Bhopal em https://www.bhopal.net/resources/campaign-resources/

Esta sede, um galpão remanescente das obras do Metro, foi cedida pela Secretaria Estadual do Planejamento no chamado primeiro governo de Leonel Brizola (1983-1987) no Rio de Janeiro.

Programas de formação de professores e de estudantes normalistas foram criados no Espaço, em parte através de convênio firmado com a Secretaria Municipal de Educação.

Ainda em 1987, Bazin escreveu o artigo Tales of Underdevelopment (Contos do Subdesenvolvimento) da revista RACE & CLASS, 1 jan 1987. E outro artigo, em abril de 1993, Our Sciences, Their Science (Nossas Ciências, A Ciência Deles). As brochuras da revista podem ser vistas e compradas em https://journals.sagepub.com/toc/racb/28/3 e https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/030639689303400404 , respectivamente.

Em 1987, recebi uma das primeiras bolsas ASHOKA no Brasil. Pude então me dedicar mais e mais à organização institucional do Espaço Ciência Viva.

Veja a página da Fundação Ashoka dedicada a Maurice Bazin em https://www.ashoka.org/pt-br/fellow/maurice-bazin .

Organizei a vinda das exposições de Matemática “Horizons Mathematiques” criada em Orleans e Bourges (1987, 1989 e depois no Maths2000), exposta na época no Musée de La Villette e que circulou por mais de 50 países e 200 cidades).

E da exposição “Historia da Sexualidade” do Musée d’Histoire Naturelle de Paris.

Nesta ocasião [da exposição sobre sexualidade ], organizei uma semana de divulgação sobre AIDS com a participação de Betinho.

Betinho (Herbert José de Souza, 1935-1997) foi um sociólogo, hemofílico e grande ativista do movimento de portadores do vírus HIV (que ele descobriu ter contraído em 1986 por transfusão de sangue).

Ele foi criador da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) e idealizador da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. no Brasil.

Passei três meses no Exploratorium em 1988, estudando o seu funcionamento e participando da criação de experimentos participativos e de programas de formação continuada de professores do próprio museu.

 De 1988 até 1990, fui cedido pelo CTC da PUC/RJ à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia dirigida pelo Dr. José Pelucio Ferreira (1928-2002) com quem cooperei na organização de eventos científicos em várias cidades do Estado. Apoiando o programa de ação da Secretaria, a pedido do Professor Pelucio participei da reanimação do  Centro de Ciências do Estado e organizei, a partir do Espaço Ciência Viva, a formação de seus professores.

De 1990 até 1996, dividi o meu tempo entre o Espaço Ciência Viva no Brasil, o Exploratorium onde fui codiretor do Teacher Institute (Instituto de Professores), e um centro comunitário de Ciências bilingue chamado “Mission Science Workshop/Taller de Ciencias de la Mission” em San Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos [ fundado em 1991 na garagem de Dan Sundran (1944-2022)].

Recebi o título de Doctor Honoris Causa pela Open University, Inglaterra, em 28 de maio de 1994 [pelo seu trabalho em Física e Educação em Ciência].

Em março de 1996, fui convidado como consultor pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná para coordenar e oferecer uma série de oficinas de Ciências para 200 professores da 5a à 8a série.

Em junho de 1997, coordenei e executei com 24 colegas a formação em Ciências de 450 professores na Universidade do Professor no Paraná.

A Universidade do Professor no Paraná foi criada no primeiro governo do professor, arquiteto, engenheiro civil e urbanista Jaime Lerner (DEM, 1995-1998). Entretanto, foi fechada em 2011 pelo governo de Beto Richa (PSDB, 2011-2018) e o governo de Ratinho Jr. (PSD, 2019-2023) pretende vender o local.

Ofereci durante estes anos várias oficinas de ciências e matemática no Museu de Astronomia do Rio de Janeiro, no Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR – atual Universidade Tecnológica Federal do Paraná) em Curitiba e na Escola Técnica de Florianópolis.

Dei a palestra inaugural do Encontro Nacional de Centros de Divulgação Científica na Casa da Ciência, Rio de Janeiro, 1997.

Entre 1995 e 1998, publiquei a “Exploratorium Teacher Activity Series” que oferece atividades em Ciências para professores, baseadas em criações de várias culturas.

  • O primeiro fascículo, “Math Across Cultures” (Matemática em Culturas) foi  publicado em 1995;
  • O segundo, “Science across Cultures” (Ciência em Culturas) em 1997,
  • E o terceiro, “Patterns across Cultures” (Padrões em Culturas) em 1998.

Eles propõem atividades de matemática que utilizam documentos Maias, Incas e Egípcios. e atividades de física e química baseadas em técnicas de povos nativos das Américas, da África e da Ásia.

Destes trabalhos resultou um livro:

Math  and Science Across Cultures; Activities and Investigations from the Exploratorium. de Maurice Bazin, Modesto Tamez and the Exploratorium Teacher Institute. New York: The New Press, 2002.

No Rio de Janeiro publiquei vários artigos na revista Ciência Hoje das Crianças e um no número zero da revista Explora, também iniciada pela SBPC-RIO.

Colaborei regularmente na página de Ciência e Tecnologia no jornal “A Noticia” de Joinville, Santa Catarina em 1999 e 2000.

Preparo também um livro de ensino de Matemática e Ciências a partir das técnicas de cestaria dos povos indígenas das Américas.

Leia mais informações sobre o projeto na postagem Escola Tuyuka – Ensinar Matemática e Ciência Indígenas.

Sou consultor do Pavilhão do Conhecimento/Centro Ciência Viva de Lisboa inaugurado em julho de 1999.

Bazin juntamente com Elisa Figueira, Helena Fonseca, Carlos Rodrigues e equipe da Unidade Ciência Viva fez revisão e sugestões para o projeto educativo Onde Estás? publicado em 1999. O livro em sua apresentação faz agradecimentos pela colaboração na produção do livro.

A Unidade Ciência Viva agradece ao Prof. Rui Dilão a concepção deste trabalho. Ao Prof. Maurice Bazin e à Drª Elisa Figueira que seguiram, testaram e discutiram, desde a primeira hora, as várias versões, os nossos maiores agradecimentos.

Sou consultor da ONG Instituto Socioambiental para apoio ao povo Tuyuka no Alto Rio Negro.

Uma das produções coletivas de Bazin trata-se de um guia para pesquisas sobre os conceitos matemáticos tuyuka do alto Tiquié. Apresenta atividades para os alunos e dicas para os professores.

O livro é resultado de atividades desenvolvidas na Escola Tuyuka como as diversas oficinas de matemática realizadas pela parceria entre o ISA, a Foirn e a Associação Escola Indígena Utapinopona Tuyuka, orientadas por Maurice Bazin. Abaixo você poderá ver o livro KEORE (MEDIR) produzido sobre a Matemática Tuyuka, divulgada pelo ISSUU.

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