Este material foi traduzido para português do Projeto Oceánicas que desenvolve várias atividades para celebrar e preservar os oceanos.
Um dos trabalhos do projeto é Oceánicas: pioneras de la oceanografía onde contam a história de 10 cientistas ilustres, algumas delas bastante esquecidas e desconhecidas. Desde a primeira e única mulher que deu a volta ao mundo durante a época das grandes explorações até mulheres atuais que lideram a luta pela Conservação do Oceano – grande sonho da Década do Oceano (2021-2030) que iniciou em 2021.
Todas as Oceânicas são referências maravilhosas, necessárias e inspiradoras às jovens que sonham ser cientistas e pesquisadoras marinhas.
A Mudança Climática, a Sobrepesca e a Contaminação ameaçam transformar o oceano para sempre.
Isto torna o acesso equitativo de mulheres e homens a todos os campos das ciências marinhas, incluindo a sua presença em postos de responsabilidade, mais necessário do que nunca.
Temos um desafio enorme e precisamos contar com todos os talentos da humanidade.
Para nos inspirar, vamos conhecer hoje uma mulher, cientista, botânica e viajante – uma Argonauta do Oceano.
Jeanne Baret: A primeira mulher a dar a volta ao mundo
Jeanne Baret (1740-1807) foi uma botânica francesa e a primeira mulher a dar a volta ao mundo através de seus oceanos, muito antes da oceanografia existir como uma ciência. Isto aconteceu entre 1767 e 1776 e ele teve que fazê-lo disfarçada de homem.
Jeanne nasceu em 1740 em La Comelle, uma pequena vila francesa onde ela cresceu e viveu, ajudando seu pai na fazenda da família, mas quando seu pai morreu, sua vida mudou radicalmente. E ela acabou indo trabalhar como governanta para o filho de um cientista, Philibert Commerson, que mais tarde seria nomeado botânico do rei Luís XVI. Com Philibert, ela começou a aprender botânica, tornou-se sua assistente e se apaixonaram.
Em 1765, Commerson foi chamado para participar da primeira expedição francesa para dar a volta ao mundo, uma viagem realizada a bordo de dois navios de guerra – o La Boudeuse e o L’Étoile (A Estrela) – e durante a qual, foi elaborado um catálogo com espécies de todo o planeta. Assim, eles logo embarcariam no navio Étoile.
O Étoile partiu de Nantes, França, em 1766. Seu objetivo era navegar ao redor do mundo. Uma das primeiras paradas feitas durante a viagem foi em Montevidéu, no Uruguai. Commerson e Baret coletaram amostras de plantas e observaram o ambiente circundante. Durante esta excursão, Commerson estava doente e não podia fazer muito, então Baret assumiu a maior parte do trabalho. Após a parada em Montevidéu, o navio navegou para o Rio de Janeiro, Brasil. E, mais uma vez, Commerson e Baret tiveram a oportunidade de explorar o território e observar suas plantas. Acredita-se que Baret foi quem descobriu uma estranha nova videira enfeitada com flores rosas e roxas brilhantes ao desembarcarem no Rio de Janeiro. Baret nomeou a nova planta de Bougainvillea em homenagem ao líder da expedição Louis-Antoine de Bougainville .
Depois de navegar com sucesso pelo Estreito de Magalhães na ponta da América do Sul, o Étoile chegou ao Taiti em 1767. Eles encontraram belas mulheres nativas. Então, Bougainville chamou a região de Nova Cythera. Na mitologia grega, pensava-se que Cythera era o berço da deusa do amor e da beleza.
Jeanne Baret o acompanhou como assistente, mas escondendo que era mulher, pois as mulheres eram proibidas de embarcar em navios da Marinha Real Francesa. Baret foi capaz de esconder sua verdadeira identidade da tripulação durante grande parte da viagem, permanecendo reservada e defensiva. Mas sua verdadeira identidade foi revelada no Haiti. Os historiadores não sabem a história real de como a revelação ocorreu. Um relato nota que quando ela desembarcou no Taiti, os nativos taitianos rapidamente notaram seu gênero. Quando levada de volta a bordo do Étoile, ela confessou ter mentido e revelou sua verdadeira identidade.
No entanto, eles foram autorizados a continuar a viagem para a Ilha Maurício, onde se casariam e, alguns anos depois, 1773, Commerson morreria. Após a morte de Commerson, Jeanne Baret se casou com um soldado francês, Jean Dubernat e retornou à França, completando finalmente sua volta ao mundo.
Baret chegou à Paris em 1776 com uma coleção de mais de 5.000 espécies de plantas, sendo a primeira mulher a dar a volta ao mundo. Em sua época, ela foi reconhecida até pelo rei Luís XVI, que a parabenizou e a descreveu como uma “mulher extraordinária”, atribuindo-lhe uma renda vitalícia. No entanto, posteriormente ela caiu no esquecimento dos historiadores e da sociedade, até reaparecer recentemente na Bela História das Oceânicas.
Até a próxima Oceânica!
O texto original pode ser obtido aqui. E o livro completo com as 10 Oceânicas Pioneiras aqui. Todo o material original está disponível com a Licença Creative Commons CC BY NC ND. 2021 – Licencia CREATIVE COMMONS Reconocimiento-NoComercial-SinObraDerivada 4.0 Internacional
Para saber mais
The extraordinary circumnavigation of Jeanne Baret. Myffanwy Bryant. Postado em 27 Jul. 2020. Australian National Maritime Museum. Disponível em https://www.sea.museum/2020/07/27/the-extraordinary-circumnavigation-of-jeanne-baret.
Jeanne Baret. Explorer Modern. The Ages of Exploration. Mariners’ Museum & Park. Disponível em https://exploration.marinersmuseum.org/subject/jeanne-baret/.