Oceânicas Pioneiras: Jeanne Villepreux

Coleção Oceânicas Pioneiras.

Este material foi traduzido para português do Projeto Oceánicas que desenvolve várias atividades para celebrar e preservar o oceano.

Um dos trabalhos do projeto é  Oceánicas: pioneras de la oceanografía onde contam a história de 10 cientistas ilustres, algumas delas bastante esquecidas e desconhecidas. Desde a primeira e única mulher que deu a volta ao mundo durante a época das grandes explorações até mulheres atuais que lideram a luta pela Conservação do Oceano – grande sonho da Década do Oceano (2021-2030) que iniciou em 2021.

Todas as Oceânicas são referências maravilhosas, necessárias e inspiradoras às jovens que sonham ser cientistas e pesquisadoras marinhas.

A Mudança Climática, a Sobrepesca e a Contaminação ameaçam transformar o oceano para sempre.

Isto torna o acesso equitativo de mulheres e homens a todos os campos das ciências marinhas, incluindo a sua presença em postos de responsabilidade, mais necessário do que nunca.

Temos um desafio enorme e precisamos contar com todos os talentos da humanidade.

Para nos inspirar, vamos conhecer hoje mais uma mulher, cientista marinha – uma Argonauta do Oceano.

Jeanne Villepreux: A Mãe dos Aquários Marinhos

Jeanne Villepreux (1794-1871) nasceu em uma pequena cidade francesa em 1794, bem no meio da Revolução Francesa (1789-1799). Filha de um fabricante de sapatos.

Marcha de Mulheres à Versalhes, 5-6 de outubro de 1789. Estampa. Autor não identificado. Biblioteca Nacional Francesa. Gallica. Licença Uso sem fins comerciais. Disponível aqui.

Em sua cidade, ela aprendeu a ler e escrever de forma autodidata, antes de ir para Paris aos 18 anos. 

Trabalhou como costureira por um tempo até que, em 1816, graças a um vestido de casamento que tricotou para a Princesa Caroline (filha mais velha do Rei Francisco I das Duas Sicílias, ao se casar com Carlos Fernando de Artois, Duque de Berry e sobrinho do Rei Luis XVIII da França), ela conheceu o comerciante irlandês James Power com quem se casou em 1818 na Sicília. 

Foi nesta ilha italiana que ela despertou o seu interesse pelas ciências naturais. Ela explorou a Sicília a pé durante anos, coletou conchas, borboletas, fósseis, minerais … e escreveu um guia completo sobre a história natural e cultural da ilha.

Seu primeiro livro foi publicado em 1839 descrevendo seus experimentos, chamado Observations et expériences physiques sur plusieurs animaux marins et terrestres.

Ela explorou a Sicília a pé durante anos, coletou conchas, borboletas, fósseis, minerais … e escreveu um guia completo sobre a história natural e cultural da ilha, chamado Guida per la Sicilia, foi publicado em 1842.

Inventou Aquários para estudar a fauna marinha

O seu especial interesse e curiosidade pela vida marinha levou Jeanne a inventar uma das ferramentas mais básicas e fundamentais da ciência marinha: os aquários

Jeanne, entretanto, não se contentou com estudos puramente descritivos de espécimes mortos; ela estava animada com a vida e seus mistérios. Vivendo na orla do Mediterrâneo, ela tinha tudo à sua disposição para realizar um estudo da vida aquática. Para fazer boas observações, ela projetou três tipos diferentes de aquários – um para uso em um estudo, outros ancorados no fundo do mar.

Claude Arnal, Juillac. Boletim da Sociedade Malacológica de Londres. Original disponível aqui.

E não só os inventou, mas também encontrou alguns dos seus maiores usos:

  • por um lado, serviam para observar a fauna marinha e estudar o seu comportamento; 
  • de outro, para repovoar peixes em rios onde quase desapareceram. 
© Hans Hillewaert. Nautilus pompilius. Nautilus em Pairi Daiza, Brugelette, Bélgica. Licença CC BY-SA 4.0.

Assim, eles criaram espécimes jovens em seus aquários e os soltaram em áreas onde já não existiam.

Uma de suas maiores descobertas foi mostrar que era falso que o Nautilus, um molusco muito parecido com os polvos, mas com uma concha, roubasse suas conchas de outros animais, como fazem os caranguejos eremitas, e mostrou que, em vez disso, ele as construía. 

Argonauta argo. Comingio Merculiano (1845–1915) in Jatta Giuseppe — I Cefalopodi viventi nel Golfo di Napoli (sistematica) : monografia. Wikipedia. Licença Domínio Público.

Ela também observou polvos comuns e mostrou que eles eram capazes de usar ferramentas, algo que poucos animais – marinhos ou terrestres – fazem.

No ano seguinte, Jeanne e seu marido se mudaram da Sicília para novas residências em Londres e Paris. Em 1843, durante esse trânsito, grande parte de suas coleções, registros e outros materiais científicos foram perdidos quando o navio que transportava esses itens afundou. Embora ela tenha continuado a escrever depois disso, ela interrompeu suas pesquisas.

Jeanne Villepreux foi aceita em mais de uma dúzia de Academias de Ciências, incluindo a London Zoological Society (Londres) e a Gioenian Academy of Natural Sciences em Catania (Sicília). 

Em 1858, o anatomista e paleontólogo britânico Richard Owen a chamou de a Mãe da Aquariofilia.

 Em 1997, uma grande cratera na superfície de Vênus foi batizada em sua homenagem.

Jeanne abriu novos caminhos para o estudo e a preservação de seres marinhos ou aquáticos.

Até a próxima Oceânica!

Para saber mais

O texto original pode ser obtido aqui.

E o livro completo com as 10 Oceânicas Pioneiras aqui.

Todo o material original está disponível com a Licença Creative Commons 4.0 CC BY NC ND2021.

Deixe um comentário