Poemar: Poema do mar e da serra

Imagem de capa: Nascer do Sol no Dedo de Deus. Parque Nacional da Serra dos Orgãos, 2011. Carlos Perez Couto. Wikipedia. Licença CC-BY-SA-3.0.

Sobre o autor

António José Branquinho da Fonseca (Mortágua, 4-5-1905 – Malveira da Serra, 16-5-1974).

Como escritor, Branquinho da Fonseca experimentou vários modos e gêneros literários, desde o poema lírico ao conto, passando pelo romance, a novela, o texto dramático e o poema em prosa.

Como artista, interessou-se também pela fotografia, o desenho, o cinema e o design gráfico.

É, por exemplo, de sua autoria o logótipo da Presença (1927-1940), revista que fundou e ajudou a amadurecer, na companhia de José Régio e João Gaspar Simões. Esta edição cumpre um ofício cultural que Branquinho da Fonseca – um homem que gostava de livros – certamente aprovaria.

Quem conhece a sua obra fica agradecido pela oportunidade de a reler, de forma contextualizada e mais intensa; quem não a conhece tem agora a possibilidade de sentir o prazer imenso de ceder ao fascínio de «um dos feiticeiros da Literatura Portuguesa», como, em momento de feliz inspiração, Pierre Hourcade designou Branquinho da Fonseca. Creio que muitos leitores ficarão surpreendidos e se deixarão agradavelmente contaminar pelo feitiço.» In Editorial.

Fonte: https://imprensanacional.pt/edicoes/branquinho-da-fonseca-obras-completas-vol-i/

Para saber mais sobre o autor português, visite sua página no site do Instituto Camões: http://cvc.instituto-camoes.pt/pessoas/branquinho-da-fonseca.html#.Y6ysw3bMLrc.

Vista da Praia do Ubatumirim e Estaleiro do Padre e, ao fundo, a Serra do Mar (área de proteção ambiental). A estrada leva também as Praias da Almada, Engenho e Brava da Almada. DeyvesMartins. Wikipedia. Licença CC-BY-SA-4.0.

Poema do Mar e da Serra

 

António José Branquinho da Fonseca, Obras Completas, vol. I.

Ó mar, de que não sei nada

Nem vejo que desvendar,

És só a mais larga estrada

Para ir e voltar!

Eu sou lá dos montes

Que medem o céu,

Sou das frias serras onde primeiro o Sol nasceu

E onde os rios ainda são apenas fontes.

Sou de onde as árvores falam

A língua que eu conheço,

Onde de mim sei tudo

E do resto me esqueço.

Lá, tenho olhar de estrelas a luzir

E tenho voz de guardador de rebanhos,

Passos de quem só desce pra subir,

Mãos sem perdas nem ganhos.

Contigo falo, ó mar,

Se a Lua vem do céu passear no mundo,

Tornando-te a planície do luar

Sem ecos nem mistérios de profundo.

Mas só lá sou da terra e a terra é minha,

Só lá eu sou do céu e o céu é para mim,

Ó serra aonde há tal serenidade

Que nada tem começo

Nem fim.

 

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