Universo em escala: A semana e o mês lunar.

– “A Lua quebrou!”, disse Sara (2 anos) quando lhe perguntei o que aconteceu com a Lua.

– Mas quem quebrou a Lua? perguntei.

-“Huuuummmm, ela caiu e quebrou.”

 

A Lua é um astro que, como vemos daqui, gira em torno da Terra. Mas diferente das estrelas, em particular do Sol, não tem luz própria. Nós apenas conseguimos vê-la brilhando em todo o seu esplendor no céu porque ela reflete a luz do Sol que atinge sua superfície, espalhando seu brilho e seu charme em varias direções. Isto gera uma série de fenômenos que têm intrigado a humanidade desde os tempos mais antigos:

  •  as extraordinárias mudanças que a Lua sofre ao longo dos dias e das noites. Uma noite após outra a LUA vai sofrendo alterações lentamente na sua forma:
    •  uma noite brilha como uma enorme bola prateada e manchada,
    • outra noite parece que a bola está desaparecendo, reduzindo cada vez mais a região prateada, parecendo que está sendo lentamente devorada.
    • até que numa noite, ela não aparece, desaparecendo por completo.
    • mas antes que possamos ficar com saudades, ela começa a reaparecer novamente nas noites seguintes,
    • até que, finalmente, ressurge inteira, brilhando como uma enorme bola prateada novamente.

Este espetacular e intrigante fenômeno inspirou e amedontrou muitos povos e civilizações. Muitas histórias, mitos e lendas foram criadas tentando explicá-lo.

Deusa Maia da Lua representada em um vaso. Neste vaso ( Kerr 559, Museu de Boston) a deusa lunar Ix Chel é apresentada com seu atributo de fertilidade. Ela segura o Coelho da Lua.

Mas a curiosidade humana não se contenta com essas primeiras observações, e sua capacidade de observação, experimentação e análise logo fez a humanidade perceber que as transformações ocorriam repetida e regularmente de tempos e tempos. Contando-se as sucessivas noites, os sábios e curiosos de todos os tempos perceberam que entre uma noite de Lua “inteira” e outra consecutiva, aproximadamente 28-29 noites se passariam. E isto não se alterava, formava um ciclo preciso. Surgia, então, mais um forte indicador natural do tempo: o mês lunar.

Outros indicadores naturais do tempo, todos observacionais, já existiam desde momentos pré-históricos como o nascimento e/ou ocaso do Sol, indicando e determinando a passagem dos dias. Também já se tinha uma certa noção sobre o ano solar, na realidade uma noção bem precisa pois várias foram as civilizações que de formas diferentes determinaram os 365 dias deste fenômeno cíclico. Ápesar disto, devemos ter claro que tais noções eram bem diferentes das atuais, pois partiam da observação dos astros celestes e não da definição de ano solar atual, como o intervalo de tempo necessário para a Terra completar uma volta ao redor do Sol.

E nem poderiam, pois nestes momentos longínquos de nossa história nem se acreditava, nem se imaginava que a Terra fosse um astro girando ao redor do Sol. Mas, então, você consegue imaginar o que é possível observar nos movimentos dos astros e em outros fenômenos associados em 365 dias? Deixaremos você com esta curiosidade, esperando que se torne mais observador e retornaremos a nossa Lua.

Em diferentes civilizações logo surgiu a ideia de usar o intervalo de tempo cíclico da Lua, como outro indicador temporal – um divisor do ano solar.

Os dias solares

A unidade básica de contagem do tempo mais antiga certamente é o dia solar, indicado pelo astro solar. Mas quando começa um novo dia?

Atualmente cada dia é contado a partir da meia-noite até a meia-noite seguinte, mas nem sempre foi assim. Astrônomos, por exemplo, desde o século II de nossa era até 1925 contavam os dias do meio-dia até o meio-dia consecutivo. Em antigas civilizações e entre povos primitivos, onde havia pouca comunicação entre diferentes grupos e regiões, métodos diferentes de contar os dias surgiram, comprovando a grande capacidade criativa da espécie humana.

  • Muitos povos antigos usavam uma contagem iniciada no nascer do sol, chamando uma sucessão de nascimentos do sol de “sóis”; este sistema continuou entre os babilônios e gregos que contavam os dias do nascer até o nascer seguinte do sol. É comum, ainda hoje, expressões do tipo: “Trabalhando de sol a sol“.
  • No Egito, o dia começava à meia-noite.
  • Os hebreus e, mais tarde os italianos, adotaram como início do dia, o por do Sol, fato que se mantém em seu calendário religioso até hoje.
  • Os teutões (antigos germânicos) contavam as noites, e criaram agrupamentos de 14 dias (2 semanas), do qual derivou a “quinzena” atual.

As Semanas

Surgiram muitas divisões diferentes para o dia, mas uma vez adotada uma divisão e escolhidos o que determinaria o início e o fim do dia, a próxima tarefa era agrupar os dias em grupos.

  • Na África Ocidental, alguns povos usavam um intervalo de 4 dias,
  • na Ásia Central era comum uma “semana” de cinco dias;
  • os assírios antigos dividiam o mês lunar em dois períodos, um de 15 dias e um de 14 ou 15 dias (sapattum = dia da lua cheia?); e também usavam uma unidade hamustum (= “1/5”) que varia de quantidades de dias em diferentes documentos (de 5, 6, 7 e 10 dias). Considerando um mês de 30 dias, hamustum (1/5) pode corresponder a um período de 6 dias.
  • os egípcios antigos dividiam o mês (30 dias) em três periodos de 10 dias, E quatro meses formavam uma estação de 120 dias.
  • os babilônios atribuiam uma importância especial aos dias de lunação usando múltiplos de 7. O 7o , 14o, 21o e 28o dias após a Lua Nova eram dias comemorativos,
  • os maias e astecas, diferentes dos demais, não criaram intervalos menores como as “semanas”. Estes povos da América Central preferiram usar “meses” de 20 dias. (Seu sistema numérico era de base 20).

Nestes diferentes exemplos, percebemos a grande necessidade que as diferentes culturas já tinham de organizar o “tempo”, de criar sistemas que ajudassem a regular o ritmo da vida social, religiosa e do trabalho da comunidade.

A semana de 7 dias deve sua origem parcialmente nas 4 fases da Lua, de aproximadamente 7 dias, e parcialmente na crença babilônica de que o número 7 fosse sagrado, o que provavelmente estava relacionado ao fato de conhecerem 5 planetas que com o Sol e a Lua formavam os sete astros errantes, além das longínquoas estrelas fixas. Mais tarde, por volta do século I de nossa era, a semana de 7 dias hebraica parece ter sido adotada por todo o império romano, o que influenciou bastante o mundo como o conhecemos hoje.

A origem dos nomes dos dias da semana é de caráter astrônomico e mitológico, sendo consagrados aos deuses latinos ou escandinavos correspondentes aos principais astros errantes conhecidos.

Eles homenagearam os principais astros celestes errantes conhecidos até aquela época. Isto permanece até os nossos dias em algumas línguas como:

Planeta / Astro Nome Latim Francês Nórdico / Saxônico Inglês
Sol Dies Solis Dimanche Sunnudagr /Sonntag
Siegel, deus Sol.
Sunday (Sun, Sol)
Lua Dies Lunae Lundi Mánadagr / Montag
Máni, deusa Lua.
Monday (Moon, Lua)
Marte Dies Martis Mardi   Tisdagr / Dienstag
Tir, deus da guerra e justiça
Tuesday (Marte)
Mercúrio Dies Mercurii  Mercredi Odinsdagr/ Mittwoch, Dia de Odin. Wednesday (Mercúrio)
Júpiter Dies Jovis Jeudi   Thorsdagr/Donerstag, Thor, deus do Trovão. Thurday (Júpiter)
Vênus Dies Veneri Vendredi Frjadagr / Freitag, dia de Freyja, esposa de Odin. Friday (Vênus)
Saturno Dies Saturni Samedi Laugardagr /Samstag, dia do banho. Saturday (Saturno)

Nos países de língua portuguêsa, estes nomes foram abolidos pela Igreja Católica Apostólica Romana, por considerar isto uma homenagem a antigos deuses “pagãos”, permanecendo apenas uma “lembrança” deste sistema no primeiro e último dias: Domingo e Sábado.

O Mês Lunar

O período de lunação, isto é, o intervalo de tempo entre duas Luas Cheias é de aproximadamente 29 dias e meio (um pouco maior do que o intervalo que leva para dar uma volta completa em torno da Terra: aproximadamente 28 dias) um número fácil de reconhecer e pequeno o suficiente para contar os dias sem a necessidade de números muito grandes.

Todos os antigos calendários eram, essencialmente, coleções de meses.

  • Os babilônios usavam períodos alternados de 29 e de 30 dias;
  • os egípcios fixaram a duração de todos os meses em 30 dias;
  • os gregos copiaram os egípcios ;
  • os maias e astecas fixaram a duração de todos os meses em 20 dias (e um de 5 dias para completar o ano solar).
  • O calendário romano e o juliano possuem um sistema um pouco mais sofisticado, tentando ajustar-se aos 365 dias do ano solar, usando um mês de 28 dias e com os demais possuindo 30 ou 31 dias.

A Lua leva cerca de 28 dias para dar uma volta completa em torno da Terra e, por isso, a cada 7 dias, ela gira 1/4 de volta ao redor do planeta, aparecendo com “caras” diferentes a cada semana.

A Lua gira sempre na mesma direção da rotação da Terra, próxima ao plano da linha do equador terrestre. Como a Terra está inclinada em relação a sua órbita em torno do Sol, a Lua gira em volta da Terra, acompanhando esta inclinação.

A luz do Sol sempre ilumina exatamente uma metade da Lua, ou seja, na Lua, também existe uma metade clara (dia claro) e uma metade escura (noite). Isto nos leva a seguinte curiosidade:

  • Será que os dias e as noites na Lua são iguais aos nossos aqui na Terra?
  • Quanto tempo dura uma noite lá na Lua?

Deixaremos você pensando sobre esta questão com a seguinte dica: pense só no Sol e na Lua e será fácil chegar a uma conclusão!

A GENTE PRECISA VER O LUAR

A Lua, depois do Sol, certamente é o astro celeste que mais impressiona todas as civilizações que conseguiram se constituir em nosso lindo planeta azul. Inspirando poetas, cientistas, músicos e loucos.

Atualmente dispomos desde muito cedo de uma série de informações sobre estes astros e acreditamos nelas cegamente. Entretanto, dificilmente paramos para observá-la cuidadosa e meticulosamente.

As civilizações da América Central, os maias e os astecas, acreditavam que uma grande civilização ou uma sociedade só poderia florescer, caso mantivesse observações e registros meticulosos dos fenômenos celestes, ou seja, mantivesse estudos e análises dos astros e seus movimentos. E nesta perspectiva, estes povos foram admiravelmente fantásticos em sua capacidade de observação celeste.

“A Lua girou, girou, traçou no céu um compasso”. (Milton Nascimento)

  • Mas o que podemos, como os povos antigos, observar e perceber, a olhos nús, da Lua?
  • Quais os movimentos caracteríticos da  Lua?
  • Quais os seus caminhos pelo céu?
  • O Sol nasce todos os dias aproximadamente às 6 h da manhã, pelo menos na maioria das cidades brasileiras, com pequenas variações ao longo do ano. E quanto a Lua? A que horas ela nasce e a que horas ela se põe todos os dias?
  • Como podemos perceber a influência da Lua sobre as marés? Que fenômenos correlatos são realmente observáveis?

Além de observações diretas da Lua, que podem ser feitas diretamente ou através de telescópios disponíveis em Planetários, Clubes de Astrônomos Amadores ou Museus de Astronomia, podemos também aproveitar as informações metereológicas publicadas diariamente em todos os jornais para complementar nossos estudos.

Mas é fundamental que façamos também modelos com os quais possamos fazer simulações e comprová-las com nossas observações e informações.

No próximo artigo, iremos construir um Modelo em Escala do Sistema Terra-Lua, com seus tamanhos e distâncias e movimentos.