Enredo G.R.E.S. 2022, fonte: http://www.gresportela.org.br/Enredo
Enredo Igi Osè Baobá
Pilar que une o céu e a terra!
Elo entre vivos e mortos.
Deus vivo e presente, és tu ó Baobá,
árvore sagrada testemunha do tempo.
O guerreiro de Oyó contempla Igi Osé.
Ele sente a energia.
Evoca proteção com afeto e respeito.
O tronco é seu templo, e ali expressa sua religiosidade.
Saluba Nanã! Mãe de todos nós.
Tuas águas abundantes repousam no tronco do Baobá,
nutrindo a terra.
Por ti os galhos se vestem de ojás lilás.
Orixás e vegetal estão unidos na energia sagrada…
Salve o Rei Dono da Terra!
Omulu, curai-nos de todos os males
que assolam nosso Aiyê!
Árvore da vida, ó Baobá.
Tu emanas a energia primeva
que no solo africano faz eclodir a natureza.
É ela que sopra o vento da savana, e faz teus galhos balançarem.
A fauna passeia livremente ao seu redor,
e tudo se doura sob a luz do Sol.
Teus frutos, folhas e sementes
são alimentos e remédios para os seres vivos.
Tu és mãe que sacia nossa sede e fome.
Sob tua copa, oferece generosa e benfazeja sombra
em meio à aridez das regiões onde impera.
Tuas raízes representam os ancestrais de nossas comunidades,
aconselham-nos e ajudam-nos a seguir com coragem e decisão.
Em Ajudá, o Rei Guezo nos fez esquecer…
Voltas e voltas em torno de ti
para apagar toda nossa devoção, nossas lembranças,
torná-la “Árvore do Esquecimento”.
Portal do Não Retorno jamais conseguiu.
Fizemos de teu tronco, aparentemente tombado,
a balsa que atravessou oceanos
para nos levar rumo ao desconhecido.
E assim tuas raízes uniram dois mundos.
Tua força multiplicada ganhou novo significado em terras distantes.
Baobá, Árvore da Resistência!
Todos os solos pisados por pés africanos,
sob a poeira da resiliência,
fez com que a cultura negra semeasse pelas Américas,
germinando um Novo Mundo e a representação de sua fé.
E se algum desalento nos toca, ao olhar para teu esplendor,
nos conectamos em seus firmes troncos com nossa herança,
e nos revitalizamos com a energia de nossos antepassados.
Fincamos em tuas raízes profundas valores e crenças
que nenhum preconceito é capaz de fazê-los tombar.
E no solo rochoso da discriminação,
elas encontraram fendas para ir mais além,
penetrando mais profundamente no solo,
até, finalmente, encontrar a esperança.
E assim o tempo passou.
Ora calmo, ora agitado como o vento a balançar tuas folhas…
E sob o Arco-íris de Oxumaré,
tudo tornou-se menos sombrio.
Nos quilombos, favelas ou periferias,
teus “rebentos” brotaram como galhos distintos
que se estenderam por toda América,
expressando a identidade preservada da terra de seus ancestrais, a África.
No Brasil, os frutos nasceram em forma de Maracatu, Maculelê,
Tambor de Crioula, Caxambu, Jongo, Funk
e tantas outras manifestações afro-brasileiras, assim como o Samba.
Nas franjas da Região Central do Rio de Janeiro,
espraiando-se por áreas alagadiças,
floresceu a Pequena África.
Da Pedra do Sal à mítica Praça Onze,
nos morros e subúrbios, os herdeiros do “Berço do Mundo”
comungaram sentimentos, compartilharam seu passado comum
e criaram as escolas de samba.
Nossos fundadores são nossos antepassados.
Os velhas guardas, os guardiões de nossas memórias.
As baianas, a herança das antigas festas, profanas e sagradas.
Ao som do batuque da bateria,
o suor dos passistas verte nossa ancestralidade.
E até hoje, sempre que os sambistas se unem de mãos dadas,
sentem reverberar em suas almas
a energia primordial unindo a África e o Brasil,
como bons filhos da diáspora que todos somos.
O samba respira como um velho Baobá.
Ope
Renato Lage e Márcia Lage
Samba-ênredo
Compositores: Wanderley Monteiro, Vinicius Ferreira, Rafael Gigante, Bira, Edmar Jr, Paulo Borges & André do Posto 7.
Intérprete: Gilsinho
PREPARA O TERREIRO, SEPARA A MUCUA
APAOKÁ BAIXOU NO XIRÊ
EM NOSSO CELEIRO A GENTE CULTUA
DO MESMO PRECEITO E SABER
RAIZ IMPONENTE DA “PRIMEIRA SEMENTE”
NÓS TEMOS MUITO EM COMUM
O ELO SAGRADO DE AYÊ E ORUN
CASA PRA SE RESPEITAR: MEU BAOBÁ!
OBATALÁ COLOFÉ
TEM BATUCADA NO ARÊ
PRA MINHA GENTE DE FÉ AYERAYE
NESSA MIRONGA TEM MÃO DE OFÁ
PÕE ALUÁ NO COITÉ E DANDÁ
SALUBA, MAMÃE! FIZ DO MEU SAMBA CURIMBA
MATA A MINHA SEDE DE AXÉ
FAZ DO MEU IGI OSÈ, MORINGA
QUEM TENTA ACORRENTAR UM SENTIMENTO
“ESQUECE” QUE SER LIVRE É FUNDAMENTO
MATIZ SUBURBANO, HENRANÇA DE PRETO
CORAGEM NO MEDO!
MEU POVO É RESISTÊNCIA
FEITO UM “NÓ NA MADEIRA” DO CAJADO DE OXALÁ
FORÇA AFRICANA VEM NOS ORGULHAR
AZUL E “BANTO”, AGUERÊ E ALUJÁ
PRA POEIRA LEVANTAR, DE CRIOULA É MEU TAMBOR
ILUAYÊ NA GINGA DO MEU LUGAR
PORTELA É BAOBÁ NO GONGÁ DO MEU AMOR
Glossário
MUCUA – Fruta do Baobá
APAOKÁ – Orixá/Entidade protetor da Jaqueira
XIRÊ – Festa
AYÊ – Terra
ORUN – Céu
OBATALÁ – Orixá da paz e da criação do mundo.
COLOFÉ – A benção.
ARÊ – Ruas e Encruzilhadas.
AYERAYE – Eternizar
MIRONGA – Mistério
MÃO DE OFÁ – Pessoa incumbida de colher folhas para rituais.
ALUÁ – Bebida feita com farinha de milho ou de arroz, servida nos terreiros de Candomblé, principalmente aos Caboclos.
COITÉ – Fruto que partido ao meio, serve como recipiente para servir bebidas aos Orixás e participantes do culto.
DANDÁ – Tipo de raiz, utilizada nos cultos aos Orixás.
CURIMBA – Os cânticos realizados, na Umbanda.
BANTO – indivíduo pertencente aos Bantos, grupo etnolinguístico africano
AGUERÊ – Toque atribuído a ODÉ, o caçador (OXOSSI).
ALUJÁ – Toque atribuído a XANGÔ.