Leeuwenhoek: O Ano das Confirmações: As criaturas minúsculas existem? 1677

Leeuwenhoek: Os primeiros anos

Fonte: Lens on Leeuwenhoek, Douglas Anderson.

1677: Para confirmar suas Observações

Uma questão era Leeuwenhoek contar quantas e calcular o quão pequeno as pequenas criaturas seriam. Outra questão é que aqueles sem as lentes e sem sua experiência, como os membros da Sociedade Real, acreditassem nele.

Como Thomas Birch conta em sua História da Sociedade Real, os membros, na verdade, não acreditavam em Leeuwenhoek. Mas o processo pelo qual eles passaram a aceitar a verdade de suas alegações foi um teste inicial do poder da disciplina em desenvolvimento que atualmente chamamos de Ciência e que eles chamavam de Filosofia, daí Transações Filosóficas.

Thomas Birch, autor de The history of the Royal Society of London, 1756,
Fonte: https://lensonleeuwenhoek.net/content/history-royal-society-london-birch

FEVEREIRO

Na reunião regular de 1º de fevereiro, foi lida uma parte de uma longa carta do Sr. LEEUWENHOEK ao Sr. OLDENBURG, datada em Delft, 9 de outubro de 1676, que não havia sido produzida antes, porque não pode ser traduzida mais cedo para o inglês da língua holandesa, na qual foi escrita.

O conteúdo dela foi um grande número de observações feitas pelo Sr. LEEUWENHOEK com seu microscópio, sobre certos pequenos “animais” encontrados por ele em grandes quantidades em água comum, água de neve, água de poços e outras águas. …

Foi estabelecido que a sequência dessas observações deveria ser lida na próxima reunião; e que o autor deveria comunicar seu método de observação de “pequenos animais” em “grandes quantidades”.

Duas semanas depois, na reunião semanal de 14 de fevereiro:

OLDENBURG continuou a sequência da carta do Sr. LEEUWENHOEK sobre a grande quantidade de animais muito pequenos observados na chuva, bem como, água do mar e água de neve, como também na água, em que a pimenta havia sido infundida. O restante deste artigo foi encaminhado para outra reunião; e o secretário novamente desejava obter do Sr. LEEUWENHOEK seu método de observação, pois ao fazer uso do mesmo, a Sociedade poderia ser habilitada a confirmar suas observações.

A capacidade de “confirmar suas observações” e de replicar os resultados experimentais é o que agora chamamos de confiabilidade das evidências.

Birch observou que a parte final da longa carta de outubro de 1676 de Leeuwenhoek foi lida na reunião de 22 de fevereiro. E foi publicada finalmente no ano seguinte, com cerca de metade de seu comprimento, esta longa carta tinha onze páginas em Transações Filosóficas. Em todo o volume 12, onde a maioria dos artigos tinha entre duas e cinco páginas, apenas um outro artigo excedeu o comprimento do artigo de Leeuwenhoek.

MARÇO

A próxima carta que Leeuwenhoek escreveu a Oldenburg é datada de 23 de março (31 de março), e foi lida na reunião de 29 de março de 1677. Foi também a primeira em que Leeuwenhoek incluiu em suas cartas autopublicadas. Birch observou:

Uma carta do Sr. LEEUWENHOEK ao Sr. OLDENBURG, datada em Delft, 23 de março de 1677 foi lida, dando algum relato de suas observações de pequenos animais vivos na água.

Nessa carta, van Leeuwenhoek refere-se a duas cartas que lhe foram dirigidas, agora perdidas, de 12 e 22 de fevereiro, pedindo informações sobre seu “método de observação”. Ele começa a dá-lo a eles.

Não fiquei pouco satisfeito que minhas observações sobre a água não tivessem desagradado vossos sábios filósofos. Também não me questiono deles não poderem apreender muito bem como eu tinha sido capaz de observar um número tão grande de criaturas vivas em uma gota de água, já que seria muito difícil de conceber sem uma inspeção ocular.

Esta carta de 23 de março de 1677, foi publicada no volume 12 no número seguinte, e assim um mês antes da longa carta de outubro de 1676. No final da carta de 23 de março, van Leeuwenhoek adicionou um “post-script” de reclamação que não foi publicado:

Tendo repetidamente observado que você não pode encontrar tempo para traduzir minhas cartas para inglês.

Depois de seus primeiros sucessos, ele parecia pensar que o problema era apenas de tradução. Mas, parece que também era uma questão de validade e confiabilidade. Depois que os membros ouviram a carta de Leeuwenhoek em 29 de março, Birch observou:

Foi ordenado, que o Dr. GREW deveria ser solicitado a tentar verificar o que ele poderia observar nas águas similares; e que, para este fim, um trecho das cartas fosse dado a ele pelo Sr. OLDENBURG com as observações do Sr. LEEUWENHOEK anteriormente lidas para a Sociedade.

MAIO

Em 14 de maio de 1677, Leeuwenhoek escreveu outra carta a Oldenburg,

A sua carta de 22 de fevereiro menciona que alguns de seus Amigos desejavam que eu, com toda a exatidão possível, observasse as “fibras carneous” de um músculo e também a parte cortical e medular do Cérebro.

Tentando ser agradável, Leeuwenhoek fez como solicitado, descrevendo músculos e cérebros, moxa e algodão e sua técnica de dissecação:

Eu peguei a carne de uma vaca; a cortei em fatias com uma faca afiada, e usando um microscópio eu observei diante de meus olhos a membrana dela.

Esta carta não menciona pequenos animais, mas Leeuwenhoek insiste em outro número muito grande.

Esses glóbulos, dos quais eu vi que os “fibras carneous” consistem, são tão pequenos, que, se eu puder julgar pela minha visão, devo dizer, que 100 mil deles não fariam um grão de areia.

Esta carta termina com um pedido inédito para aliviar o que deve ter sido sua consternação sobre a recepção que ele estava recebendo na Sociedade Real:

Peço que me avise em que respeito minhas observações concordam ou diferem das dos outros.

Esta carta, publicada no volume de Transações Filosóficas, volume 12, mais tarde naquele ano, viria a ser a carta final de Van Leeuwenhoek publicada por Oldenburg, que morreu em 5 de setembro de 1677.

Nehemiah Grew, ele próprio um usuário talentoso do microscópio, não foi capaz de replicar os resultados de Leeuwenhoek. Após a morte de Oldenburg, na próxima eleição anual dos diretores da Sociedade, ele e Robert Hooke foram eleitos co-secretários, substituindo Oldenburg e Thomas Henshaw.

“VÁRIOS DEPOIMENTOS DE PESSOAS DE BOM CRÉDITO” EM DELFT

  • 18 de maio. Benedict Hahn  e Henry Cordes, pastores luteranos em Delft, escreveram em latim para a Royal Society atestando ter visto micróbios nas infusões de Leeuwenhoek (traduções das Cartas Coletadas, vol. 2, pp 257-271). “Vimos pelo menos 200 criaturas vivas nesta 50ª parte da água; pequenos animais que se moviam e nadavam na água.
  • 2 de junho. Robert Gordon, estudante de medicina em Delft, escreveu para a Royal Society, também em latim. “Eu vi cerca de 20.000 desses pequenos animais em uma quantidade de água apimentada não excedendo o tamanho de um grão de milheto.”
  • 13 de agosto. Aldert Hodenpijl  escreveu em. “Naquela pequena quantidade de água, eu vi acima de trinta mil Criaturas Vivas.”
  • 21 de agosto. Johannes Boogert, tabelião público, Robert Poitevin, médico, e W. van der Burch, advogado, escreveram à Royal Society em latim. “Observamos com nossos próprios olhos que cada uma das 90 partes continha mais de 500 pequenos animais.”
  • 30 de agosto. Alex Petrie, pastor da Congregação Inglesa em Delft, escreveu em inglês para a Royal Society. Leeuwenhoek também enviou uma tradução holandesa. “… que em uma quantidade tão pequena de água eu deveria ver um número tão grande desses pequenos animais.

Hooke continuaria em sua posição não oficial como Curador de Experimentos. Mas quem substituiria Oldenburg, que havia publicado  Transações Filosóficas ele mesmo – seu editor fundador e a pessoa que pagou pela impressão de seu próprio bolso? (As Transações Filosóficas  não se tornariam uma publicação oficial da Royal Society até 1753.)

OUTUBRO

William Brouncker, Matemático, 2o Visconde de Brouncker.
Pintura de Sir Peter Lely , cerca de 1674,

O inabalável Leeuwenhoek enviou outra carta datada de 5 de outubro (AB 33) à Sociedade, juntamente com uma carta de apresentação a Visconde Brouncker, seu presidente de 1662 a 1677 . Birch observou que na próxima reunião, a primeira sem Oldenburg, em 15 de outubro de 1677:

Hooke leu uma carta, que lhe tinha sido entregue pelo Sr. HENSHAW, a quem foi enviada pelo presidente, na qual o Sr. LEEUWENHOEK sabendo que o Sr. OLDENBURG estava morto, desejava saber, a quem ele poderia enviar suas cartas para o futuro; incluindo vários testemunhos de seus experimentos anteriores, e um relato tanto em holandês quanto em latim de algumas novas observações.

A consideração disso foi adiada para a próxima reunião. E enquanto isso, o Sr. HOOKE queria fazer um microscópio de uma maneira, que ele propôs como muito semelhante, se não da mesma maneira que o microscópio do Sr. LEEUWENHOEK.

Esta é a primeira menção de quaisquer traduções latinas fornecidas por Leeuwenhoek. Transações Filosóficas passou por um hiato após a morte de Oldenburg, as “novas observações” de Leeuwenhoek foram publicadas no ano seguinte por Robert Hooke em Microscopium, juntamente com uma longa resposta.

Os “vários depoimentos” dos ministros, um tabelião público e “outras pessoas de bom crédito” foram, sem dúvida, apreciados, mas eram irrelevantes, talvez redundantes seja uma palavra melhor por causa do sucesso que Hooke estava prestes a obter.

Embora não tenhamos nenhuma evidência de qualquer reação por parte de van Leeuwenhoek, um rápido resumo revela o atraso de tempo que pode muito bem ter sido uma fonte de frustração.

UM ANO INTEIRO DE ESPERA

Em outubro de 1674, van Leeuwenhoek havia desenvolvido lentes suficientemente potentes, mas difíceis de usar para começar a ver o mundo dos microrganismos. Atendendo ao ceticismo inicial, ele realizou independentemente uma série ampla de experimentos e observações controladas, fez registros cuidadosos, e os enviou em outubro de 1676, com ilustrações, para a Sociedade Real. Mas demorou mais um ano inteiro antes da Sociedade Real chegar a “considerar” suas declarações e, mesmo assim, eles ainda queriam ser capazes de ver por si mesmos.

  • Poderiam ter pedido a Leeuwenhoek para se juntar a eles?
  • Poderiam ter enviado uma delegação para Delft?

Sim, mas não era assim que a ciência erudita trabalhava. Os membros da Sociedade Real tiveram que fazer outra pessoa duplicar independentemente os resultados de Leeuwenhoek.

Felizmente, eles tinham à sua disposição provavelmente a única pessoa na Terra capaz deste feito de replicação e verificação: Robert Hooke. Mesmo assim, Hooke precisou de três tentativas antes de conseguir reproduzir os experimentos e observações de Leeuwenhoeck.

Hooke representado na Worthies’ Window na Igreja de Santa Helena, Bishopsgate, Londres, onde foi enterrado. O túmulo de Hooke foi perdido durante a reconstrução da igreja no século XIX, e o vitral foi destruído por uma explosão de bomba em 1992 – continuando a “maldição de Newton” que teria, segundo más línguas, queimado o quadro com seu rosto da Sociedade Real de Londres.

Fonte: Traduzido e adaptado de Para Confirmar suas Observações. https://lensonleeuwenhoek.net/content/1677-confirm-his-observations