Se essa rua fosse minha: Munguba.

Equipe: Maria Fernanda Henriques Ferraz , Príscila Marques de Siqueira (orientadora), Nina Beatriz Bastos Pelliccione e Tânia Goldbach (orientadora).

Nossas ruas, muitas vezes, estão repletas de árvores. Elas geram sombra e frescor nos grandes centros urbanos. Mas você já as observou bem de perto?

Convidamos você a conhecê-las melhor, começando pelas que ocupam as calçadas próximas do Espaço Ciência Viva, na Rua Heitor Beltão, na Tijuca.

Que tal nos observar e nos conhecer ao passar por lá? Comece pelas Mungubas.

Foto: Tânia Goldbach.

Munguba: é pra ver ou pra comer?

Foto: Priscila Marques.

MINHA IDENTIDADE

Nome popular: Munguba.

Nome científico: Pachira Acquatica Aubl.

Aubl. é abreviatura para indicar Jean Baptiste Christian Fusée-Aublet , autoridade na descrição e classificação em Botânica.

Outros nomesMonguba, Mamorama, Castanheiro-de-guiana, Castanheira, Falso-cacau, Cacau-selvagem, Castanheiro-do-Maranhão e Castanheira-da-água. “Mamorana” é proveniente da junção de “mamão” com o termo tupi rana, que significa “semelhança”. Significa, portanto, que me acham “semelhante ao mamão”. É uma referência à semelhança dos meus frutos com os frutos de mamão.

Classificação: Bombaceae (família de plantas arbóreas).

Espécie ameaçada de extinção: ( ) Sim.   (x) Não.

Foto: Tânia Goldbach.

MINHAS HISTÓRIAS

Sou a terceira árvore mais presente nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, isso porque minha copa é densa, proporcionando uma boa área de sombra.

Você pode verificar se estou em alguma rua perto de onde mora!

Também sou conhecida como árvore da boa sorte ou árvore da boa fortuna na cultura oriental, apesar de eu não ser de lá. É também como árvore do dinheiro, e como o nome sugere, segundo a filosofia do Feng Shui, consigo atrair boa sorte na área de finanças.

COMO ME RECONHECER?

Eu cresço forte e imponente sem precisar de muitos cuidados, basta o básico: luz, terra e um bocadinho de água. Posso ter de 6 a 14 metros de altura, com um tronco de 30 a 40 cm de diâmetro.

Minhas flores são uma boa forma de você me reconhecer, mas como nem sempre estou florida, vale reparar as minhas folhas que são de um verde bem intenso e são alternas e digitadas.

Fonte: KINUPP, Valdely e LORENZI, Harri. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas.

Meu fruto é grande, parece mesmo com o cacau, passando de verde a coloração amarela chegando ao marrom. Ao abri-lo é possível ver grandes e numerosas sementes que possuem alto teor de lipídeos e por isso sou considerada uma planta oleaginosa.

BibFlora. Recursos para estudos das plantas nativas brasileiras e das exóticas cultivadas.

HABITAT / ORIGEM

Surgi na região que se estende do México até a Amazônia e o Maranhão em terrenos alagadiços.

O primeiro relato documentado sobre mim data de 1627, na obra “A História dos Animais e Árvores do Maranhão” escrita pelo Frei Cristóvão de Lisboa, missionário no Maranhão e Grão-Pará (1624-1635).

NATUREZA E TRADIÇÕES

Na Ásia Oriental as pessoas me cultivam em vasos com fitas vermelhas penduradas, pois acreditam que posso trazer sorte e dinheiro. É comum me manterem em vasos nos escritórios de negócios para atrair fortuna.

Mas NÃO ME ENTORTEM. Sou simplesmente LINDA AO NATURAL! Fonte: Wikimedia.

Sou muito comercializada por lá por causa dessa crença, e costumam trançar meus caules enquanto meu caule ainda é flexível, dando um efeito decorativo interessante, mas eu não gosto muito disso, não.

CUIDADOS E SAÚDE

Minhas castanhas e folhas são comestíveis, mas isso não é muito comum por aqui no Brasil, por isso sou considerada uma Planta Alimentícia Não-Convencional (PANC).

Minhas castanhas descascadas quando moídas se transformam numa nutritiva farinha, mas também podem ser torradas gerando um delicioso petisco. Pena que sou pouco consumida pelos brasileiros.

Todos dizem que minhas castanhas são uma delícia. Cruas se assemelham a amendoim, cozidas parecem castanha portuguesa e assadas sem a pele lembram torresmo, por mais estranho que pareça! Experimente essa receita de castanha de munguba torrada do site Mato no Prato:

  • Retire as castanhas do fruto, coloque em uma forma com sal e alecrim.
  • Não há necessidade de óleo.
  • Asse em forno pré-aquecido a 150° por 10 minutos, sempre de olho para não queimar.
  • Essa semente é macia e saborosa, podendo ser comida crua também, sem problemas.

Existem estudos que mostram que a farinha integral feita da minha semente pode substituir a farinha de trigo em receitas como bolos, por exemplo. E o melhor, não contém glúten!

E que tal minha farinha?

Ingredientes: Castanhas na quantidade desejada.

Modo de preparo:

  • Remova a pele das castanhas ainda cruas, leve-as ao forno em assadeira e asse até dourar.
  • Retire do forno, deixe esfriar, prepare a farinha batendo as castanhas no liquidificador ou processador.

Dica: a minha farinha pode ser usada em preparos de receitas doces ou salgadas.

Prove o leite vegetal de minhas castanhas

O leite de minhas castanhas tem sabor parecido com o do leite vegetal de amendoim. Ele pode ser usado no preparo de receitas doces e salgadas, substituindo o leite de vaca. Para os intolerantes à lactose, veganos e curiosos em geral. Espero que gostem!

Ingredientes:

  • 1 xícara de castanhas sem pele.
  • ½ litro de água.

Modo de preparo:

  • Bata os ingredientes no liquidificador.
  • Leve ao fogo para ferver, deixe esfriar e coe em um coador ou peneira bem fina. Está pronto!

Dicas: Após batido, deve ser fervido para que o leite não oxide e escureça.

Biscoitos de minhas castanhas são uma delícia!

Ingredientes:

  • 200 g de farinha de trigo
  • 1 xícara de castanhas de Munguba
  • 100 g de açúcar refinado
  • 100 g de margarina
  • ¼ de colher de café de cardamomo em pó
  • 1 colher de café de fermento em pó

Modo de preparo: Corte as pontinhas da pele das castanhas, coloque as castanhas em uma assadeira, leve para assar em forno alto até a pele ficar dourada. Depois de assadas e frias, remova as peles, bata-as no liquidificador, reserve. Em um bacia, bata um pouco a margarina, e em seguida, adicione o açucar, as castanhas, a farinha, o cardamomo e o fermento, misture tudo rapidamente com a mão e deixe a massa descansar por 1 hora em lugar frio ou na geladeira. Após a massa descansar, abra-a em uma superfície na espessura de ½ cm, corte os biscoitos no molde desejado, leve-os para assar em forma sem untar, em forno médio até dourarem.

Dica: É importante que as pontas das castanhas sejam cortadas para evitar que elas estourem dentro do forno quando estiverem assando. Devem ser assadas com a pele e logo após serem colhidas (antes que estejam totalmente secas). Elas ficam com um sabor semelhante ao da castanha portuguesa.

As três receitas anteriores foram criadas por Maria Mestre Cuca!

Invente uma receita comigo também!

FAZENDO ARTE BOTÂNICA

Meus admiradores adoram me desenhar, medir, pintar e filmar.

Da próxima vez que me encontrar pelas ruas, tire uma foto minha e compartilhe nas redes sociais. Se puder inclua o meu endereço para que todos possam me encontrar. E compartilhe com o Espaço Ciência Viva que vai adorar publicar as minhas fotos.

REFERÊNCIAS

  • LORENZI, Harri. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa, SP, Editora Plantarium, 1a edição, 1992.
  • KINUPP, Valdely e LORENZI, Harri. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa, SP, Editora Plantarium, 1ª edição, 2015.
  • PEIXOTO, Ariane Luna e ESCUDEIRO, Alexandra. Pachira aquatica (Bombacaceae) na obra “História dos Animais e Árvores do Maranhão” de Frei Cristóvão de Lisboa, Rodriguésia, v. 53, n. 82, p. 123-130, 2002.

5 Comments on “Se essa rua fosse minha: Munguba.”

  1. Hoje caminhando na rua contemplando o universo, encontrei uma fruta rolando ao chão, parecia ser cacau a primeira vista, porém, o porte da árvore era diferente e a disposição de frutos na árvore também. Ao chegar em casa, li vários sites, até encontrar esse bem organizado, didático e com boas referências bibliográficas. Obrigada por me apresentarem uma nova espécie.

  2. Meu sobrenome da minha família é Munguba , segundo vovó é indígena.
    Sou louca para encontrar ela por aqui em Recife, mas é difícil.

  3. Bom dia. Caminhando na estrada Euclides Cunha próximo ao centro de Votuporanga, encontrei essa árvore, com frutos e a flor é lindíssima. Pensei que fosse cacau, pesquisei no site, e adorei saber sobre seus nutrientes e receitas. Detalhe: colhi algumas e estou ansiosa pra utilizar. Obrigada.

Deixe um comentário