MusiCiência: Manguetown

Capa: Monumento ao Manguebeat, escultura. Leornaardog. Wikipédia. Licença Dedicação ao Domínio Público, CC0.

Manguetown

Compositores

Alexandre Salgues Maranhao Costa / Chico Science / Lucio Jose Maia De Oliveira

Álbum: Afrociberdelia, 1996.

MangueBeat

Manguebeat (também grafado como manguebit ou mangue beat) é um movimento de contracultura  brasileiro. Surgiu em 1991, na cidade de Recife, e se destaca pela combinação original de diversos gêneros musicais, unindo ritmos regionais, como o maracatu, o rock, o hiphop, o funk e a música eletrônica.

O movimento preza pela valorização das culturas regionais nordestinas e desenvolvimento de um senso local de identidade própria, além de criticar as condições de vida da população e o estado de conservação do manguezal.

É representado por um caranguejo, animal típico dos mangues e fonte de alimentação para as comunidades locais, sendo o início do movimento marcado pelo manifesto Caranguejos com Cérebro. Alcançou sucesso internacional com a banda Chico Science & Nação Zumbi.

Monumento ao Manguebeat, escultura. Leonardo Silva. Wikipédia. Licença CC-BY-SA-2.0.

Escute a música pelo Spotify, Youtube ou site em homenagem a Chico Science.

Spotify: https://open.spotify.com/album/3cG4WKesy6hUXEPfPcdxs6?autoplay=true

Youtube: https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mSwIQU9v1Cw32Qz9k2jCc-4aSGU_rIJ88

Chico Science: http://www.recife.pe.gov.br/chicoscience/index.php

Letra

Letra de Manguetown © Sony/ATV Music Publishing LLC

Eh, ha ha ha

‘To enfiado na lama

É um bairro sujo

Onde os urubus têm casas

E eu não tenho asas

Mas estou aqui em minha casa

Onde os urubus têm asas

Vou pintando, segurando a parede

No mangue do meu quintal, Manguetown

Andando por entre os becos

Andando em coletivos

Ninguém foge ao cheiro sujo

Da lama da Manguetown

Andando por entre os becos

Andando em coletivos

Ninguém foge à vida suja

Dos dias da Manguetown

Esta noite sairei

Vou beber com meus amigos

Ha! E com as asas que os urubus

Me deram ao dia

Eu voarei por toda a periferia

Vou sonhando com a mulher

Que talvez eu possa encontrar

E ela também vai andar

Na lama do meu quintal, Manguetown

Andando por entre os becos

Andando em coletivos

Ninguém foge ao cheiro sujo

Da lama da Manguetown

Andando por entre os becos

Andando em coletivos

Ninguém foge à vida suja

Dos dias da Manguetown

Andando por entre os becos

Andando em coletivos

Ninguém foge ao cheiro sujo

Da lama da Manguetown

Andando por entre os becos

Andando em coletivos

Ninguém foge à vida suja

Dos dias da Manguetown

Fui no mangue catar lixo

Pegar caranguejo,

conversar com urubu (4x)

Manifesto Caranguejos com Cérebro
Mangue, o conceito

Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.

Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.

Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

Manguetown, a cidade

A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex)cidade *maurícia* passou desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.

Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de *progresso*, que elevou a cidade ao posto de *metrópole* do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.

Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da *metrópole* só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.

Mangue, a cena

Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.

Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um *circuito energético*, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.

Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.

Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.

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