Igi Osè Baobá

Enredo G.R.E.S. 2022, fonte: http://www.gresportela.org.br/Enredo

Enredo Igi Osè Baobá

Pilar que une o céu e a terra!

Elo entre vivos e mortos.

Deus vivo e presente, és tu ó Baobá, 

árvore sagrada testemunha do tempo.

(c) mgrandis, acervo iNaturalist. Licença CC BY-NC-4.0.

O guerreiro de Oyó contempla Igi Osé.

Ele sente a energia.

Evoca proteção com afeto e respeito.

O tronco é seu templo, e ali expressa sua religiosidade.

(c) Riccardo Pucciatti, acervo iNaturalist. Licença CC BY-NC-4.0.

Saluba Nanã! Mãe de todos nós.

Tuas águas abundantes repousam no tronco do Baobá,

nutrindo a terra.

Por ti os galhos se vestem de ojás lilás.

Orixás e vegetal estão unidos na energia sagrada… 

Salve o Rei Dono da Terra!

Omulu, curai-nos de todos os males

que assolam nosso Aiyê!

Árvore da vida, ó Baobá.

Tu emanas a energia primeva

que no solo africano faz eclodir a natureza.

É ela que sopra o vento da savana, e faz teus galhos balançarem. 

(c) joansie, acervo iNaturalist. Licença CC BY-NC-4.0.

(c) Gigi Laidler, acervo iNaturalist. Licença CC BY-NC-4.0.

A fauna passeia livremente ao seu redor,

e tudo se doura sob a luz do Sol.

Teus frutos, folhas e sementes

são alimentos e remédios para os seres vivos.

Tu és mãe que sacia nossa sede e fome.

(c) tjeerd, acervo iNaturalist. Licença CC BY-NC-4.0.

(c) jjessica852, acerva iNaturalist. Licença CC-BY-NC-4.0.

Sob tua copa, oferece generosa e benfazeja sombra

em meio à aridez das regiões onde impera.

Tuas raízes representam os ancestrais de nossas comunidades,

aconselham-nos e ajudam-nos a seguir com coragem e decisão.

Em Ajudá, o Rei Guezo nos fez esquecer…

Voltas e voltas em torno de ti

para apagar toda nossa devoção, nossas lembranças,

torná-la “Árvore do Esquecimento”.

Portal do Não Retorno jamais conseguiu.

Fizemos de teu tronco, aparentemente tombado,

a balsa que atravessou oceanos

para nos levar rumo ao desconhecido.

E assim tuas raízes uniram dois mundos.

Tua força multiplicada ganhou novo significado em terras distantes.

(c) Oliver Drescher, acervo iNaturalist. Licença CC BY-NC-4.0.

Baobá, Árvore da Resistência!

Todos os solos pisados por pés africanos,

sob a poeira da resiliência,

fez com que a cultura negra semeasse pelas Américas,

germinando um Novo Mundo e a representação de sua fé.

E se algum desalento nos toca, ao olhar para teu esplendor,

nos conectamos em seus firmes troncos com nossa herança,

e nos revitalizamos com a energia de nossos antepassados.

(c) ray_rocha, acervo iNaturalist. Licença CC BY-NC-4.0.

Fincamos em tuas raízes profundas valores e crenças

que nenhum preconceito é capaz de fazê-los tombar.

E no solo rochoso da discriminação,

elas encontraram fendas para ir mais além,

penetrando mais profundamente no solo,

até, finalmente, encontrar a esperança.

E assim o tempo passou.

Ora calmo, ora agitado como o vento a balançar tuas folhas…

E sob o Arco-íris de Oxumaré,

tudo tornou-se menos sombrio.

Nos quilombos, favelas ou periferias,

teus “rebentos” brotaram como galhos distintos

que se estenderam por toda América,

expressando a identidade preservada da terra de seus ancestrais, a África.

No Brasil, os frutos nasceram em forma de Maracatu, Maculelê,

Tambor de Crioula, Caxambu, Jongo, Funk

e tantas outras manifestações afro-brasileiras, assim como o Samba.

Nas franjas da Região Central do Rio de Janeiro,

espraiando-se por áreas alagadiças,

floresceu a Pequena África.

Da Pedra do Sal à mítica Praça Onze,

nos morros e subúrbios, os herdeiros do “Berço do Mundo”

comungaram sentimentos, compartilharam seu passado comum

e criaram as escolas de samba.

Nossos fundadores são nossos antepassados.

Os velhas guardas, os guardiões de nossas memórias.

As baianas, a herança das antigas festas, profanas e sagradas.

Ao som do batuque da bateria,

o suor dos passistas verte nossa ancestralidade.

E até hoje, sempre que os sambistas se unem de mãos dadas,

sentem reverberar em suas almas

a energia primordial unindo a África e o Brasil,

como bons filhos da diáspora que todos somos.

O samba respira como um velho Baobá.

Ope

Renato Lage e Márcia Lage

Samba-ênredo

Compositores: Wanderley Monteiro, Vinicius Ferreira, Rafael Gigante, Bira, Edmar Jr, Paulo Borges & André do Posto 7.

Intérprete: Gilsinho

PREPARA O TERREIRO, SEPARA A MUCUA
APAOKÁ BAIXOU NO XIRÊ
EM NOSSO CELEIRO A GENTE CULTUA
DO MESMO PRECEITO E SABER
RAIZ IMPONENTE DA “PRIMEIRA SEMENTE”
NÓS TEMOS MUITO EM COMUM
O ELO SAGRADO DE AYÊ E ORUN
CASA PRA SE RESPEITAR: MEU BAOBÁ!

OBATALÁ COLOFÉ
TEM BATUCADA NO ARÊ
PRA MINHA GENTE DE FÉ AYERAYE
NESSA MIRONGA TEM MÃO DE OFÁ
PÕE ALUÁ NO COITÉ E DANDÁ

SALUBA, MAMÃE! FIZ DO MEU SAMBA CURIMBA
MATA A MINHA SEDE DE AXÉ
FAZ DO MEU IGI OSÈ, MORINGA
QUEM TENTA ACORRENTAR UM SENTIMENTO
“ESQUECE” QUE SER LIVRE É FUNDAMENTO
MATIZ SUBURBANO, HENRANÇA DE PRETO
CORAGEM NO MEDO!
MEU POVO É RESISTÊNCIA
FEITO UM “NÓ NA MADEIRA” DO CAJADO DE OXALÁ
FORÇA AFRICANA VEM NOS ORGULHAR

AZUL E “BANTO”, AGUERÊ E ALUJÁ
PRA POEIRA LEVANTAR, DE CRIOULA É MEU TAMBOR
ILUAYÊ NA GINGA DO MEU LUGAR
PORTELA É BAOBÁ NO GONGÁ DO MEU AMOR

Glossário


MUCUA – Fruta do Baobá
APAOKÁ – Orixá/Entidade protetor da Jaqueira
XIRÊ – Festa
AYÊ – Terra
ORUN – Céu
OBATALÁ – Orixá da paz e da criação do mundo.
COLOFÉ – A benção.
ARÊ – Ruas e Encruzilhadas.
AYERAYE – Eternizar
MIRONGA – Mistério
MÃO DE OFÁ – Pessoa incumbida de colher folhas para rituais.
ALUÁ – Bebida feita com farinha de milho ou de arroz, servida nos terreiros de Candomblé, principalmente aos Caboclos.
COITÉ – Fruto que partido ao meio, serve como recipiente para servir bebidas aos Orixás e participantes do culto.
DANDÁ – Tipo de raiz, utilizada nos cultos aos Orixás.
CURIMBA – Os cânticos realizados, na Umbanda.
BANTO – indivíduo pertencente aos Bantos, grupo etnolinguístico africano
AGUERÊ – Toque atribuído a ODÉ, o caçador (OXOSSI).
ALUJÁ – Toque atribuído a XANGÔ.

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