Capa: Ilustração de Aida Fernández Ríos. Crédito Projeto Oceánica.
Este material foi traduzido para português do Projeto Oceánicas que desenvolve várias atividades para celebrar e preservar o oceano.
Um dos trabalhos do projeto é Oceánicas: pioneras de la oceanografía onde contam a história de 10 cientistas ilustres, algumas delas bastante esquecidas e desconhecidas. Desde a primeira e única mulher que deu a volta ao mundo durante a época das grandes explorações até mulheres atuais que lideram a luta pela Conservação do Oceano – grande sonho da Década do Oceano (2021-2030) que iniciou em 2021.
Todas as Oceânicas são referências maravilhosas, necessárias e inspiradoras às jovens que sonham ser cientistas e pesquisadoras marinhas.
A Mudança Climática, a Sobrepesca e a Contaminação ameaçam transformar o oceano para sempre.
Isto torna o acesso equitativo de mulheres e homens a todos os campos das ciências marinhas, incluindo a sua presença em postos de responsabilidade, mais necessário do que nunca.
Temos um desafio enorme e precisamos contar com todos os talentos da humanidade,
Para nos inspirar, vamos conhecer hoje mais uma mulher, cientista marinha, uma Argonauta do Oceano
Aida Fernández Ríos (1947-2015): Pioneira no estudo da acidificação dos oceanos
Aida Fernández Ríos nasceu em 1947 na cidade de Vigo, localizada na costa espanhola do Oceano Atlântico ao norte do país, rodeada de um ambiente marítimo.
Quando ela era pequena, seu tio, que todos os anos participava das campanhas de pesca em Newfoundland (a Ilha da Terra Nova, Canadá), trazia-lhe desenhos que ele mesmo fazia e contava-lhe muitas anedotas sobre o trabalho em alto mar.
Embora o oceano a fascinasse, Aida nunca pensou em fazer disso a sua profissão. Começou a estudar especialização comercial na faculdade de administração, mas, devido à saúde do pai, saiu para trabalhar em uma gráfica e ajudar a família. Inscreveu-se em aulas de francês e aí conheceu um cientista do Instituto de Investigação Pesqueira que despertou o seu interesse pelas ciências marinhas e incentivou-a a preparar-se para os exames de assistente de laboratório.
Dito e feito. Aos 25 anos, Aida passa nos exames e começa a trabalhar em cargos de categorias mais baixas. Os seus primeiros anos foram dedicados à análise de otólitos, estruturas calcárias que os peixes ósseos apresentam na cabeça (orelha interna). Sua função está associada à audição e ao equilíbrio. Os cientistas descobriram que eles trazem informações preciosas sobre toda a vida dos peixes e isso permite determinar a sua idade, algo essencial para poder gerir a pesca de forma sustentável. São apelidados de a “caixa-preta” dos peixes ósseos.
Ela gostou tanto do seu trabalho que se matriculou na universidade para estudar Biologia. Conciliou os estudos com o trabalho auxiliar, concluiu a licenciatura e doutorou-se sobre o fitoplâncton da Ria de Vigo e as condições ambientais que influenciam o seu crescimento.
Uma ria é um vale fluvial no entorno da foz de um rio, em que um vale costeiro permanece submerso sob as águas. Outra acepção é de uma costa muito recortada e onde o mar é pouco profundo.
O seu interesse científico voltou-se gradualmente para a compreensão das mudanças físicas e químicas no oceano e para a compreensão de como estas impactam os ecossistemas e o clima de todo o planeta.
Participou, juntamente com cientistas de todo o mundo, do primeiro estudo global para quantificar o gás carbônico – CO2 – proveniente da queima de combustíveis que se acumulam nos oceanos, trabalho que destacou um dos principais problemas que os nossos mares enfrentam: a acidificação oceânica.
Aída desenvolveu três projetos europeus até 2014, no âmbito do projeto CARbon IN the Atlantic, incorporando medições de CO2, de forma autônoma, em navios comerciais.
Liderou a campanha FICARAM XV, 2013, para avaliar a acidificação do Atlântico nas últimas duas décadas.
Desde então, Aida dedicou-se a estudar este processo e alertar para os seus efeitos em organismos com estruturas calcárias como os mexilhões.
Aida ascendeu no seu trabalho, primeiro na escala técnica e depois na científica, até conseguir, depois de muito esforço, ser promovida ao posto mais alto da sua instituição: Professora Pesquisadora.
Além disso, em 2006, tornou-se a primeira mulher a dirigir o Instituto de Investigação Marinha CSIC, a mesma instituição onde começou a trabalhar trinta anos antes, com quase nenhuma formação. Um exemplo extraordinário de avanço acadêmico e profissional.
Em junho de 2015 foi nomeada acadêmica da Real Academia Galega de Ciências, a terceira mulher a consegui-lo.
E infelizmente, no mesmo ano, ela morreu vítima de um acidente de trânsito.
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