Imagem de capa: Imagem de Hulki Okan Tabak por Pixabay
O texto abaixo, foi escrito, como colaboração para nosso episódio “Naturalistas nos Jardins”, pelo Prof Gil Cardoso-Costa, pesquisador da Área de Educação Ambiental, para divulgarmos neste mês de fevereiro em que se comemora o “Darwin day” (12 de fevereiro, dia do nascimento de Charles Darwin, em 1809). Clique aqui para saber mais sobre este dia.
Em sequência, apresentamos uma mini-entrevista com nosso colaborador.
Um naturalista que transformou o mundo com suas ideias e sua infância no jardim
Charles Darwin revolucionou a forma como vemos o mundo. Ainda no século XIX, ele chamou nossa atenção à importância das pequenas variações que existem nos indivíduos da mesma espécie e a interação dessas diferenças com o ambiente onde vivem.
Em um lugar que ventava forte, ele notou que borboletas de asas mais largas tinham problemas para voar. Em um outro lugar onde havia frutos duros, notou que pássaros de bicos grossos se alimentavam melhor.
Assim, o naturalista é reconhecido como um dos principais autores da Teoria da Seleção Natural: a natureza impõe barreiras que selecionam as características mais vantajosas de uma espécie. Ou seja, o que permite que uma espécie evolua são suas diferenças, não sua força bruta.
Darwin elaborou essa teoria a partir das inúmeras observações que fez ao longo de sua vida e, principalmente, durante uma viagem a bordo do navio Beagle.
Nessa viagem, ele pode ver paisagens naturais do mundo todo, observando, coletando, catalogando e, mais tarde, publicando o livro A Origem das Espécies (1859).
Desde muito jovem, a maior paixão de Darwin era percorrer o jardim e campos próximos à sua casa procurando pequenos animais. Na época, ele ainda não tinha interesse científico, mas essa prática foi fundamental para sua profissão no futuro.
Algumas técnicas que ele inventou na infância, ele usou sua vida toda. Há até uma história engraçada que ele contava sobre um desses métodos:
Certa vez, enquanto despedaçava um velho tronco partido que encontrara, ele encontrou dois besouros fantásticos.
Pegou um besouro com a mão direita e outro com a mão esquerda. Mas, antes de se levantar, ele viu um terceiro besouro, ainda mais interessante.
Sem ter como pegá-lo, resolveu colocar um dos besouros que segurava na boca para ter uma mão livre!
O besouro soltou um líquido amargo que o fez engasgar e cuspir. Ele acabou perdendo os três besouros, mas aprendeu muito.
Como na vida, na ciência nenhuma experiência é em vão. Sempre aprendemos algo, acertando ou errando. Com essa história, Darwin escreveu em suas memórias que fez descobertas importantes: aprendeu que besouros interessantes vivem em troncos velhos e que é bom sempre ter um lugar onde guardar os insetos que encontra que não seja a sua boca!
Mini-entrevista gentilmente respondida pelo Prof Gil, situando sua trajetória e idéias:
O que é ser um educador ambiental? Como a figura de Charles Darwin, um naturalista do século XIX, se relaciona com a educação ambiental hoje?
Educador Ambiental é aquele que age pedagogicamente para que a população perceba e combata as causas da crise ambiental. Darwin contribuiu para que a ciência tivesse certeza sobre a finitude da natureza e as consequências de seu desequilíbrio. Em seus relatos, também registrou os horrores da escravização na América e o desaparecimento dos aborígenes da Oceania provocado pela dominação europeia. Sua contribuição principal à Educação Ambiental ainda hoje é a importância de uma visão histórica dos fatos presentes – o estado das coisas hoje, é consequência de ontem.
O que você pode nos contar da sua trajetória de formação e de suas experiências na área?
Após me formar em Biologia na UFRJ, trabalhei como Educador Ambiental no Museu do Meio Ambiente Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, contribuí com um Projeto de Extensão da UFRJ que visava apoiar professoras e professores de escolas públicas a levar a Educação Ambiental ao seu cotidiano escolar. Nos dois lugares, nosso trabalho de Educação Ambiental perpassava o reconhecimento das cidades como parte do Meio Ambiente e as desigualdades dos impactos da crise ambiental em diferentes setores da nossa sociedade.
Será que Darwin merece mais que um “Darwin day”? Como lidar, como professores e educadores, com uma conjuntura de várias idéias negacionistas predominando sobre a ciência, entre elas a evolução dos seres vivos, revivendo o criacionismo e o design inteligente?
Mesmo que os negacionistas não reconheçam, todos vivemos em uma “Darwin era” *rs*. Digo isso, pois, a partir de Darwin, percebemos a importância da diferença e as coleções científicas dos museus e laboratórios se tornaram muito maiores. Isso permitiu ampliar os estudos e tornaram-se mais variados, o que promoveu avanços super importantes na vida cotidiana – desde medicamentos até pasta de dente! Professores e educadores não estão sozinhos. A melhor estratégia é buscarmos redes de apoio e fortalecimento para garantir o que sempre buscamos: o acesso à informação científica de qualidade. Os avós de nossos avós já nos ensinavam que mentira tem perna curta. Então, quem procurar saber, vai perceber que a ciência ainda é a melhor forma de conhecermos a realidade
Mini-currículo de nosso colaborador
Gil Cardoso-Costa possui Licenciatura em Ciências Biológicas, especialista em Ensino, mestre em Educação, todos os títulos obtidos na UFRJ, onde já atuou como professor substituto de Educação Ambiental. Tem experiência como Educador e, posteriormente, Coordenador Pedagógico do Programa Educativo do Museu do Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Atua como Consultor para Exposições de Ciências em pesquisas curatoriais, elaboração de interativos pedagógicos e educação ambiental.