Capa: Antílopes africanos numa noite estrelada e com o caminho de cinzas celeste. Gerada por IA Edge Copilot, 2025.
Coleção AfroCéus: Primeira temporada
Autor: Paulo Henrique Colonese. Licença CC-BY-NC-4.0.
Nami: Naju, já conhecemos o caminho de cinzas que ilumina as noites escuras e ajuda os caçadores a voltar para casa. Visitamos o grande caçador e aprendemos os perigos e cuidados da caça e também avistamos a estrela dos ovos de formiga-cupim que fica no lado sul do nascente e poente. Hoje, vamos conhecer duas estrelas, mas que ficam do lado norte do nascente e poente.
Naju: Nossa, o céu tem histórias interessantes em todas as direções!
Nami: Isso mesmo, muitas histórias. Hoje vamos conhecer os Antílopes Celestes!
Naju: Antílopes celestes?! Mas qual deles? O grande Órix do deserto Guelengue com seus enormes chifres que parecem flechas? O veloz Mezanze com suas manchas pretas? O Addax do deserto com chifres ondulados? O belo Impala? O grande Gnu Azul listrado? O Gnu de cauda branca? O Inhala preto listrado? O Palanca negra de cara preta? O sagrado Elande gigante? O Quissema com chifres de meia-lua? O dourado Cobe? Ou o Salta-Rochas das montanhas?
Nami: Você já conheceu muitos antílopes em suas longas caminhadas com os caçadores e ouvindo as histórias de caçador de seu avô. Mas não é nenhum desses. Os antílopes celestes são um casal dos pequeninos Antílopes campestres!
Naju: Os pequeninos? Não pensei neles, mas eles são muito lindos.
Nami: E nossos ancestrais dizem que eles são mágicos e, na maioria das vezes. é difícil conseguir caçá-los. Quando fogem, eles são muito velozes!
O antílope campestre é conhecido no sul da África como “Steenbok”. O nome vem das palavras em africâner, “steen” que significa tijolo e “bok” que significa veado. A palavra “steen” (tijolo) se refere à cor marrom-avermelhada do antílope. O steenbok é principalmente marrom-avermelhado na maior parte do corpo, mas o peito e a barriga são brancos brilhantes. Sua coloração lhes dá a camuflagem perfeita em seus arredores, permitindo que se misturem ao ambiente e se escondam de predadores.
Naju: Mas eles são tão pequeninos que dá vontade de pegar no colo. Mas, devem passar muito perigo, pois muitos animais devem caçá-los.
Nami: Sim, eles são caçados por muitos animais, como os cães selvagens, os chacais listrados (Lupulella adusta) e de costas negras (Lupulella mesomelas) e os velozes falcões peregrinos (Falco peregrinus), a grande águia das savanas (Polemaetus bellicosus) e até por cobras pítons africanas (Python sebae), mas eles são bem espertos. Quando são ameaçados, eles correm uma curta distância e, de repente, ficam parados, olhando para trás para verificar a ameaça, se não forem perseguidos. Se eles avistarem um predador, ficarão de pé ou deitarão perfeitamente parados esperando o predador passar, torcendo para que o predador não perceba sua presença. E se o predador chegar mais perto deles, o campestre sairá correndo com imensa velocidade e pulando em zigue-zague.
Naju: Pequeninos, mas bem espertos, esses campestres!
Essas criaturas pequenas e tímidas pesam apenas 900 gramas ao nascer e são capazes de ficar de pé sozinhas em cinco minutos, o que as torna incrivelmente vulneráveis a predadores. Durante os três primeiros meses de vida, elas permanecem escondidas na vegetação densa enquanto suas mães saem para alimentar e só retornam para amamentar e cuidar do filhote. Quando adultos chegam a uma altura de ombro de 45 a 60 centímetros. O antílope campestre (Raphicerus campestris) é um pequeno antílope, com um peso médio adulto de cerca de 12 kg. Eles têm uma bela cor marrom dourada e orelhas muito distintas e bem grandes para suas pequenas cabeças. E as orelhas por dentro tem padrões geométricos interessantes. Apenas os machos têm chifres, que são lisos, retos e muito afiados.
Nami: E eles conseguem sobreviver, mesmo sem muita água. Eles conseguem obter água com a vegetação que eles comem. Na estação chuvosa do verão, a vegetação é verdejante e cheia de umidade, e eles se fartam com folhas jovens, flores e brotos de várias plantas. E na estação do inverno, quando a vegetação seca, eles cavam com seus cascos afiados e comem bulbos, tubérculos e raízes para obter água para sobreviver. E quando não acham, eles procuram um poço ou rio para encontrar água.
Naju: Nossa, eles são muito espertos, aprenderam a sobreviver mesmo na difícil e fria estação da seca. É verdade que eles enterram as fezes deles?
Nami: Sim! Eles primeiro raspam o chão com seus cascos dianteiros, depois defecam e urinam naquela área e quando terminam, eles raspam o chão sobre o esterco e a urina com um de seus cascos dianteiros.
Naju: Por isso que nunca vemos o cocô deles!
Nami: Eles são solitários, cada um vivendo em um pequeno território, mas próximo de sua companheira.
Naju: Mas, vovó, você disse que era um casal de antílopes celestes. Eles não ficam juntos?
Os antílopes campestres vivem em territórios pequenos em áreas quadradas com cerca de 30 m x 30 m. Eles escolhem um bom território para habitar que tenha algum alimento de alta qualidade, tais como folhas, gramíneas, frutas e sementes. Se tiverem muito alimento em sua moradia, eles podem até formar um casal, mas na maioria dos casos eles vivem solitários e só se juntam quando precisam acasalar. Depois que eles acasalam e a fêmea dá à luz, o filhote ficará deitado na grama alta por aproximadamente 3 meses, com a mãe apenas movendo-o para afastar os rastros de cheiro, de modo que os predadores tenham dificuldade em encontrá-los. Até mesmo os adultos usarão o esconderijo como uma forma de defesa.
Nami: Eles gostam de ficar sozinhos, mas se unem durante o acasalamento e quando a fêmea cuida de seu filhotinho. Por isso, é difícil vermos dois campestres juntos. E, no céu, eles ficam separados, mas próximos, um de cada lado do caminho de cinzas.
Naju: E onde eles estão no céu?
Nami: Eles ficam mais pro Norte, enquanto os ovos de formiga-cupim ficam mais pro Sul, lembra? Eles ficam um de cada lado do caminho de cinzas.
Naju: Mas onde?
Nami: Uma maneira boa de achar o casal de antílopes celestes é olhar para a região do Sol nascente quando a estrela dos ovos de formiga-cupim estão se pondo na região do Sol poente no mes de julho. A estrela dos ovos fica mais ao sul do poente. E os antílopes ficam mais ao norte do sol nascente.
Naju: E quando podemos vê-los?
Nami: Aqui na terra, eles aparecem muito no final da estação da seca, com a mata mais rala nessa época, eles precisam procurar comida e fica mais fácil encontrá-los nas caminhadas. Em agosto, as estrelas nascem no inicio da noite. Elas nascem um pouco ao norte do nascente (leste).
Nami: Os nossos ancestrais dizem que elas gostam muito de se exercitar, saltando coisas. No céu, elas dão um salto de costas no ponto cardeal Norte.
Nami: Conseguiu acompanhar o salto que ele fizeram? Observe bem onde ele nasceu, por onde passou e onde ele vai se por. Não é um pulo no Norte celeste?
Naju: É isso, eles são mesmo grandes saltadores!
Nami: De agosto a dezembro, eles vão saltando o Norte, cada vez mais cedo. Até que não conseguimos mais ve-los durante a noite.
Curiosamente, nas terras de Pindorama, povos do tronco linguístico tupi-guarani tem a Constelação da Anta do Norte que também dá um “salto” por cima do horizonte Norte. A estrela que fica na perna direita do antílope é exatamente o nariz da Anta do Norte.
Naju: E quando conseguimos avistar os antílopes campestres novamente?
Nami: Se voce acordar bem cedo, antes do Sol nascer no início de março, poderá avistar o casal de Antílopes Celestes, um de cada lado do caminho de cinzas. Cada um em seu território celeste. Mas eles estarão bem perto do horizonte.
Nami: Com o passar das horas, eles vão subindo e girando no céu, mas com o nascimento do Sol, não conseguimos mais ver o casal de antílopes campestres.
Nami: Mas a melhor noite para ver o casal santando o Norte, é no final de julho e início de agosto. Eles nascem logo depois do por do Sol e poderemos ver o salto completo durante a noite, até eles se porem!
Naju: Eu não vou aguentar esperar até agosto! E, vovó, o vovo me disse uma vez que tinha muitos antílopes no céu? É verdade? Existem outros?
Nami: Sim, a família de seu avo veio lá do norte. Lá, eles dizem que existem mais dois antílopes no céu, mas que eles não brilham muito e se escondem dos predadores celestes e parecem pequenas nuvens claras no céu.
Naju: Eu acho que já sei onde estão. São aquelas duas nuvenzinhas que aparecem perto da estrela dos ovos de formiga?
Nami: Essas mesmas, elas não são como as estrelas, parecem nuvens brilhantes e, por isso, são mais difíceis de serem vistas. Nossos ancestrais dizem que elas são como os antílopes campestres quando se escondem nas matas e arbustos. Quando os campestres ficam parados entre a mata e arbustos, são bem difíceis de avistar.
Naju: E eles são um casal também ou uma mãe e seu filhote?
Nami: Alguns parentes acham que a mancha maior é uma parte do céu onde cresce grama macia e sem espinhos, ideal para fazer camas de dormir. E, também, são um bom lugar para a caça. Eles dizem que a mancha maior é o macho e a menor, a fêmea.
Naju: Sim, mas eu ainda acho que parecem uma mãe e seu filhotinho escondidos para os predadores não pegarem o filhotinho.
Naju: E quando elas aparecem ?
Nami: Elas estão próximas da estrela dos ovos de formiga, portanto, são fáceis de ver quando a estrela dos ovos de formiga-cupim aparece durante a noite! Elas estão bem visíveis nas noites de janeiro.
Naju: Vou sempre procurá-las quando avistar a estrela dos ovos de formiga-cupim! Mas vovó, no caminho das cinzas, existe também duas estrelas muito brilhantes que parecem os dois olhos dos animais quando os seus olhos brilham na escuridão, elas também têm histórias?
Nami: Sim, mas vamos deixar para outra noite. Vamos dormir!
Naju: Boa noite, vovó.
Nami: Boa noite, sonhe com o casal de estrelas!
Naju: Eu vou sonhar também com os antílopes escondidos, mas como mãe e seu filhotinho…