Capa: Tubos para mirar. Parque Astronômico La Punta.
Série AST: Astronomia sem Telescópio. Instrumentos.
Adaptado de Horacio Tignanelli, El Solar de las Miradas, no Parque Astronómico La Punta. PALP.
Manuscritos medievais mostram astrônomo observando os astros por meio de um longo tubo que sustenta na mão ou fixado em um pé vertical.
Ainda que essas ilustrações despertem a suspeita do instrumento em questão ser uma espécie de primitivo telescópio, os historiadores da ciência e a tecnologia consideram que os indícios a respeito são débeis e duvidosos simplesmente pela grande improbabilidade do telescópio ter sido criado em tempos tão remotos (ou seja, um tubo com lentes de qualidade e adequadas em suas extremidades). Em geral, as ilustrações se tratam de pequenas imagens, miniaturas, que acompanham os textos astronômicos.
Na análise dessas ilustrações, os investigadores diferenciam dois grupos de “Tubos Astronômicos para Mirar”, a saber:
- Tubos de sustentação. Estas ilustrações se referem a um texto de Gerberto d’Aurillac (Papa Silvestre II, 999-1003) em um manuscrito de São Galo do ano 982. O instrumento é apresentado como um artefato usado para identificar e observar o polo celeste elevado. Dado que é originário do hemisfério norte, se observa que o tubo está dirigido à estrela polar por um mestre, de modo que seus estudantes pudessem ver e aprender sem erro de qual estrela se tratava.
- Tubos manuais. O segundo grupo de miniaturas se trata de tubos que não estão apoiados em nenhuma sustentação, e por isso, dificilmente teriam tido a mesma utilidade que os anteriores. Infelizmente, não foi encontrado nenhum texto que descrevesse um instrumento similar. Talvez esses tubos servissem para concentrar os raios de luz das estrelas, uma ideia de acordo com os conceptos ópticos aristotélicos, dominantes na época. Além disso, em algumas ilustrações o tubo era substituído por uma “vareta mágica”, coerente com a ideia de “astrônomo-mago”.
Gerbert d’Orlhac nasceu em meados do século X na Occitania (França) de uma família muito humilde. Ele era um rapaz esperto.
Para poder seguir uma carreira eclesiástica, seu pai o colocou sob a proteção da nobreza. Naquela época, o melhor lugar para estudar era perto da fronteira com os árabes.
Gerbert foi a Vic, Ripoll e Barcelona (Espanha) para estudar o “Quadrivium” (as quatro áreas da Matemática grega: Astronomia, Música, Geometria e Aritmética). Quando se tornou professor, construiu modelos astronômicos, como esferas armiladas, planisferas e outros aparelhos, feitos para mostrar aos estudantes o movimento das estrelas. Seu notável conhecimento científico, muito avançado para seu tempo, e a ignorância do povo, é a fonte de várias lendas.
Dizem que Gerbert sabia de tudo graças a uma “cabeça de ouro” dada a ele pelo diabo, e ele poderia responder a todas as perguntas. Alguns disseram que ele descobriu um tesouro graças a um pacto com o diabo. Em Roma havia uma estátua que apontava com um dedo em direção a um tesouro escondido e uma inscrição dizendo “tente aqui”. As pessoas se esforçaram, mas ninguém conseguiu localizar o tesouro. Gerbert, esperto como ele era, descobriu como interpretá-lo. A pista era a sombra do dedo ao meio-dia. Foi assim que ele encontrou a entrada de um Palácio cheio de ouro.
No entanto, apesar das lendas, Gerbert d’Orlhac, por seus próprios méritos, tornou-se o Papa Silvestre II, o Papa do novo milênio, em um tempo muito sombrio para a ciência. Ele estava entre aqueles que introduziram o “zero” na Europa. Graças aos seus esforços, uma nova maneira de entender a ciência estava amanhecendo. Devido à sua ânsia de aprender, seu talento em didática e pedagogia, seu rigor intelectual e sua determinação em superar todos os tipos de dificuldades, Gerbert serviu como uma ponte entre a tradição cristã e a islâmica.
NO EL SOLAR DE LAS MIRADAS
No El Solar de las Miradas foram incluídos um Tubo para Mirar de cada tipo, entre os instrumentos de mão guardados na Torre de Observação. Os visitantes podem usa-los para dirigir seu olhar a um único astro.
- O Tubo manual foi construído com um cano cilíndrico de 2,5 cm de diâmetro e 80 cm de comprimento; tendo colocado em seus extremos um veludo para que o apoio contra o rosto do observador fosse suave e cômodo.
- O Tubo de sustentação possui as mesmas dimensões que o anterior, porém foi montado sobre um pé metálico, mediante uma ferragem que permite seu movimento e ajuste vertical.
- O pé de sustentação consta de um eixo vertical, de 170 cm de altura, que acaba em um tripé.