por Aline Santos e Paulo Henrique Colonese, 24 de abril de 2020.
Todo ano, no último domingo do mês de abril, comemora-se o Dia Mundial da Fotografia Pinhole e, para celebrar esse dia, contaremos um pouco sobre:
- o que é uma câmera pinhole,
- o que a torna especial.
- como ela funciona,
- e como o dia mundial foi criado?
O que é uma Câmera Pinhole?
Pinhole, em sua tradução literal, significa “furo de alfinete”.
“Câmera Pinhole” é o nome dado a uma câmera de observação ou fotográfica artesanal que utiliza a formação de imagens pela luz que atravessa furos muito pequenos e alguns materiais básicos.
- As de observação são bem mais antigas e permitem formar imagens dentro de diferentes ambientes desde pequenas caixas até salas ou quartos (câmaras).
- As fotográficas utilizam filmes fotográficos para criar fotografias sensacionais. E se desenvolveram a partir da apropriação das técnicas fotográficas por artistas-fotógrafos.
Ela se distingue, principalmente, por não possuir lentes. E ela ser capaz de produzir imagens coloridas e divertidas surpreende a todos que a constroem, observam ou criam fotografias pelo furo de um alfinete.
Quem criou o termo câmera “pinhole” foi o físico David Brewster, mas ela também é conhecida como Câmera Estenopeica (estenopo = furo).
Sua estrutura tem de ser feita com um recipiente que evite a entrada de qualquer outra luz – que não seja a do furo de alfinete – como, por exemplo: uma lata de alumínio; caixa de papelão, de fósforo ou de madeira, entre outros. E a abertura para a passagem de luz é um pequeno furo feito com a ponta de um alfinete!
Sugerimos a visualização do episódio Câmera na Lata neste vídeo do Manual do Mundo para entender o processo de montagem e de como usar a Câmera Pinhole:
Utilizando os conceitos físicos das câmaras escuras, sua origem nos leva aos primórdios da fotografia, no século XIX.
A difusão da fotografia tornou obsoleta a produção de retratos por meio da pintura a óleo e, consequentemente, deixou diversos pintores sem fonte de renda. E, ao mesmo tempo, começaram a surgir movimentos que iam contra a fotografia popularmente praticada, buscando alternativas e novas formas de expressar-se artisticamente por meio da fotografia.
Entre esses movimentos, encontramos a fotografia Pinhole. Seu uso acabou se tornando muito popular e as câmeras Pinhole passaram a ser vendidas comercialmente em fins do século XIX.
Para os participantes desses movimentos, a fotografia não era apenas uma técnica rápida de se captar o momento e, com isso, procuravam aproximar as fotografias das técnicas utilizadas em pinturas artísticas.
Um exemplo de fotografia pinhole desse movimento é a capturada pelo fotógrafo George Davison (1854-1930) em 1890.
Em tempos de redes sociais e câmeras de tecnologias avançadas ao alcance de nossas mãos, o que torna a câmera pinhole tão especial para alguns?
Podemos dizer que uma possível resposta a essa pergunta é todo o processo que a envolve, desde a sua montagem até a compreensão de como a imagem final é obtida, ou seja, toda a experiência pessoal por trás do uso dessa câmera é que a torna especial.
O fotógrafo-artista e educador Bira Carvalho expressa essa relação com a fotografia pinhole de modo crítico e encantador no vídeo de apresentação de seu curso de fotografia pinhole.
E, como recordação dessa experiência pessoal, obtemos imagens únicas e diferenciadas!
O fotógrafo-artista Luiz Alberto Guimarães também discute a fotografia pinhole do ponto de vista da fotografia-arte.
Mas como ela funciona?
As câmeras pinhole utilizam as propriedades físicas de formação de imagens por um orifício e as propriedades químicas de diferentes materiais fotossensíveis, desde o papel fotográfico até papéis e materiais alternativos.
A figura abaixo, de forma esquemática, mostra o funcionamento de uma câmera pinhole.
- O objeto a ser fotografado precisa estar bem iluminado.
- Ele reflete os raios de luz que chegam até ele em várias direções.
- Esses raios refletidos seguem em linha reta e uma parte deles chegam ao furo de alfinete e o atravessa.
- O feixe de luz que atravessa o furo, vindo de um ponto do objeto (por exemplo, seu dedão do pé) atinge – pela trajetória retilinea – o alto da tela colocada dentro da câmera.
- Se tivermos na tela um papel fotossensível, ele poderá registrar a imagem formada do objeto.
Pelo fato dos raios seguirem esse caminho retilíneo, a imagem formada aparece de ‘cabeça para baixo’ e com a esquerda e direita trocados. Esta dupla reflexão (horizontal e vertical) é chamada de inversão.
Analisando a ilustração, observamos que o raio refletido pela ponta do chapéu (A) do homem passa pelo furo e atinge a parte de baixo do painel. Do mesmo modo, o raio refletido pelo pé do homem, passa pelo buraco e atinge a parte de cima do painel. O mesmo ocorre com os raios refletidos do lado direito e esquerdo. Os raios refletidos pelo lado direito atingem o lado esquerdo do painel e vice-versa. Daí, as imagens serem totalmente invertidas! Um efeito que torna a sua observação bem divertida!
O tamanho do furo: algo a investigar!
O furo feito com o alfinete é de extrema importância para o bom funcionamento de uma câmera pinhole e acaba sendo a principal característica dessa câmera. E por que tem de ser um alfinete?
Porque o diâmetro do furo (“largura”) é o responsável pela passagem dos raios de luz, determinando a quantidade de luz (energia) que vai atingir o papel fotossensível.
Além disso, o diâmetro do furo também determina uma importante característica das imagens: a nitidez da imagem. Quanto maior for o furo, pior a nitidez da imagem. Quanto menor, melhor a nitidez da imagem formada próximo ao furo da câmera.
Para entender a primeira propriedade (a intensidade da imagem), vamos imaginar a seguinte situação: em um dia ensolarado você está em uma sala que possui duas janelas de tamanhos diferentes. Quando a janela maior está aberta e a menor completamente tampada, a sala é bem iluminada pois a janela maior permite a passagem de uma grande quantidade de raios de luz. Se a janela maior for completamente tampada e a menor for aberta, você perceberá que a sala ficará bem menos iluminada, pois o tamanho da janela funciona como uma filtro para esses raios de luz.
De forma similar, quanto maior for o furo feito na câmera pinhole, mais raios de luz conseguirão passar por ele, fazendo com que mais luz atinja o painel. Porém, se usarmos um papel fotossensível, ele deve ser exposto a uma quantidade de luz adequada para que ele não reaja de forma a queimá-lo ou que não gere uma imagem intensa. Por isso, o furo de alfinete é o ideal para esse tipo de câmera, pois seu pequeno diâmetro permite a passagem de pouca quantidade de luz.
Controlamos isso com tempo de exposição para que a quantidade de luz que atinge o papel fotossensível seja a quantidade adequada. Com isso, quanto mais ensolarado estiver o dia, menos tempo temos de deixar papel exposto.
Você poderá investigar isso com mais detalhes por meio de pesquisas, onde é possível encontrar relatos sobre aproximações de tempo de exposição em dias ensolarados, nublados entre outros, mas a parte divertida é você mesmo(a) testar os intervalos de tempo. Em breve, voltaremos a essa questão no nosso site!
E quem criou o Dia Mundial da Fotografia Pinhole?
Os estudos e curiosidades sobre as câmeras e fotografias pinholes são muitos e não se limitam ao que foi exposto aqui. Inúmeros artistas, fotógrafos e apaixonados pelas câmeras pinhole apresentam olhares inusitados, criam efeitos mirabolantes, constroem câmeras com formas inesperadas e nos surpreendem com fotos incríveis.
Em meados do século XX, vários fotógrafos da Europa e dos Estados Unidos começaram a experimentar de forma independente as técnicas de pinhole. Na década de 1970, a fotografia pinhole tornou-se popular novamente, com o desenvolvimento de uma variedade e estilos de câmeras. Na década de 1980, algumas exposições nacionais e internacionais mostravam a fotografia pinhole, e as câmeras pinhole comerciais foram fabricadas novamente.
Com o estabelecimento da Internet, os fotógrafos e artistas de pinhole começaram a publicar seus trabalhos on-line nos anos 90.
Então, em 2001, foi realizado o primeiro Dia Mundial da Fotografia Pinhole , incentivando fotógrafos de diferentes países a contribuir e divulgar imagens incríveis obtidas por câmeras pinhole.
Convidamos vocês a deixarem suas opiniões sobre o universo das câmeras pinholes nos comentários e desejamos a todos um
FELIZ DIA DA FOTOGRAFIA PINHOLE!
REFERÊNCIAS
- Site do Dia Mundial da Fotografia Pinhole http://pinholeday.org/.
- Conheça a galeria com mais de 2000 fotos divulgadas por diferentes artistas e fotógrafos em 2020, visite http://pinholeday.org/gallery/2019/index.php?page=1 .
- Calaça, Mariana Capeletti. Pinhole revisitada: manifestações neopictorialistas na fotografia contemporânea brasileira, 2013. xv, 93 f. : il. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/3113/5/Cala%C3%A7a%2C%20Mariana%20Capeletti.pdf.