Leeuwenhoek: Descobri Criaturas Vivas, 1676

Leeuwenhoek: Os primeiros anos

Fonte: Lens on Leeuwenhoek, Douglas Anderson.

Em 1676, Leeuwenhoek escreveu dez cartas, todas – exceto duas – para Henry Oldenburg. Uma foi direto para Robert Boyle. Outra, para Constantijn Huygens, que continha um trecho da carta de 9 de outubro.

As cartas de antes de 9 de outubro são fundamentalmente respostas detalhadas de Leeuwenhoek às cartas a Johan van Beverwijck, Nehemiah Grew e Robert Boyle.

Observando Águas de Várias Fontes

Leeuwenhoek teve um verão agitado em 1676, fazendo observações diárias da água de várias fontes para descobrir:

  • Quando e em que condições os pequeninos “animais” apareciam.
  • De onde eles vinham?
  • Quantos eram?
  • Quanto tempo eles viviam?

O resultado desse estudo foi a carta de 9 de outubro, que apresentou uma quantidade convincente de evidências para o mundo microbiano que só ele havia explorado.

JANEIRO

Leeuwenhoek escreveu em mais uma carta inédita durante sua vida, datada de 22 de janeiro (AB 20), sobre suas dificuldades em encontrar alguém em Delft para traduzir as cartas de Oldenburg e artigos de Transações Filosóficas para o holandês. Ele deu instruções para receber pacotes de  Transações Filosóficas enviados por sua irmã Catharina em Roterdã. Ele acrescentou:

De levende schepselen int water bij mij ontdeckt is ordinair Hemelwater dat vande pannedacken in steene backen onder de aerde ofte in tonnen gevangen wort, alsmede in het put off bornwater dat uijt het wel-sant opcomt, jtem in het gracht water dat door dese stadt en door het lant loopt, hier van heb ick verscheijde aenteijckeningen gedaen, soo van haer courluer, gedaente, de delen waer uijt haer lichaem is te samen gestelt, bewegingh, en schielijcke verbrijselingh van haer gantsche lichaem.

As criaturas vivas na água que eu descobri em águas pluviais comuns foram coletadas dos telhados de telhas em cisternas de pedra abaixo do solo ou em barris, como também de água que subia do solo, e também na água do canal que atravessa esta cidade e pelo país. Eu fiz várias anotações, então de sua cor, forma, as partes em que seus corpus são compostas, os movimentos, e o rompimento repentino de todo o corpo.

Essas notas resultaram na longa carta datada de 9 de outubro, aquela que o tornaria mais famoso.

FEVEREIRO

Sua próxima carta, datada de 22 de fevereiro (AB 21), também não publicada, é cheia de observações sobre o cabelo, os chifres e os ossos. Leeuwenhoek escreveu para Oldenburg:

Eu soube que o Sr. Hooke falou sobre o cabelo para você. Terei o prazer de aprender sobre nossas diferenças. Quando eu estiver melhor informado, estou disposto a desistir da minha opinião e aceitar a opinião do Sr. Hooke. Por favor, dê-lhe meus melhores cumprimentos.

Ele passa a segunda metade desta longa carta refutando o médico e filósofo holandês Johan van Beverwijck sobre as características do cabelo. Para fechar, ele escreve

Senhor, originalmente eu tinha a intenção de lhe contar das criaturas vivas na água… Mas para não estender esta carta por muito tempo eu vou parar e permanecer, …

Quadro de Johan van Beverwijck (1594-1647) por Jan Olis.

Na segunda carta, em uma coluna, ele apresenta as criaturas vivas. Talvez suas observações iniciais levantassem muitas questões sem respostas. Em um mês, ele começou um longo programa de verão para descobri-las. Mas, primeiro, ele teve que responder ao botânico Nehemiah Grew.

Nehemiah Grew (1641-1712), Botânico britânico. Pai da Anatomia das Plantas. Colorizado, baseado em gravura de Robert White, (. .1645-1703).

ABRIL

Sua próxima carta, datada de 21 de abril (AB 22), foi a única publicada no volume 11 de Transações Filosóficas. Ele apresentou suas observações sobre o sistema vascular de uma fina seção de um ramo de um ano de idade de um freixo (árvore).

Monsieur Constantijn Huygens de Zulichem teve o prazer de me mostrar a Anatomia Comparativa dos Troncos das Plantas, escrita por Doctor [Nehemiah] Grew, e me disse, que ele tinha muito engenhosamente e estudiosamente discursado sobre esse assunto; embora eu, por causa da meu pouco domínio da língua inglesa, pudesse apenas me contentar de ver os elegantes desenhos dos cortes.

Leeuwenhoek seguiu com mais de duas páginas explicando seu diagrama (ver abaixo), muitas vezes comparando suas observações às de Grew explicita e implicitamente. Ele terminou:

Peço o seu favor, Senhor, de comunicar isso ao Dr. Grew, com meus cumprimentos a ele, e lhe perguntar, se ele conseguiu viu [os detalhes] tão bem quanto eu… Uma resposta cujos detalhes eu ficaria muito feliz em receber do referido Doutor.

Quando publicada no número de 18 de julho de Transações Filosóficas, a explicação de Leeuwenhoek tinha vinte e sete referências numeradas dentro dela, adicionadas por Grew, que lhe forneceu suas anotações após o pedido de Leeuwenhoek. As notas, desde a descrição original de Leeuwenhoek, respondiam em grande detalhe, às vezes confirmando, às vezes contradizendo suas observações. Embora tais respostas detalhadas tenham sido comuns durante as reuniões da Sociedade, não conseguimos encontrar outra instância nas primeiras Transações Filosóficas de um artigo com uma resposta detalhada ponto a ponto imediatamente a seguir o artigo.

Ao final da carta, entre suas observações sobre o ramo de freixo e a resposta de Grew, há um parágrafo sobre “algum vinho francês, … que tem um gosto muito delicado. Leeuwenhoek continuou:

Eu tenho mergulhado um bom tempo nesse vinho, observando pequenas criaturas vivas, em forma de pequeninas enguias. … Essas criaturas eu guardei para meu estudo durante um mês inteiro, permanecendo nadando no vinho. E embora elas se movam intensamente, apesar de percorrerem poucas distâncias, e qualquer que seja a causa, elas são bastante destituídas de pernas.

A resposta de Grew foi toda sobre o ramo de freixo, sem nenhum comentário sobre as “pequenas criaturas vivas”.

ABRIL, 1676

Três dias após o envio da carta de 21 de abril de 1676, Leeuwenhoek começou a registrar uma série de observações que durariam até o final de setembro. A carta que relata tudo à Sociedade Real também incluía duas observações anteriores, uma delas em andamento.

EXPERIMENTOS ANTERIORES

infusão preparação início fim duração obs.
Chuva1 água de chuva durante alguns dias em tubo15 set., 1675     1
Poço 1675 1676 indeterminado 23

Na água da chuva, ele viu Vorticella, um ciliado oval, um longo “coce” e Monas.

Na água do poço, ele não via criaturas vivas.

Vorticella. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0f/Vorticella_by_David_J._Patterson.jpg

EXPERIMENTOS INICIADOS EM ABRIL

infusão preparaçãoiníciofimduração Obs.
Pimenta 1 3 oz de pimenta inteira em água da neve 3 de abril 24 de abril 3 semanas 31
Pimenta 2 1/2 oz de pimenta inteira em 2 1/2 oz de água de neve em xícara de chá de porcelana 26 de abril 1º de junho 5 semanas 32 – 50

Leeuwenhoeck sempre foi curioso sobre o que causava a ardência nas pimentas. Na observações da Pimenta 1, em 24 de abril, ele observou Bodo caudatus (flagelados), cíclidium, vorticellas, bactérias, bacilli em grande quantidades. Nas observações da Pimenta 2, em 26 de abril, ele não observou nada.

Em maio, Leeuwenhoek fez grandes descobertas minúsculas, mas essa é uma história à parte…

Fonte: Tradução e adaptação de Eu Descobri Criaturas Vivas, https://lensonleeuwenhoek.net/content/1676-i-discovered-living-creatures