Poemar: Horizonte

Imagem da capa: Pássaro voando com por do Sol no horizonte. Acervo Banco de Imagens Pxhere. Licença Dedicação ao Domínio Público.

Horizonte

Fernando Pessoa, Horizonte em Mensagem. s.d. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934. Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972.  – 58.

 

Ó mar anterior a nós, teus medos

Tinham coral e praias e arvoredos.

Desvendadas a noite e a cerração,

 

As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério

’Splendia sobre as naus da iniciação.

 

Linha severa da longínqua costa —

Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;

 

Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:

E, no desembarcar, há aves, flores,

Onde era só, de longe a abstracta linha.

 

O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esp’rança e da vontade,

 

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —

Os beijos merecidos da Verdade.

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