Han Kang: O que é ser humano?

Texto adaptado de publicação da Might Girl.

Han Kang em SIBF 2014. Ccmontgom. 21 Jun. 2014,
Acervo Wikipédia. Licença CC-BY-SA-3.0

Han Kang é uma escritora sul-coreana, nascida em 1970, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2024 – tornando-se a primeira escritora sul-coreana a receber esta prestigiosa honra!

A Academia Sueca reconheceu Han por “sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana” (Fundação Nobel). Ela é muito conhecida por seu romance surreal e subversivo “The Vegetarian” (A Vegetariana), que ganhou o International Booker Prize em 2016, Han foi celebrada como uma visionária na literatura sul-coreana. Visite seu site oficial em https://han-kang.net/Books-All.

O trabalho de Han muitas vezes lida com temas de violência, trauma e condição humana, influenciados por eventos como a Revolta de Gwangju em sua cidade natal.

Em maio de 1980, na cidade sul-coreana Gwangju, o exército reprimiu um levante estudantil, causando milhares de mortes. Entre os sobreviventes está o menino Dongho, de apenas quinze anos, que busca seu melhor amigo em meio às vítimas num ginásio onde os cadáveres estão à espera de reconhecimento. A história desse trágico episódio se desdobra em uma sequência de capítulos conectados à medida que vítimas e enlutados encontram a supressão e a negação do terrível massacre. O evento de trágicas consequências foi transfigurado nesta ficção extraordinária, poética, violenta e repleta de humanidade. (Editora Todavia)

Seus romances, incluindo “Human Acts – Atos Humanos” e “Greek Lessons – Lições Gregas”, remodelaram o cenário literário na Coreia do Sul e inspiraram uma nova geração de escritores.

A escrita de Han é conhecida por sua natureza experimental e perspectiva feminista, com obras como “The White Book – O Livro Branco” explorando o luto e a memória, e “Greek Lessons – Lições de Grego” investigando a linguagem e a comunicação.

Sua capacidade de misturar o pessoal com o político lhe rendeu aclamação da crítica tanto na Coreia quanto internacionalmente. Refletindo sobre seu processo de escrita, Han disse uma vez:

“Quando escrevo romances, sempre volto ao tema do que significa ser humano”.

O que é Ser Humano? Discutindo em sala de aula

A Fundação Nobel disponibiliza uma atividade educativa sobre a obra e temática da autora para a sala de aula. Veja a proposta educativa na seção de Lissões Nobel, criada para difundir o trabalho dos Nobelistas.

Acesse a atividade educativa em https://www.nobelprize.org/nobel-prize-lessons-literature-2024/.

Além disso, poderá conhecer seus livros, com 3 deles já publicados em português.

Para descobrir o trabalho de Kang, recomendamos:

– “Human Acts” (https://amzn.to/4h5PsLq), já traduzido para português pela Editora Todavia (Atos Humanos, https://todavialivros.com.br/livros/atos-humanos-premio-nobel-da-literatura-2024)

Trecho do livro (Editora Todavia) Nossos corpos estavam empilhados uns sobre outros, em cruz. O corpo de um homem desconhecido estava em cima da minha barriga; atravessado em um ângulo de noventa graus, sobre a barriga do homem, o corpo de um jovem desconhecido, também atravessado em um ângulo de noventa graus. O cabelo do jovem tocava meu rosto. O joelho do jovem estava apoiado no meu pé descalço. Eu conseguia ver tudo isso, pois eu cintilava, ainda colado ao meu corpo. Eles se aproximaram. Rápidos, usando uniforme militar camuflado e capacete, com divisas no braço. Eles, em duplas, começaram a levantar nossos corpos e a jogar no caminhão militar. Com um movimento mecânico, como se carregassem sacos de cereais. Para não perder meu corpo, subi, cintilando, no caminhão, pendurando-me às bochechas, ao pescoço. Estranhamente, eu estava sozinho. Quer dizer, não podia encontrar os espíritos. Por mais que tenha espíritos em todo lugar, não podíamos nos ver ou sentir. A promessa de que nos encontraríamos no outro mundo era oca. Meu corpo, junto com os outros corpos, foi carregado, balançando em silêncio. De tanto derramar sangue, meu coração parou, e o meu rosto, que ainda continuou a verter sangue, mesmo depois de o coração ter parado, estava fino e transparente como papel. Pareceu ainda mais desconhecido, pois foi a primeira vez que vi meu rosto de olhos fechados. A noite avançava a cada instante. O caminhão, que havia saído da cidade, corria pela rua vazia, no meio do campo escuro. Ao subir o morrinho arborizado de carvalhos, surgiu um portão de ferro. Quando o caminhão parou por um momento, dois guardas se cumprimentaram com uma continência. Ecoou um som longo e agudo de metal — uma vez, quando os guardas abriram a porta, outra vez, quando a fecharam. O caminhão subiu o morro um pouco mais e parou no terreno baldio entre o prédio de concreto de um andar e o bosque de carvalhos.

– “The White Book – O Livro Branco, já traduzido para português pela Editora Todavia (https://todavialivros.com.br/livros/o-livro-branco-premio-nobel-da-literatura-2024).

Em algumas culturas orientais, o branco é a cor do luto. Mas igualmente é a cor que permite a reescritura de nossas próprias histórias. Neste livro, construído a partir de silêncios, pensamentos concentrados e intensa poesia, Han Kang mergulha em uma delicada indagação literária e busca entender, através da descrição de coisas do cotidiano, a dor que sempre sentiu pela ausência de uma irmã que nunca chegou a conhecer. É por meio desse léxico que a narradora avança na releitura de sua própria história. Cada capítulo recebe o nome dessas coisas brancas. E rememoram, por meio de uma prosa habilmente arquitetada, aquilo que Camões definiu como “a grande dor das coisas que passaram”. (Editora Todavia)

– O vencedor do Booker Prize “The Vegetarian”, já traduzido para português pela Editora Todavia (A Vegetariana, https://todavialivros.com.br/livros/a-vegetariana-premio-nobel-da-literatura-2024 )

Trecho do livro (Editora Todavia) Em certas ocasiões cheguei a pensar que não era tão ruim assim viver com uma mulher esquisita. Vivíamos como dois estranhos. Estranhos, não: ela era como uma irmã, que faz comida e faxina a casa. Ou uma criada mesmo. Mas na minha idade, apesar do casamento morno, ficar em abstinência sexual por muito tempo era difícil de aguentar. Nas noites em que voltava tarde depois de algum jantar de negócios, eu me jogava sobre ela, com a desculpa da embriaguez. Chegava até a sentir uma inesperada excitação ao tirar a calça dela, segurando seus braços, que resistiam. Dizia-lhe obscenidades a meia voz; ela resistia bravamente, mas a cada três tentativas eu conseguia penetrá-la ao menos uma vez. Durante a penetração, ela ficava olhando para o teto em meio ao escuro, com uma expressão vazia, como se fosse uma escrava sexual forçada a isso em tempos de guerra. Assim que eu terminava, ela se deitava de lado, me dando as costas, e escondia o rosto com o lençol. Em seguida, eu entrava no banho, e ela parecia se limpar. Quando eu voltava para a cama, ela já estava outra vez deitada de barriga para cima, com os olhos fechados, como se nada tivesse acontecido. Então me vinha uma inexplicável sensação de que algo ruim ia acontecer. Nunca fui do tipo de ter esses achaques, mas o silêncio e a escuridão do quarto me davam calafrios.

– – Greek Lessons (https://amzn.to/3zXAs1s),

– E seu próximo romance “We Do Not Part” (https://amzn.to/4874vQZ),

Para livros para jovens leitores sobre a vida das meninas coreanas, recomendamos:

– “Seesaw Girl” para idades de 8 a 12 anos (https://www.amightygirl.com/seesaw-girl),

– “Brother’s Keeper” para idades de 10 a 13 anos (https://www.amightygirl.com/brother-s-keeper),

– “When My Name Was Keoko” para maiores de 10 anos (https://www.amightygirl.com/when-my-name-was-keoko),

– E “A Step from Heaven” para maiores de 12 anos (https://www.amightygirl.com/a-step-from-heaven)

Para leitores adolescentes, confira:

– “Almost American Girl: An Illustrated Memoir” para maiores de 14 anos (https://www.amightygirl.com/almost-american-girl)

– e “The Silence of Bones” para maiores de 15 anos (https://www.amightygirl.com/the-silence-of-bones)

E para leitores adultos, recomendamos:

– “Daughters of the Dragon: A Comfort Woman’s Story” (https://www.amightygirl.com/daughters-of-the-dragon),

– “A Thousand Miles to Freedom: My Escape from North Korea” (https://www.amightygirl.com/a-thousand-miles-to-freedom),

– “In Order To Live: A North Korean Girl’s Journey to Freedom” (https://www.amightygirl.com/in-order-to-live).

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