Capa: Dra. Marta Vannucci em 2019.
A matéria é extraída do artigo de Heitor Shimizu | Agência FAPESP, 18 janeiro 2021. Agência FAPESP, sob a licença CC-BY-NC-ND.
O material dessa Coleção foi traduzido para português do Projeto Oceánicas que desenvolve várias atividades para celebrar e preservar o Oceano.
Um dos trabalhos do projeto é Oceánicas: pioneras de la oceanografía onde contam a história de 10 cientistas ilustres, algumas delas bastante esquecidas e desconhecidas. Desde a primeira e única mulher que deu a volta ao mundo durante a época das grandes explorações até mulheres atuais que lideram a luta pela Conservação do Oceano – grande sonho da Década do Oceano (2021-2030) que iniciou em 2021.
Todas as Oceânicas são referências maravilhosas, necessárias e inspiradoras às jovens que sonham ser cientistas e pesquisadoras marinhas. A Mudança Climática, a Sobrepesca e a Contaminação ameaçam transformar o oceano para sempre. Isto torna o acesso equitativo de mulheres e homens a todos os campos das ciências marinhas, incluindo a sua presença em postos de responsabilidade, mais necessário do que nunca.
Temos um desafio enorme e precisamos contar com todos os talentos da humanidade, Para nos inspirar, vamos conhecer as mulheres oceânicas, as Argonautas do Oceano.
Conheça as grandes estudiosas e defensoras do Oceano em diversos campos da ciência e da vida. Vamos “girar” pelas grandes correntes marítimas do Oceano Terrestre. E incluímos também, oceânicas pioneiras do Brasil.
Nesta aventura, vamos conhecer a bióloga Marta Vannucci, uma das fundadoras do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), que morreu em 15/1/2021, em São Paulo, aos 99 anos.
Marta foi a primeira mulher membro titular da Academia Brasileira de Ciências.
“A professora Marta teve um papel fundamental na formação do Instituto Oceanográfico da USP e na conquista do nosso primeiro navio científico, o oceanográfico Professor W. Besnard. Foi também a primeira mulher a dirigir o nosso instituto”, disse Elisabete de Santis Braga da Graça Saraiva, diretora do IOUSP, à Agência FAPESP.
Nascida em Florença, em 10 de maio de 1921, emigrou para o Brasil em 1927 com a ascensão do fascismo na Itália. Opositor de Benito Mussolini, o pai de Vannucci era médico e livre-docente nas universidades de Pádua e de Florença. No Brasil, foi cirurgião no Hospital Matarazzo e faleceu em 1937 devido a uma infecção contraída em uma cirurgia.
“Se meu pai tivesse vivido, eu provavelmente teria feito medicina e trabalhado com ele. Quem realmente formou minha alma de cientista foi meu pai”, disse Vannucci em entrevista a Academia Brasileira de Letras, em 1993 (leia mais aqui).
Cursou o ensino fundamental no Colégio Dante Alighieri e ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Em 1944, defendeu o doutorado com orientação de Ernest Marcus, professor do Departamento de Zoologia, tendo sido sua assistente de 1944 a 1950.
Foi convidada a fazer parte do Instituto Paulista de Oceanografia, ligado à Secretaria de Agricultura e fundado em 1946. Com o professor Wladimir Besnard e outros pesquisadores, conseguiu que o instituto fosse integrado pela USP como unidade de pesquisa, o que ocorreu em 1951.
“Ela teve um papel fundamental nas discussões políticas e em fazer com que as autoridades reconhecessem a importância da oceanografia para o Brasil”, disse Saraiva.
No IOUSP, Besnard, então diretor, concentrava seus estudos na região de Cananeia, rica em mangues, o que deu a Vannucci a oportunidade de se especializar em ecossistema de mangues. Publicou mais de 100 trabalhos científicos sobre mangues.
Em 1956, recebeu uma bolsa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para conduzir pesquisas na Estação de Biologia Marinha de Millport, na Escócia.
Vannucci dirigiu o IOUSP de 1964 a 1969, tendo negociado a compra e acompanhado a construção do navio de pesquisas Professor Wladimir Besnard.
Na Unesco, implantou um programa de bolsas de estudo para estudantes latino-americanos. Morou na Índia, onde colaborou como coordenadora técnica para um programa de desenvolvimento e atuou na inspeção de ecossistemas costeiros e ricos de mangues.
Recebeu em 1996 a Ordem Nacional do Mérito Científico na classe Grã-Cruz. “Em 2019, tivemos a oportunidade de homenageá-la em uma cerimônia, quando ela lembrou de suas pesquisas e de seu trabalho incansável pela oceanografia brasileira”, disse Saraiva.
Marta Vannucci teve dois filhos, Érico e Dino. O Prêmio Érico Vannucci Mendes foi instituído por ela com o objetivo de reverenciar a memória do filho, estudioso da cultura brasileira, falecido em 1986. Concedido pelo CNPq, o prêmio tem como objetivo a preservação da memória nacional.
Para mergulhar mais na vida e obra dessa Argonauta:
- Entrevista de Marta Vannucci à Comissão de Memória do IOUSP, em 2004.
- Conheça o Museu Oceanográfico da USP.